Este artigo não é recomendado para crianças. 😉
Vamos aos fatos.
Não é possível que um velhinho de barba e roupa vermelha rode em uma noite todo o planeta.
Já sobre a Gestão do Conhecimento podemos dizer que:
1- só é possível fazer a gestão de algo concreto.
De livros, mercadorias, de documentos, até de pessoas, pois elas têm nome, CPF e Identidade, são concretas, palpáveis, existem, são substantivos.
(Mesmo de mercadorias imateriais, como um software é possível, pois existem os códigos que podem ser manipulados.)
2- não faz-se gestão de algo que pode vir a ser, nem do futuro, nem do que passou, como o passado. Não é possível assim administrar sonhos, idéias, conhecimento.
Eles não existem, podem, ou não, ocorrer, são irrreais, possibilidades, são verbos em movimento, que dependem de uma série de circustâncias reais para tornar com a sua ação algo concreto, aí sim, um substantivo gerenciável.
É possível, por exemplo, fazer a gestão do ambiente para produzir novas idéias.
Mas tudo é apenas possibilidades, diminuição de taxa de erro, etc…
Criar um espaço confortável, para proporcionar o bem estar das pessoas;
Perceber, a partir da experiência e dos desejos, aonde cada um pode render mais e como.
(O Caetano gosta de ambientes calmos e pouco agressivos em uma entrevista. Já o Brizola gostava da polêmica.)
Ou seja, cada pessoa tem um potencial e precisa de um determinado ambiente para se sentir confortável para que aquela complexidade toda (emoção, razão, espírito) consiga – a partir de determinadas condições – apresentandos determinados problemas, produzir determinados resultados.
São condicionantes.
Faz-se assim, no máximo, gestão dos potenciais (ou seja das pessoas e do seu perfil), gestão do ambiente, gestão do que foi produzido (informação), mas não do conhecimento que é um algo sempre em processo.
Parafraseando Raul Seixas:
Conhecimento que se sonha junto é informação.
Sim, a meu ver, Gestão do Conhecimento é um mito inventado, que adotamos por um período, mas que já está na hora de superá-lo, pois ele tem gerado mais confusão do que solução.
A Internet com suas ferramentas de colaboração apresenta o tempo todo soluções para a gestão dos potenciais, ao querermos mais e mais saber dos desejos de cada um.
Vide os livros recomendados pela Amazon. A busca personalizada do iGoggle.
A sociedade das mudanças aceleradas pede que a gestão dos potenciais intelectuais seja bem feita, pois é desse criatividade que as organizações ganham competitividade.
E antes que você me pergunte.
Não, não coelhinho da páscoa também não coloca ovos de chocolate.
E você o que acha disso tudo?
Você diz isso agora que estou fechando outro contrato para prestar consultoria em gestão do conhecimento? 😉
Eu concordo plenamente com você, só acrescentaria que para as grandes corporações conhecimento é algo que pode ser capturado do funcionário e armazenado para que elas não percam o conhecimento quando ele ficar muito caro ou decidir abrir seu próprio negócio. Elas confundem informações complexas com conhecimento.
Nos últimos 14 anos venho desenvolvendo o conceito de epistemologia corporativa e tentando passá-lo para os meus clientes, mas é complicado mudar a cultura de empresas grandes.
Em 2003 eu ainda pensava em armazenar conhecimento:
Por volta de 2005 comecei a considerar que o importante é criar um ambiente propício à criatividade e produção de conhecimento baseando-se em 4 bases: relacionamento humano no trabalho, relacionamento humano com o trabalho, gestão centrada no conhecimento e sistemas projetados para facilitar a construção de conhecimento, seu fluxo e renovação.
Cheguei a escrever umas 70 páginas sobre isso junto com a minha esposa (claudiabelhassof.com.br) e agora estou procurando tempo para rever, atualizar e soltar gratuitamente na rede. Fico em dúvida se as empresas já estão prontas para isso, mas creio que soltar o paper é parte do processo de promover essa mudança de paradigma.
