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Muita gente fala que “fulano tem boas intenções“. E, por causa disso, tudo que ele fizer será para o bem de todos.
E ainda que a sociedade precisa de pessoas “bem intencionadas” que todos os problemas estarão resolvidos.
Isso é forma infantil, mitológica e religiosa de pensar a sociedade, pois elimina-se séculos de debate filosófico.
Joga-se no no lixo cérebros e acúmulo cultural com as experiências do passado. Tudo sai do campo das ideias, da tentativa, erro, análise e superação para se apostar em pessoas.
Deixamos de refletir sobre ideias e passamos a apostar no nosso “feeling” sobre pessoas que são do “bem” contra os que são do “mal”.
Boas intenções, é bom saber, estão imersas em cosmovisões filosóficas, que foram criadas e debatidas ao longo do tempo. Têm um histórico de tentativas e erros.
Vejamos:
Intenção – aquilo que se pretende fazer; propósito, plano, ideia.
Não se pode dizer que determinada pessoa é boa, pois tem “boa intenção“, pois está propondo plano, propósito, ideia.
Uma pessoa não pode ser “bem intencionada”, pois tudo dependerá do resultado final do seu plano.
Só podemos saber se determinada intenção melhorou determinado problema depois que tivermos o resultado.
Intenção, assim, não pode ser atributo de alguém, mas sempre de ideia, que precisa ser testada, não sendo boa ou má, mas apenas mais ou menos eficaz.
E só podemos saber se vai melhorar a vida de todos se a ideia for testada no tempo.
Assim, de maneira geral, toda a ideia tem a intenção de melhorar algo em “a” para “b” e só é possível saber se teve os resultados esperados depois.
Quando dizemos que fulano tem boas intenções, estamos admitindo que, independente do resultado, tudo que ele fizer é bom. Estamos, no fundo, santificando-o.
Entramos, assim, em visão religiosa, mitológica, sobre ações na sociedade em detrimento de análise mais científica.
Quando digo que fulano tem “boas intenções” necessariamente estou com uma mentalidade religiosa e não científica.
Ao dizer fulano é “bem intencionado” eliminamos o debate filosófico da proposta que está por trás da pseudo-bondade. É o mesmo que santificar alguém pelo simples fato de ter uma ideia.
Independente do que você está propondo para a sociedade, o resultado será bom, pois fulano “é do bem“.
(Temos candidatos que dizem que vão formar ministérios só com pessoas do bem, o que quer dizer que está, no fundo, fugindo do debate filosófico-metodológico do seu governo.)
A fantasia da pessoa “bem intencionada” é de que, independente dos resultados o bem será alcançado.
Uma sociedade que aposta em “pessoas bem intencionadas“, sem debater os métodos, pode ter resultados trágicos, pois será baseado na fé e não em métodos científicos.
Os bem intencionados ganham carta branca para agir, pois nada do que fizer pode dar errado. E se der não vamos discutir os métodos, mas apenas vamos dizer que fulano que achávamos que era do bem, não é mais.
E vamos procurar outro “santo”.
É isso, que dizes?