Gosto da metáfora de um peixe no aquário, que não consegue ver a água como algo parecido com o humano diante da cultura.
A água para o peixe é invisível.
Nosso cérebro “ganha salário” para tornar o que é conhecido, natural e intuitivo.
O cérebro se preocupa com o que é novo e não com o que é conhecido, pois o novo precisa ser analisados se é uma ameaça ou não para a sobrevivência de cada pessoa.
Assim, o cérebro vai tornando natural o mundo conhecido, as ideias conhecidas, vai naturalizando a água, nos tornando insensíveis para um conjunto de fatos que ocorrem, pois eles passam a ser invisíveis.
Somos peixes que nos habituamos a não ver a água.
A grande dificuldade da inovação, de novas filosofias, teorias é justamente quando fatos vão ocorrendo no mundo e que não temos explicações convincentes para eles.
Olhamos com estranhamento e não conseguimos compreendê-los, pois o nosso cérebro resiste a rever aquilo que já foi analisado e tornado invisível.
Por isso, que os estudiosos das mudanças dizem que é preciso algumas gerações para que algumas ideias se tornem hegemônicas. Ou seja, é preciso, como os judeus, passar 40 anos no deserto, matar uma geração inteira para que a nova consiga ver a terra prometida de uma nova maneira.
Assim, todas as novas teorias podem ser consideradas contra-intuitivas, pois nos obrigam a rever o que o cérebro já tornou invisível.
Uma nova geração, que não está intoxicada com aquela invisibilidade, já vem e olha para aquilo como algo mais natural, não precisando fazer o processo de tornar visível algo que era invisível.
Por isso, faço um esforço em sala para separar a percepção da realidade.
A realidade seria algo que está fora de nós, o que chamo de vida e a nossa percepção é a capacidade que vamos desenvolvendo de olhar para a água, tornando-a mais turva.
Perceber é a capacidade que temos de olhar para o funcionamento do nosso próprio cérebro e educá-lo para não ter receio de olhar para aquilo que ele tornou invisível.
O problema que enfrento com meus alunos é que nosso ego, que tem um papel de instinto de sobrevivência, se cola com a vida, com a realidade.
Estamos vivendo uma fase de ego medroso.
E qualquer mudança que é trazida para a percepção é vista como uma ameça pelo ego, que está expandido.
O ego ocupou o espaço que era da percepção.
Assim temos uma percepção com uma taxa de ego muito acima do que deveria ser o razoável. Fomos educados para viver em um mundo estável e não em um mundo instável.
O ego tomou conta da percepção.
Não existe mais uma separação entre ego – percepção – vida.
Ego-vida se fundiram no mesmo espaço, o cérebro perdeu completamente a capacidade de ver a água.
E isso nos leva ao dogmatismo e a incapacidade de rever aquilo que o cérebro tornou invisível.
Há uma profunda intoxicação do ego na nossa percepção, o que nos impede de rever antigos pensamento, pois o cérebro passa a perceber qualquer mudança como uma ameaça.
Há taxas disso de pessoa para pessoa.
E há momentos históricos em que essa fusão do ego-vida é maior ou menor, conforme a fase de uma Era Cognitiva.
- Quando estamos no início de Eras Cognitivas com novas mídias descentralizadoras, começamos um processo de separação e vice-versa.
- Quando estamos no final, há um processo de fusão.
- Hoje, vivemos este momento de fusão.
Nós somos peixes habituados a um aquário sem água e, portanto, sem percepção própria, pois saímos de um mundo em que as bases principais da sociedade eram mais sólidas e hoje elas são mais líquidas.
Estamos com uma incapacidade de criar novas teorias, pois elas são contra-intuitivas, são vistas pelo nosso cérebro, o gestor do nosso ego, como ameaças.
Precisamos criar métodos para tornar nossos egos mais corajosos.
É isso, que dizes?