Os adivinhos não valem pela força de seus argumentos, mas pelo mito que é criado em torno deles pela mídia de plantão.
Rascunho – colabore na revisão.
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Adivinho é um cara que recebe a luz.
Do nada, em algum lugar, ele vê.
E o futuro se descortina.
E ele prescreve ações.
O mundo digital está cheio de adivinhos, que tudo sabem, tudo apontam, mas não mostram a memória de cálculo.
Sabe por que?
Não as tem.
Eles vêm o futuro baseado nas observações do presente.
No que os filósofos chamam de visão empírica.
O problema que se basear em intuições, num mundo que não tem tempo e dinheiro a perder, é um jogo de roleta russa na casa da mãe joana do tiroteio de cego. 😉
É o empirismo na veia do qual ficamos completamente viciados nas últimas décadas.
Os projetos de redes sociais corporativas estão sendo feitos prescritos por adivinhos, cuidado!
Digo mais.
É tempo da ciência, que precisa nos ajudar, urgente!
A diferença de um adivinho e de um cientista, é: um procura calcular, o outro adivinhar para se chegar as conclusões de forma mais consistente.
O adivinho não tem cálculos, apenas intuições.
O cientista precisa de dados, causa e efeito para chegar, a partir de parâmetros, no caso, de uma Revolução Cognitiva do estudo do passado.
Marilena Chauí nos ajuda da seguinte maneira.
Diz que é preciso para o desenvolvimento das teorias partirmos do princípio da razão suficiente, que é a procura de causa ou motivo para tudo que acontece.
Na razão suficiente há duas possibilidades: as causas acidentais ou causais, que ocorreriam apenas uma vez, para um determinado momento particular, ou aquilo que é universal e necessário, que se repetiria, por razões a serem estudadas, ao longo do tempo.
A maior parte dos estudos sobre mídias sociais, internet, redes sociais digitais etc parte do princípio que tudo é novo, ocorre apenas agora, que é a primeira, que é algo completamente novo e que não temos repetições, algo que vem do passado.
Mais e mais temos pensadores que vão, entretanto, em outra direção.
Estão seguindo a linha de Lévy que analisam a Internet como mais uma mudança radical nas tecnologias cognitivas de plantão e que isso não ocorre pela primeira vez, mas já aconteceu no passado e sobre ele temos que nos debruçar para entender melhor.
Ou seja, reduzir nossa taxa de adivinhos e aumentar a de cientistas.
Digo mais.
Nós estamos habituados com adivinhos, pois estamos em um mundo intoxicado por crachás, celebridades e mitos criados pelos poucos canais de validação das pessoas.
Reagimos emocionalmente quando vemos alguém que é “nacionalmente ou internacionalmente conhecido”.
Ou seja, aquele cidadão vale pelo local em que aparece e não pelo que, de fato, é, pensa, colabora com a sociedade.
Nestes parâmetros, a Xuxa tem mais valor do quem um Ferreira Gullar, que vai precisar um Nobel para ser conhecido por mais gente.
Vivemos de levantar a bola de um cara ou uma cara, por que a mídia reconhece com todos os interesses atrelados que isso implica.
Quando um adivinho apresenta um cenário, sem cálculos, na verdade, ele pede que você acredite nele pela força do poder da mídia que tem por trás e quase nunca pelos argumentos apresentados.
A verdade é por aquele que diz (sua força na mídia ) e não pela lógica embutida.
E isso é algo que reflete essa passagem de um mundo de ideias controladas, que alguém precisa filtrar o outro para que aquele outro tenha seu valor reconhecido.
Quem aparece na Tevê é reconhecido por alguém como uma pessoa importante e quem não aparece, não é.
Isso se reflete AINDA nos gurus digitais de plantão. Eles valem por quanto aparecem, mas não pelos seus argumentos.
Nos convencem, assim, pela emoção, pela fé, pelo credo. E não pela razão.
E assim estamos encarando esse mundo 2.0, com a intoxicação da falta de argumentos lógicos e gastando dinheiro na emoção dos adivinhos intuitivos, mas pouco eficazes.
Por isso, que sugiro ao invés de comprar tecnologias se compre velas – para rezar! 🙂
É preciso um banho de desintoxicação para que possamos olhar tudo isso de forma diferente.
Que discutamos argumentos e não coelhos da cartola!
Chega de velas, santos e adivinhos!
Que dizes?
PS- por sugestão, troquei o termo profeta para adivinho, pois é mais representativo do que quero dizer.
Sugiro ler este artigo do Valor que complementa essa discussão:
http://www.valor.com.br/cultura/2892328/o-mundo-dos-gurus-e-bem-diversificado
(interessante que ele questiona os gurus charlatães, que muitas vezes fazem muito sucesso na periferia, ainda mais em países que adoram repetir, como o Brasil – ainda mais quando alguém fala em inglês)