“Antes do Digital nós filtrávamos para publicar e agora se publica para filtrar.” – Clay Shirky.
O banimento de Donald Trump na semana passada do Twitter e Facebook escancara uma crise que já vinha latente há muito tempo.
Vivemos hoje a maior mudança administrativa da história do Sapiens. Estamos saindo do modelo “lobo” (Gestão) para o das “formigas” (Curadoria).
Na Curadoria, o centro não cuida mais do controle de qualidade do conteúdo, dos serviços e produtos. Isso é distribuído para que as pontas assumam este papel.
A Revolução Midiática Digital propicia não uma mudança de metodologia na administração, mas uma profunda alteração nas bases filosóficas do controle.
Podemos dizer, adaptando Clay Shirky, que na gestão se filtrava para publicar e se garantia, assim, a qualidade, a partir do centro. Hoje, deixa publicar e a qualidade é definida diretamente pelos usuários.
Todo o sucesso das BigTechs se deve justamente pela adoção desse novo modelo filosófico de uma qualidade que vem de baixo para cima, que garante exponencialidade a baixo custo.
Porém, a Curadoria, uma nova forma completamente disruptiva de administrar a sociedade é algo totalmente novo e difícil de ser assimilado. Está dando ainda os primeiros passos.
Plataformas de todos os tipos, inclusive as de conteúdo, muitas vezes insistem em querer controlar a qualidade, a partir do centro e não deixar os usuários decidirem o que é adequado, ou não.
Na Curadoria, o que gera escalabilidade, baixa o custo e garante a exponencialidade é justamente “deixar rolar” os usuários classificar, desde motoristas do Uber a apartamentos do AirBnb.
Plataformas de conteúdo, como o Twitter e Facebook, teoricamente, dentro da nova filosofia, deveriam ser neutras no conteúdo e se preocupar exclusivamente com a forma.
Plataformas Curadoras de Conteúdo não deveriam se importar no que é colocado dentro delas, deixando que os usuários julguem e classifiquem o que é adequado, ou não.
Plataformas Curadoras de Conteúdo deveriam apenas melhorar os algoritmos para que os os usuários pudessem gerenciá-los da melhor forma possível.
O papel da Plataforma Curadora é a de ser uma reguladora de interações, via algoritmos, aperfeiçoando-os gradualmente para que todos possam acessar o que quiserem, a partir de seus respectivos critérios e valores.
Porém, o que temos assistindo no avançar do digital, em diversos projetos, é um modelo híbrido que podemos chamar de “Gestoria” uma mistura de alguma coisa de Curadoria, mas ainda muito da filosofia da Gestão.
Ainda estamos – nessa primeira etapa da Revolução Digital – com nossas mentes intoxicadas pela Gestão, no qual o centro ainda acredita que é, de alguma forma, responsável pela qualidade do conteúdo.
O problema das Big Techs é de que, apesar da plataforma vender a ideia de que é Curadora, o modelo administrativo interno ainda pratica a filosofia da gestão.
Nas atuais Plataformas de Conteúdo há um “dono que manda“, além de investidores, gerentes, gestores, que acreditam que são responsáveis, de alguma forma, pela qualidade do que circula lá dentro.
A qualidade em uma plataforma curadora – repito – não é a do conteúdo que é postado, mas da forma de como é gerenciado, via algoritmos, pela comunidade de usuários.
A censura ao presidente dos EUA, por motivos políticos, tirou o véu da pseudo-imparcialidade das Plataformas de Conteúdo, abrindo a seguinte pergunta: o que são elas exatamente?
Vivemos hoje um momento em que os chamados dois polos de embate esquerda e direita são falsos. A verdadeira encruzilhada é Gestão ou Curadoria (sem controle do centro)?
A Curadoria é uma forma mais sofisticada e inteligente de gerar prosperidade para uma Tecnoespécie que conseguiu, por mérito, a proeza de chegar à casa dos 8 bilhões de habitantes.
O que apostamos que vai ocorrer é, no curto prazo, uma tentativa frustrada de se criar plataformas que terão conteúdo “do outro lado”, o que não vai ajudar muito a resolver o problema futuro.
O que vai desenredar, entretanto, o nó civilizacional, no longo prazo, será o surgimento, de forma gradual, de Plataformas Curadoras Blockchenizadas , nas quais os algoritmos serão distribuídos e sem chance de controle central.
Nas Plataformas Blockchenizadas não haverá um dono que possa censurar, pois não se conseguirá mexer nos algoritmos depois que forem criados.
As pessoas escolherão o ecossistema que achar melhor e teremos o avançar da terceira etapa da revolução civilizacional em curso: digitalização, uberização e blockchenização.
Nas Plataformas Blockchenizadas não haverá a concessão de um “dono da plataforma” em não censurar conteúdo, pois será impossível que isso ocorra.
O Blockchain, que vai dominar todas as plataformas, incluindo as de conteúdo, substituirá o atual poder das BigTechs. Será uma ruptura radical na forma de organizar a sociedade.
A censura ao presidente dos EUA, independente se você gostou, ou não, é incompatível com esse um futuro cada vez mais distribuído.
A demanda por plataformas blockchenizadas vai ganhar um impulso cada vez maior depois da censura a Trump. A crise, amigos e amigas, anotem, saiu do armário.
É isso, que dizes?
Saia de Matrix. Venha ser um Futurista Bimodal, com a melhor formação sobre o futuro do Brasil.