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 Não estamos em uma época de mudanças, mas em uma mudança de época – Chris Anderson – da coleção;

(Bom, estou fazendo uma série de posts, a partir do insight que tive sobre a palestra de Pierre Lévy no Rio. Vou continuar a detalhar mais um pouco os desdobramentos dessa nova visão.)

Comecemos com as teorias e seu papel na sociedade.

Teorias são ferramentas humanas para lidar melhor com a vida.

Basicamente, uma teoria deve analisar determinado fenômeno e destacar quais são as forças que atuam para que ele se realize, em que conjunturas estas forças interagem e quais são as anomalias possíveis.

Esse conjunto de regras em movimento constituem as teorias que aplicamos para definir estratégias, metodologias e, a partir delas,  lidar no dia-a-dia  com estes fenômenos.

Toda ação humana é precedida de alguma teoria, ponto!

Uma teoria nos leva necessariamente à praticas de gestão de fenômenos: gestão de conhecimento, da informação, de empresas, de pessoas, de talentos, de mudanças, etc…

Ou seja, qualquer gestão de fenômenos/estratégia/ação parte de uma visão geral, que analisa que existe um fenômeno que precisa:

  • a) ser conhecido – teoria;
  • b) ser projetado – estratégia;
  • c) ser gerenciado – metodologia;
  • e) ter resultados – ações.

Ou seja, estratégias, metodologias, resultados partem de uma premissa teórica mais ampla.

Por isso, qualquer gestor seja de qualquer coisa for, deve ter um olho na sua prática (no método que adotou), mas deve ser também um conhecedor na teoria que o sustenta, pois um, na verdade, é resultado do aprofundamento do outro.

Impasses podem ser sinais de que a teoria mais geral pode conter equívocos, ao analisar, por exemplo,  que determinadas forças têm um peso muito maior e outras forma sub-valorizadas. Isso vai aparecendo no dia-a-dia, quando alguns fatos escapam da eficiências de determinadas ações.

Estamos hoje vivendo uma macro-crise teórica no início do novo século.

Estamos  diante de duas visões distintas de mundo que tendem a nos levar por caminhos completamente diferentes na gestão dos fenômenos da sociedade, que têm FORTE E GRAVES implicações nas estratégias, metodologias e resultados que esperamos:

  • Uma via, que é a que vem do passado, avalia que a força principal da sociedade é a economia, que condiciona todas as outras forças. Tal teoria super-valoriza o peso da economia e não consegue incorporar movimentos como os que assistimos agora com a chegada da Internet, que não se inserem neste – a força das mudanças em ambientes cognitivos;
  • A outra, encabeçada por Lévy, defende que a economia é relevante, mas é muito mais do que condicionante, condicionada pelas mudanças dos ambientes de conhecimento, informação e comunicação, tal como tivemos a chegada do mundo oral, escrito e agora o digital.

Ou seja, o que está, afinal, na mesa de reflexão sobre a sociedade?

  • Visão econômica como força motriz – que nos leva a montar estratégias, metodologias e ações para lidar melhor  com  uma sociedade do conhecimento, visão econômica;
  • Visão cognitiva como força motriz – Ou de uma sociedade em rede digital, na qual a economia também se altera, mas não é o fator condicionante principal. Aqui a gestão é outra!

São duas gestões completamente diferentes, pois a primeira estabelece que precisamos conhecer as novas  regras do jogo, focando apenas mudanças no aspecto econômico, que vai condicionar os demais, como estamos acostumados ao longo dos últimos séculos.

A segunda é mais ousada e mais disruptivas, porém mais eficaz para lidar com as atuais crises e mudanças,  pois aponta que a sociedade é muito mais influenciada do que imaginávamos pelas rupturas dos ambiente cognitivos e que essas alterações têm uma força mais ampla, condicionando a economia muito mais do que sendo condicionada por esta.

A gestão, seja lá do que for, se alteram quando as teorias que as sustentam ficam obsoletas diante de determinados fenômenos e autores conseguem de uma forma mais eficaz ver o quadro e as forças de forma mais coerente com os fatos.

Veja a diferença.

Se vamos gerir a sociedade do conhecimento, queremos dizer que vamos:

Ajudar a sociedade a gerir a passagem de uma sociedade economicamente industrial para a economicamente do conhecimento, basicamente é isso.

Mas se a força principal não é a econômica tal gestão se torna obsoleta, pois a gestão que precisa ser feita é em algo maior do que isso, tornando nossas ações ineficazes, ou seja:

Ajudar a sociedade a gerir a passagem de uma sociedade em rede do papel impresso e da mídia de massa para uma da rede digital!

Se estamos vivendo a passagem cognitiva com implicações culturais em todos os campos vamos para outro patamar.

