Estou lendo “Here Comes Everybody” de Clay Shirky.
O autor,que tem a impressionante marca de mais de 6500 seguidores no Twitter, tem duas boas características: tem dois olhos, na expressão de Kanitz. E sabe contar uma estória. Não é prolixo.
Procura passar o que vê de novo, a partir de exemplos concretos, que são apresentados e dissecados.
No primeiro capítulo, ele conta a triste estória com final feliz da perda de um celular que acabou recuperado pela dona, a novela virou um blog, que teve repercussão na mídia americana.
Em resumo: menina perde celular no táxi, que é encontrado por outra menina. Ao tentar recuperar o celular, a que perdeu pede para a que achou, devolver.
Recebe de volta uma série de desaforos.
A malandra que achou passa a tirar fotos.
Não sabia, entretanto, que havia programado no aparelho um serviço de publicação de fotos automática na Web, o que facilitou saber depois quem era a criatura.
Um amigo da que perdeu o fone, cria um blog e começa a contar a estória e os desdobramentos on-line. O fato ganha a mídia, a polícia se vê obrigada a intervir e acaba prendendo a malandrinha.
Do caso, Shirky mostra que a recuperação do celular foi possível, em função no novo ambiente de troca de informações e uma série de fatores agregados, o que acabou obrigando o assunto a entrar na limitada pauta da polícia e da mídia, que acabaram agindo.
O fato teve ter assustado a malandrinha, pois nunca ela imaginou que poderia ser rastreada, pois, ao entrar em rede, alguém acabou chegando no seu perfil da rede social. E bum!
O que me chama a atenção nessa história é o susto tecnológico que uma nova mídia ao entrar no ar e se massificar acaba dando nas pessoas.
Sugiro sempre (chego até a passar em sala de aula) que meus alunos assistam ao vídeo Lutero, que tem, aliás no Youtube, dublado.
No filme, Lutero é quem “perde o celular” e o Papa é o malandrinho que não acha que seus atos injustos terão alguma consequência.
Do filme, destaco:
Na parte 3, Lutero descobre os absurdos que a Igreja fazia em nome de Deus;
Na parte 4, começa a pensar de forma diferente e começa a pregar as suas idéias, ainda de forma restrita;
Na parte 5, note ao final, na marca de 9:00 minutos do filme, que Lutero divulga suas idéias pregando-as na porta da igreja, através de um papel escrito pelas próprias mãos;
Na parte 6, temos a guinada de todo o processo, o Ponto da virada. Nesta cena, por volta dos 2:56, um seguidor de Lutero arranca a página da porta da Igreja e leva para a impressão, alterando todo o contexto e possibilitando uma nova etapa na difusão das idéias revolucionárias do padre alemão;
Na parte 7, o resultado da divulgação das idéias por toda a Alemanha. Note que no início desta parte o Papa se refere a Lutero como Monjezinho. Poderá ver ao longo do filme a descrença da Igreja quanto ao resultado das novas idéias.
E, por fim, a revolução protestante.
(Os segmentos acima não seguem uma lógica, pois existem partes do filmes sobrepostas, sugiro pegar na locadora).
Nem o livro, nem a prensa é citada pelo filme, mas ela está como viabilizadora de tudo, como pano de fundo, como a Internet está para a recuperação do celular.
A diferença – e isso é mostrado no filme é:
1) Havia a possibilidade de imprimir panfletos, o que tornou as idéias locais de Lutero nacionais (o mesmo que aconteceu no caso do celular);
2) A nova velocidade de diapasão e alcance é algo que surpreende a todos, principalmente quem está no poder ou se beneficia de alguma forma do anonimato ou da falta de consequência de seus atos, (ainda sobre o caso do celular).
O fato ilustra ainda outras descrenças e realidades contemporâneas:
Microsoft x Linux/software livre;
Indústria Cultural x Napster (e sucessores, como E-mule e outros).
E será ainda visto mais adiante quando algumas estruturas monolíticas e impenetráveis começarem a ruir, como é o caso no Brasil, da Justiça e do Parlamento.
As novas mídias, como a Internet, de hoje, e os livros, panfletos e jornais, pós-idade média, iluminam sombras numa velocidade espantosa e mudam as sociedades para sempre.
Por mais que os inconsequentes não acreditem.
Concordas?
Dado complementar sobre o fenômeno Lutero e a reforma Protestante:
Circularam entre 1517 a 1520 – 300 mil cópias de suas publicacões. Dados no livro – The Wealth of Networks – Yochai Benkler – citando Elizabeth Eisenstein – Agent of Change: Print Culture Studies After Elizabeth Eisenstein .
[…] lendo o livro “Here Comes Everydody“, do Clay […]
[…] E, principalmente, muito mais barata! […]
[…] no filme Lutero a cena da inquisição em que perguntam se ele mantém o que ele escreveu no “blog” […]
[…] Na quarta, vamos passar o filme Lutero. […]
[…] 29 29UTC Abril 29UTC 2009 por cnepomuceno Passei a primeira parte do filme Lutero. […]
Nepomuceno,
o parlamento não é ocupado por assalto. Tem a cara do povo que o constituiu, não esqueçamos disso. A Justiça brasileira é para nos fazer chorar… agora, eu lembro da ministra Ellen Gracie quando proferiu a sua indiferença com o sofrimento alheio, por ocasião do massacre ao garoto João Hélio, aí no RJ. Ela disse que não haveria de se discutir sobre maioridade penal num momento de comoção social. A comoção social passou e, nem ela, e muito menos Arlindo Chinaglia, também defensor dos panos quentes, voltaram a falar no assunto…
Bom, mas eu ainda não entendi como vc imagina um Estado sem parlamento e sem Judiciário… será o céu? rsss
Laerte,
teremos representação, mas não no modelo atual.
Antes, era impossivel a população participar de forma direta em várias discussões, e, portanto, era necessário um intermediário.
Hoje, não mais.
Há várias discussões incipientes no mundo que apontam alternativa para o modelo atual, todas no sentido de aprofundar a democracia e não enfraquecê-la.
É isso,
abraços,
Nepô, valeu a visita!
Ao ler tudo isso que amei…só posso dizer: _Que Deus abençõe Gutemberg para sempre…será que ele tinha noção dos planos misteriosos p/ sua vida…e eternizado através de suas tecnologias?