Temos que combater generalizações.
Temos que combater colocar o outro como objeto e não aceitar que nos transformem em um.
Uma pessoa não pode ser enquadrada em qualquer grupo religioso, de cor, de classe social, dentro de um rótulo genérico, como se todas as pessoas daquele grupo pensassem igual. Quando fazemos isso estamos criando um pré-conceito em que todos a partir de um determinado rótulo são iguais.
Nada mais fácil, ou dogmático, ou cartesiano do que conseguir fazer um bloco só “deles” contra “nós” um outro bloco.
Isso não é política, mas torcida, fé.
A política se caracteriza justamente por superarmos todos os tipos de rótulos para nos dedicarmos as discussões de conceitos e, a partir deles, de propostas e agendas que em conflito possam se tornar em prática da sociedade.
O atual governo, no movimento neopopulista latino americano, resgatou do fundo do baú uma prática do comunismo ortodoxo de ver a luta política na sociedade como uma luta de classes, na qual um grupo todo que não pertence ao nosso pensamento “é inimigo”.
A “elite branca” que vaia o governo, “eles” que não podem voltar de jeito nenhum ao governo, “os neoliberais” que querem tirar a comida da mesa dos pobres traz oficialmente para a arena política a prática de tornar um grupo grande de pessoas como objetos.
Mesmo que várias destas pessoas, como Marina, Eduardo Jorge, Fernando Henrique Cardosos, por exemplo, tenham origem social e de pensamento bem parecido.
Isso traz para a arena política uma luta de rótulos e se inicia uma guerra cega em que não se vê mais propostas, práticas, pessoas, mas apenas rótulos, rótulos e rótulos.
Nós que queremos combater essa prática não podemos entrar no mesmo jogo.
A reação a objetivação ao outro desperta na sociedade o seu efeito contrário e similar, a objetivação do governo como um todo, se eles são neoliberais, todo mundo do governo é comunista e está roubando o país.
O que se quer ao final é criar grupos fechados e fundamentalistas que vêem no outro o inimigo. Mesmo que isso seja realidade do lado de lá, eu tenho o livre arbítrio de não aceitar do lado de cá.
É preciso analisar com calma e perceber como cada um pensa e como cada um pode amadurecer o seu discurso político para poder ter opções mais conscientes e menos emocionais. A luta dos rótulos favorece o emocional e quem quer uma política de mais alto nível deve combater o debate emocional, que não leva ninguém a lugar nenhum.
O que acaba levando a uma briga entre dois grupos que estão querendo que o outro se torne objeto de seu ódio, de sua raiva e, o principal, da sua incapacidade de propor algo para o pais.
No fundo que opta por criar inimigos é por que quer mascarar sua incapacidade e seu vazio de propostas.
Note que muitas guerras começaram justamente por crises internas em que um governante procurou inimigos externos para unir sua população, o exemplo que me vem é o das Malvinas.
Assim, não acho que vamos combater o atual governo criando um grande bolo “deles” contra nós, mas justamente por mostrar que nós não somos um bolo e que há neles muita gente que não concorda com tudo que está sendo feito.
Opto pelo caminho do meio na necessidade de abrir diálogo com quem quer ter diálogo.
Mas para que o diálogo ocorra não é possível que se continue nem de um lado e nem de outro dizendo que há um inimigo de direita ou de esquerda.
Existe na sociedade práticas que devem ser preservadas e a principal delas em termos políticos é nunca tratar os que pensam diferente como um objeto, um bloco.
Esse tipo de prática nunca deu bons frutos.
Se o governo e seu grupo político tem interesse de jogar esse jogo, eu não quero entrar nessa.
Não se desarma uma bomba como outra bomba, a não ser que queira explodir tudo, virando você o detonador.
É isso, que dizes?