Não estamos mais falando de um modelo econômico para outro modelo econômico, mas de algo maior, que seria de uma mudança cultural na civilização condicionada a um ambiente cognitivo para outro, o que nos ajudaria a ver de forma mais clara a lidar e prever com menos risco mudanças em curso em todas as áreas, tais como na forma de ensinar, de fazer política, de nos relacionar, de inovar, de comprar, vender, pensar, produzir, comunicar, pois tudo isso está em ebulição. 

O que nos facilitaria ter estratégias/gestões/resultados mais compatíveis com o que estamos precisando e não as que temos hoje que estão baseada numa teoria que sub-valorizou uma força-motriz principal, que é o principal promotor as mudanças que assistimos!!!

E esse é o principal impasse teórico atual que implica em perda ou ganho de muito dinheiro!

Acredite!

Estamos usando a teoria econômica para um fenômeno cognitivo disruptivo que é muito mais amplo.

Todas as gestões que estão embaixo dele começam a apresentar resultados pífios diante de uma realidade muito diferente, que está sendo impactada por forças maiores e com efeitos muito mais amplos.

Ou seja, é uma mudança de rumo radical na forma como pensamos a sociedade, como fazemos sua estratégia,  gestão para  obter os resultados que esperamos.

A economia, portanto, não seria mais a mãe de tudo, é condicionada por mudanças no ambiente cognitivo que a condiciona esta e não o contrário!!!

Enquanto não aprofundarmos essa questão e criarmos teorias, estratégias e metodologias que nos ajudem a comprender esse fato e ter melhores resultados do que estamos tendo, continuaremos atolados, como estamos.

Que dizes?

 Continuei o assunto aqui.

3 Responses to “A visão cognitiva versus a visão econômica do mundo!”

  1. A superação da visão marxista, em que a economia é a estrutura e todo o resto é superestrutura, foi proposta há muito tempo e por vários teóricos. Luhmann, por exemplo, em sua teoria dos sistemas, coloca a comunicação como processo base de qualquer produção de sentido pela sociedade. E as comunicações específicas (ciência, economia, religião, artes, direito, política) teriam uma forma própria de exergar esses sentidos e de produzir novas comunicações, sempre, em cada uma, com uma visão totalitária do mundo.
    Nesse contexto, para entender a realidade atual, não basta substituir a economia pelo conhecimento como base da sociedade. A ideia de que não há uma única base fixa, mas incontáveis bases possíveis é essencial para entender porque é capaz de revolucionar o mundo a real possibilidade de qualquer pessoa ser protagonista em um processo comunicativo, sem a necessidade de pré aprovação pelos intermediários.

  2. Carlos Nepomuceno disse:

    Paulo,

    quero agradecer, pois a indicação do autor enriquece e lerei mais sobre ele, grato,

    Você disse:

    “Nesse contexto, para entender a realidade atual, não basta substituir a economia pelo conhecimento como base da sociedade. A ideia de que não há uma única base fixa, mas incontáveis bases possíveis é essencial para entender porque é capaz de revolucionar o mundo a real possibilidade de qualquer pessoa ser protagonista em um processo comunicativo, sem a necessidade de pré aprovação pelos intermediários.”

    Bom, acho que cabe um contra-ponto, pois o mundo hoje é economista. As teorias, metodologias que estão sendo implantadas nas empresas devem ser repensadas, a partir desse ponto.

    Porém, gostaria de problemarizar este item:

    “A ideia de que não há uma única base fixa, mas incontáveis bases possíveis”.

    O que´é uma teoria?

    Acredito que é o estudo de diferentes forças, suas relações, conjunturas e anomalias.

    O que parece tem ficado mais claro é que o papel da cognição, do impacto das mudanças das redes cognitivas, tem um poder de mudar a sociedade muito além do que imaginávamos, há, portanto, um erro na fórmula atual de se pensar a sociedade.

    O peso dado economia como principal determinante estava muito alto e não havia a variante redes cognitivas.

    Porém, não acredito que existem várias teorias, cada um pode ter a sua.

    As teorias vieram ao mundo para ajudar a compreendê-lo e modificá-lo para sobrevivermos.

    Toda teoria tem que ser testada na vida. Popper diz que ela é boa até prova em contrário.

    Hoje, quando pensamos a sociedade com um viés econômico caímos do cavalo, este é o ponto principal.

    Note bem que não estou defendendo e nisso você chama a atenção com razão. que o post pode dar a entender, que agora vamos adotar a visão cognitiva e o resto não importa, estou apenas corrigindo a fórmula geral.

    E não defendo uma visão cognitiva do mundo, pelo contrário,acho que a fórmula é complexa.

    Não dá para pensar na sociedade e na economia sem o papel que as redes digitais terão, mas há uma influência limitada dela depois que se estabelece.

    Neste momento, as forças econômicas passam a atuar com novas premissas, mas voltam.

    Tks, ajudou bem.

    Valeu visita, comentário, volte sempe, abraços,

    Nepô.

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