Leio, leio e leio.
Ouço, ouço e ouço.
E quanto mais o faço, mais considero que nosso diagnóstico em relação a Internet ainda é muito precário.
Dois exemplos?
A matéria com os assessores de comunicação das grandes empresas: “Sem Fronteiras“. E da Business Week, que saiu no Valor, ontem.
Fala-se mais não se sabe exatamente por onde e para onde estamos caminhando.
Abaixo, alguns pontos fundamentais para você refletir, antes de sair por aí com mirabolantes projetos estratégicos.
1 – A Internet traz para a sociedade um novo ambiente de troca de conhecimento humano.
Ela inaugura um novo ciclo de nossa caminhada no planeta redondo.
2- A tecnologia da Internet, portanto, por sua natureza, altera a forma do controle da informação anterior.
Isso não ocorre sempre na história ,muito raramente, e tem larga consequência na sociedade.
Antes, os canais (rádio, tevês e jornais) eram restritos, caros e fechados, limitado a um determinado grupo que se estabeleceu no poder e fez destes canais espaços para manter seus interesses.
Com a Internet, abriram-se novas portas, nas quais novas ideias de novos atores passam a circular.
Ou seja, apesar de ser impulsionado por uma tecnologia, a sociedade começa a mudar de forma ampla, em função de uma nova forma de troca de ideias, que vai exigir um novo modelo de controle, daqueles que desejam estar no poder e ver seus interesses garantidos.
Sob esse cenário, em função dos diferentes canais e da capacidade de difusão das notícias, o atual nível de descentralização impede mais e mais que modelos de controle anteriores continuem a funcionar no curto, mais radicalmente no médio prazo e de forma impraticável no longo prazo.
- Antes, se trabalhava com o controle da escassez.
- Hoje, lida-se com o descontrole da abundância.
- Antes, se impunha, de certa forma, a informação pela imposição dos poucos canais.
- Hoje, deve se trabalhar com a adesão das pessoas na multiplicação infinita dos inúmeros canais.
Estamos, assim, diante de uma ruptura radical da forma de controle informacional da sociedade.
3 – Por consequência, trata-se de uma mudança nos moldes do poder.
(Não, não temos teorias sobre esse fenômeno, pois são tão raros e tão pouco estudados, que têm uma dimensão tamanha e uma nulidade teórica absurda.)
Para podermos ter a dimensão de seus próximos passos, precisamos olhar na história um momento em que esse fato tenha ocorrido de forma similar.
No momento, identificamos com razoável bibliografia a chegada do livro impresso, a verdadeira popularização da escirta, no qual autores de todo o tipo, apoiados por uma nova classe de editores empreendedores (similar ao que ocorre hoje na Internet) passaram a espalhar novas ideias pela sociedade e romperam com o modelo de controle anterior.
As estruturas hierarquizadas da Igreja e da Monarquia começaram a viver momentos de radical transformação, pois o seu poder estava justamente estruturado no controle da informação do livro manuscrito, do qual tinham a capacidade de publicar, evitar que chegassem ao conjunto da sociedade e podiam, assim, manipular e distorcer a realidade, conforme seu interesse.
Além de, rapidamente, administrar com facilidade grandes crises.
Assim, mudanças nas formas do controle da informação, muito raras na sociedade, quando ocorrem são desestruturantes de modelos de poder em todos os níveis.
Trata-se de mudança na base de troca de ideias humanas e o que parecia “normal” e “natural” passa a ser questionado com novos tipos de ideias, agrupamentos, mobilizações.
Assim, não podemos olhar a Internet apenas como uma “nova mídia”, ou como uma “nova forma de comunicação”,
Sim, ela é, como foi o rádio, a tevê, por exemplo.
Mas, traz em si, por suas características de baixo custo e independência das pontas, um novo ambiente informacional, sobre o qual o poder estabelecido no modelo de comunicação anterior, não tem controle nos antigos modelos.
É preciso compreender o novo tipo de ambiente, se quiser dominar o novo planeta com relativa chance de sucesso.
É precisa jogar um novo jogo.
4- E é disso que se trata projetos de Empresa 2.0, Governo 2.0, Escolas 2.0. Procurar uma nova forma de estar no mundo, compatível com o novo ambiente, que permita A, B ou C continuarem a manter o controle de produzir, governar, ensinar, etc…
Assim, para efeito de diagnóstico, não devemos pensar em nos inserir em uma nova mídia, ou em uma nova forma de comunicação, mas pensar que estamos entrando em um mundo novo, no qual novas regras sociais, hoje ainda incipientes, vão reger novas instituições.
Se não concorda, conteste-o, debata-o, mas é em torno dessa avaliação do tamanho desta mudança, que está o futuro de muitas organizações. E são as questões que você deveria avaliar.
É preciso sair do piloto automático e estudar esse novo mundo de forma profunda e apontar para mudanças estratégicas de maneira de se organizar as instituições, de longo prazo, caso queira realmente se inserir nesse novo contexto.
E não achar que pode ou não pode entrar nas redes sociais, ou no ambiente web colaborativa, como se fosse uma escolha.
Não é uma opção, é uma realidade.
Reavaliar tudo, por incrível que pareça, é a forma mais barata e eficaz de se chegar lá: aprofundando a ruptura e começando a traçar as mudanças necessárias na base da gestão da organização para a mudança no novo mundo 2.0!
A tentativa e erro, sem uma visão do cenário maiorm, não só é incerta, mas muito cara, diante da ruptura dessa proporção!
Como diz Kant:
“Não há nada mais prático do que uma boa teoria”.
Ou como sugere Daniel Bell:
“Um esquema conceitual não é verdadeiro nem falso, mas apenas útil ou não”
As ações e questões que devemosm, assim, nos propor são:
- Como será essa nossa nova sociedade, então?
- Estamos diante de uma ruptura de modelos das organizações?
- Para onde elas estão indo?
- Quais são as que devemos seguir o modelo?
- E como eu e a minha organização vamos nos ajustar à ela, de tal forma a jogar o novo jogo do poder para continuar dentro da partida?
Tendo, assim, o novo ambiente de comunicação como apenas um canal para anunciar e compartilhar essa mudança com seus atores, de fato, e não de mentira.
Todo o resto que foge dessa lógica, a meu ver, trata-se de um diagnóstico errado, com consequências danosas e pífios resultados.
É aplicar remédios que só vão piorar mais e mais a febre que nos assola!
Que dizes?
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