Não importa o que fizeram com você; o que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você – Sartre – da coleção.
Desde que o médico nos tirou lá de dentro, daquele cantinho gostoso, quentinho e protegido e nos deu aquele tapão na bunda e disse:
“É menino! ou / É menina!”.
E desatamos a chorar…
Não tem mais jeito: estamos num campo minado de abusos sociais de todos os tipos.
Se aculturar, no fundo, é nos tirar de uma natureza e nos “enquadrar” para viver em sociedade.
A vida ensina, dizem, mas alguém é o mestre….
E existem várias formas de ensinar e aprender.
Por mais que tenhamos pais ou mães carinhosos, eles têm também a sua taxa de abusos sofridos, que, se não trabalhada, faz com que os repassem adiante, num grande jogo de dominó de geração para geração…
Como dizia a Legião Urbana, na voz do Renato Russo:
Você me diz que seus pais
Não entendem
Mas você não entende seus pais…
Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo
São crianças como você..
Ou seja, foram abusadas também em casa, na escola, na rua, no trânsito, na fila, pelas autoridades.
Gosto contra essa escalada abusiva, da ética “matadora” de que:
“Não devemos fazer aos outros, aquilo que não queremos que façam conosco”.
O que dá um bom norte para termos atitudes.
O referencial será sempre nosso afeto quando somos abusados e nos dá a dimensão de como e quando estamos abusando, pois estamos fazendo com o outro o que não gostaríamos que fizessem com a gente.
Tentando, assim, romper, o círculo vicioso.
Um abusado tem uma relação de amor (atração) e ódio com o abusador.
É preciso se separar e sempre se auto-referenciar para saber:
O que eu posso mudar para evitar abusar e ser abusado?
Um inventário a cada momento de crise nas duas direções.
Sempre penso, ou pelo menos tento, o que eu posso fazer para mudar?
Ninguém dá limite a ninguém só a ele/ela mesmo.
A partir daí, não tem espaço para abusos.
Evitar “abusadores” de todos os níveis é sempre algo saudável.
Um abusador é uma pessoa que não se conscientizou, ou não quer, parar de exercer a sua abusividade perante os demais.
Assim, temos dois tipos:
O abusador consciente, que sabe e tudo bem;
E o inconsciente, que desconfia, mas vai empurrando.
Os dois devem ser evitados.
Quando é impossível se separar destes, procuro criar canais intermediários, evitando o papo direto.
Prefiro o e-mail, colocar um intermediário qualquer, para poder ter tempo de ver o abuso lançado, chegando, batendo, deixando cair, olhando, analisando e, só então, conseguindo sair da armadilha.
Viver não é fácil, ainda mais se queremos reduzir a carga de abusos do mundo, ser diferente, não repetir a sina do Belchior:
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais…
E tudo começa dentro de nós.
E nunca no outro.
Achar que o outro vai mudar, é, no fundo, uma espécie de abuso que fazemos com nós mesmos e com os demais.
Algo típico do brasileiro que quer um país melhor, desde que comece pelo outro.
Quanto mais longe e inatingível estiver esse outro para muita gente é mais cômodo, reclamar sempre daquilo que ele não tem condições de mudar.
Uma neurose tropical…
O que isso tem a ver com o mundo 2.0?
Talvez seja o núcleo desse novo capitalismo mais humanizado que procuramos, a base de uma nova filosofia humana, básica, porém deixada de lado nesse mundo do fast-tudo.
Que dizes?
Obrigado, pela excelente reflexão que sugeriu!
Eu só trocaria o modo negativo, pelo afirmativo, para ganhar uma dimensão ainda maior.
“Faça ao outro aquilo que gostaria que ele fizesse com você”.
O que fico sempre a pensar é que o capitalismo vai se humanizando de maneira artificial. Porque é empurrado pelos efeitos colaterais das novas tecnologias. Quando a ética deixar de ser uma estratégia e tornar-se um princípio, teremos progresso efetivo. Acho que vou twittar essa última, rs.
Forte abraço!
Dylan, muito bom isso: ““Faça ao outro aquilo que gostaria que ele fizesse com você”….mudar bastante é é mais direto e impactante,
valeu, vou RT isso 😉
Nepô.
Doce, doce reflexão.
Não há nada que não possamos mudar. Se o passado está feito, ainda assim podemos mudar seus efeitos sobre nós.
É tudo uma questão de posicionamento.
Keila, twittei:
Se o passado está feito, ainda assim podemos mudar seus efeitos sobre nós.
valeu a visita.
Nepô.