Agora, partir da gestão centrada no conhecimento para a sabedoria é um grande passo que eu acho que só acontece com a mobilização dos clientes das grandes corporações! Sei que o post não foi sobre isso, mas adorei sua idéia lançada naquela breve post no Gengibre.
Será que você não está exagerando um pouco em suas afirmações? Minha empresa trabalha com Gestão de Informações. Oferecemos soluções para clientes importantes com Casa Civil e Xerox.
Gabriel Cunha
Calandra Soluções
http://www.calandra.com.br/
Gabriel, gestão da informação é uma coisa, de conhecimento é outra.
Se você quiser chamar preparar o ambiente de conhecimento para gerar inovação de gestão de conhecimento, está tudo certo…
Mas o que questiono aqui é que se um termo é usado de forma equivocada ele pode gerar mais problema do que solução.
Gestão de competências…pode ser…pois é algo palpável…se baseia no passado de cada um.
Vamos discutindo…
abraços
Nepomuceno
Grato pela visita.
[…] Mais sobre o tema. […]
Nepô, gosto dos seus argumentos.
Só não consigo aceitar a idéia que “não faz-se gestão de algo que pode vir a ser, nem do futuro, nem do que passou, como o passado. Não é possível assim administrar sonhos, idéias, conhecimento.”
A idéia de somente gerenciar o que é tangível, físico, material, me incomoda muito.
Entendo que expectativas, ansiedades, tendências podem ser gerenciadas, administradas.
Conhecimento também, até porque como ele é construído, sofre diversos condicionantes, como vc mesmo colocou. Será que o esforço em gerenciar alguns destes fatores condicionantes não poderia ser entendido como gestão de conhecimento? Até porque as trocas ao longo deste processo fazem com que o próprio processo se ajuste ao longo do tempo, gerando conhecimento…
Condicionantes condicionam e não determinam. Enxergo uma linha tênue de separação entre estes conceitos.
O que vc acha?
Grande abraço.
Rodrigo,
muito bons seus comentários, o que nos leva a aprofundar o assunto.
Digamos, que a gestão de conhecimento vem justamente da estreiteza das pessoas por gerenciar a informação.
Como os gestores da informação deixaram as pessoas de lado, resolveram criar outro nome e outra área para esbarrar no mesmo muro.
Que é um problema conceitual básico do que afinal é informação e conhecimento, por isso fiz aquele texto da batata. (Ver no blog)
Para que um processo informacional ocorra é preciso lidar com pessoas, pois só existe informação e conhecimento em relação, todo o resto é vazio.
Não é por mal que fomos estreitando essa visão.
Compreender que qualquer projeto, pequeno ou grande, depende exclusivamente de pessoas é algo difícil de lidar, pois o ser humano é no nosso planeta o ser mais complexo que existe.
Cada pessoa permite mil variantes, humores, situações, condicionamentos, etc….
Um setor específico e deslocado de sua verdadeira função, acaba não tendo força para lidar com esse ambiente propício e cai para o técnico, o pobre, o vazio por falta de pernas…e às vezes, por falta de visão conceitual do problema.
Viram bibliotecários, arquivistas, quando deveriam zelar também pelo ambiente, pois se ninguém vai à biblioteca por falta de motivação, a biblioteca é apenas um lugar para se relaxar, curtir o silêncio e tomar um banho de ar condicionado. 😉
Ou seja, quando se fala em informação e conhecimento, para coisas concretas é assim uma forma de reduzir a dificuldade do problema, deixando o principal de lado.
O problema, portanto, me parece, antes de tudo, conceitual.
“Castells no texto The Network Society fala um pouco disso ao afirmar que não vivemos na sociedade do conhecimento mas em mais uma…e avisa que teremos problemas sérios, em função desse erro teórico.”
Concordo.
Ao criarmos na empresa setores de informação ou de conhecimento estanques e isolados nos tirou o poder e a possibilidade de perceber que basicamente o que deve se trabalhar é o ambiente informacional, antes de tudo, que, na verdade, é o próprio ambiente da empresa que vai permitir que tudo isso aconteça.
Uma empresa que trabalha sob chicote, terá pouco espaço, por exemplo, para a criatividade, curiosidade, trânsito de informação, e o que farão os nossos gestores???
