Todas as religiões foram marcadas pelos Ambientes Cognitivos.
O surgimento da escrita há 10 mil anos nos legou o monoteísmo.
O livro é monoteísta.
Alguém de algum lugar distante que manda uma mensagem única, trazida por alguém que sabe ler.
Note que todas as religiões tiveram esse modelo até que os humanos passaram a ler também e começaram a interpretar sozinhos o livro.
Quem foi o primeiro a levar isso adiante foi Lutero.
As religiões escritas, depois de Lutero, passaram a algo mais racional.
Hoje, nos países mais letrados Deus é menos poderoso do que nos países mais Orais.
Hoje, Deus nos países Orais é um Deus semi-eletrônico, revivendo uma Idade Mídia religiosa, com impactos na política, na cultura e na sociedade.
Assim, podemos pensar que toda mudança de Ambiente Cognitivo teve impactos nas religiões.
O mundo digital é algo muito sofisticado, pois é uma oralidade, semi escrita, participativa, a distância. E há, em função do aumento cada vez maior da transparência, um forte descontentamento hoje com as religiões de plantão.
Como na Idade Média elas perderam o viço, se empedraram nos seus dogmas e interesses da hierarquia de plantão.
Há no ar uma vontade de algo novo.
A oralidade no passado, antes da escrita, tendia ao politeísmo.
O que unificou a religião foi a escrita.
Há, assim, uma tendência politeísta ou uma afirmação de várias fés e tribos, em torno das premissas básicas que marcam a necessidade histórica de religião no mundo:
- – parâmetros éticos, de algo acima de mim mesmo – um poder superior;
- – um conforto diante da finitude da vida humana;
- – e alguém – mágico – a quem recorrer quando não há mais forças humanas que resolvam.
Acredito que isso sejam demandas humanas históricas e perenes.
Acredito que nos locais onde o digital passar a ser hegemônica teremos um politeísmo de seitas, um pouco do que ocorre hoje, se relacionando pelas redes sociais.
Por outro lado, uma radicalização da oralidade, como temos visto, de fundamentalistas que precisam ser ainda mais dogmáticos para lidar com um mundo cada vez mais complexo.
Disse isso aqui.
Teremos, assim, três Deuses em paralelo:
- – Os monoteístas mágicos – orais;
- – Os racionais -monoteístas escritos;
- – E os politeístas digitais.
É isso, que dizes?
“A escrita foi quem unificou a religião”. É pesado ler isso de cara, mas tem sentido sua reflexão sobre o impacto das tecnologias cognitivas na religião. Ainda não tinha pensado, nem lido o fenômeno das seitas e das neo-religiões que invadiram o ocidente nas últimas décadas à luz das tecnologias cognitivas.
A grande novidade com o digital é a revelação do mistério, a democratização do sagrado. As palavras “sagrado” e “profano” até pouco tempo usávamos pra separar os clérigos dos leigos, ou seja, somente o clérigo tocava e tinha acesso ao livro santo e aos objetos sacros. Da metade do século passado pra cá, todo mundo pode tocar no livro sagrado, pode ter acesso a todos os livros da Igreja, aos códigos, dogmas, doutrinas, etc. O crente sempre foi coberto por suspense, por mistério, por coisas intocáveis. Na cabeça dos crentes, os clérigos carregam algo misterioso, onipotente, que ninguém poderia ter acesso porque somente pessoas sacras, divinizadas, poderiam ver e tocar.
De fato foi Lutero quem acelerou a aproximação do povo do sagrado, quem quebrou o muro que separava o povo do mistério. Claro, sua ideia inicial era ajudar os católicos a perceber que Jesus da bíblia em nenhum momento obrigou ninguém a pagar indulgências, altas taxas pra construir templos e muros em vista do perdão dos pecados. Mas, ao mesmo em que o povo percebia as incoerências entre o que a igreja obrigava e o que a bíblia falava sobre Jesus, começou também o processo de libertação. A primeira foi sair da caixa “católica” e criar outras caixas, outras religiões. As pessoas tendo acesso ao livro santo começou cada uma fazer sua interpretação sem necessidade do clérigo. Daí emerge a proliferação de religiões, o povo começou a perceber que a Igreja católica não era a dona da verdade, muito menos da salvação. E até hoje não pára de pipocar seitas e religiões em todo canto.
Quando você diz que quanto mais letrado, mais a pessoa vai se libertando de Deus e da religião, tem sentido até certo ponto. USA e países desenvolvidos por exemplo, embora sejam quase cem por cento alfabetizados, continuam participando de religiões monoteístas, revelando assim uma grande carência pelo sagrado.
Por experiência e por estudo passei a crer que o ser humano é espiritual por natureza, ele sempre vai se agarrar a algo sagrado, que pode tá fora como pode tá dentro dele mesmo. A nossa sede por infinito, o desejo de sempre transcender revela a divindade que acompanha a nossa vida. A grande novidade é que o habitat digital vem dar liberdade às pessoas pra viver o sagrado em ritos diferentes, cada um criando o seu ou escolhendo sua seita/religião.
Nepô, quero pensar mais sobre isso. O texto tem sentido, gostaria muito que a gente picasse em pedaços menores a história. Por exemplo, você saiu da invenção da escrita e pulou direto em Lutero do séc. XV. Depois, vc disse que estamos voltando pro politeísmo. Invés de politeísmo, não seria melhor dizer pluralidades de formas e ritos para cultuar o monoteísmo. O que vejo no ocidente não é o retorno do politeísmo, mas modos diferentes de adorar o mesmo Deus.
Talvacy,
Muito bom, acho que a ideia da pluraridade, ao invés do politeísmo,faz mais sentido….mas acho que seriam três coisas nos países que passaremos a chamar de digitais:
– politeísmo;
– ateísmo;
– pluraridade em relação as religiões do século passado.
No testo do mundo oral, vamos ter:
– mais e mais fundamentalismo.
O que vai nos levar para um impasse.
Prevejo que o século XXI não terá guerras ideológicos, mas guerras santas.
O oral passado contra o digital futuro.
Hoje, acordei e me dei conta que meu prognóstico otimista estava limitado ao mundo digital….teremos problemas sérios mais adiante, o conceito de modelo mental muda muito tudo, não somos uma espécie, somos várias dividias por modelos mentais, veja o vídeo de hoje.
valeu