Claro, que a parte técnica da organização dos registros é fundamental para dar suporte a esse movimento, mas não pode ser reducionaista, como é hoje…
Podemos optar assim pela gestão do ambiente do conhecimento, gestão do sistema de conhecimento…gestão do ambiente informacional, o que me agradaria mais e ficaria mais coerente com o que estamos falando.
Note que o ambiente é algo intangível, mas no todo pode ser gerenciado, pois é formado por coisas concretas que existem e se relacionam.
Volto a dizer o conhecimento é relacional e potencialmente possível, dependendo do ambiente que se cria.
Se vamos chamar gestão do conhecimento para reduzir o nome, um apelido, tudo certo, mas sob o risco das interpretações que acabam acontecendo…
Muita gente que trabalha com GC, na verdade, já encara o projeto dessa forma, entende que deve ser um esforço coletivo, que trabalha diretamente com o poder central e que deve ser formada por basicamente diversos perfis.
Nem sempre uma área, que cria uma burocracia, mas um grupo permanente de trabalho, por exemplo.
Ou seja, manter o ambiente da empresa para que ele possibilite a inovação e a criatividade.
Como falar em algo assim sem o RH, TI, as áreas específicas, pessoal de informação, trabalhando de forma integrada ???
Podemos, se quisermos, em falar de metas desse grupo, por exemplo, em promover a gestão da mudança da empresa 1.0 para outra 2.0.
E um grupo de trabalho – e não um setor formal – que todos os departamentos discutiriam o ambiente de conhecimento interno para ser cada vez mais aperfeiçoado.
Ao questionar a gestão do conhecimento – esse nome em si, veja, que estamos batalhando contra o reducionismo que acaba ocorrendo, que é justamente de só gerenciar o palpável e não o intangível, diferente de como você entendeu a questão.
Assim, vou apelar para Espinosa, citado no livro “Direito Autoral – da antiguidade ‘a Internet” – de João Henrique da Rocha Fragoso.
” A maioria dos erros consiste apenas em que não aplicamos corretamente o nome às coisas”.
Você concorda?
Grato pela visita.
Rolando discussão aqui também:
http://webinsider.uol.com.br/index.php/2009/03/18/nao-existe-gestao-do-conhecimento-e-um-mito/
O conhecimento é construído por cada pessoa, com sua capacidade de analisar e associar a informação ao que ela já conhece.
O problema é saber onde conseguir a informação, como selecioná-la em um mundo sobrecarregado de informação, como garantir sua autenticidade, confiabilidade, integridade; resumí-la, tratá-la, armazená-la e disponibilizá-la de modo adequado para quem dela precisa.
Essas são questões que só podem ser resolvidas por quem se dispõe a estudar todos os aspectos que permeiam a informação, desde os fatores humanos até os tecnológicos.
O livro Ecologia da Informação, de Davenport é bastante interessante para que se possa ter uma idéia da importância da informação e de seu gerenciamento.
A Universidade Federal do Paraná possui o curso de graduação em Gestão da Informação, com duração mínima de 4 anos.
Só para conhecimento, o Curso de Gestão da Informação não é novo, já existe desde 1998 na UFPR.
Valeu Douglas, muito bom….
Sérvulo,
o livro do Davenport tem um motivo para ser resgatado, a idéia das ecologias….como estamos passando de uma ecologia (a do livro impresso) para a ecologia em rede digital…torna-se mais claro para explicar o que passamos.
Uma mudança ecológica e não apenas tecnológica..
Valeram os comentários…
[…] Um pensamento tácito para os que ainda acreditam em Gestão de Conhecimento. […]
[…] Gestões de uma porção de novidades que só nos atrapalham. […]
Debate no blog do Fernando Goldman:
http://kmgoldman.blogspot.com/2009/04/lancamento-da-revista-inteligencia.html
[…] a tal sociedade do conhecimento, que a sociedade da informação é uma fantasia, que fazer a gestão do conhecimento é coisa de Papai Noel e agora vamos argumentar contra o termo gestão da […]
[…] Já postei que isso é impossível, mas tudo bem. […]