Nossa visão da realidade pode ser vista abaixo:
Há uma mediação entre o que acontece do lado de fora com o que conseguimos ver. E o que conseguimos ver com o que fazemos.
Assim:
O problema da alienação é que essa percepção se torna invisível e não conseguimos ver como vemos, apenas o que achamos que vemos.
A percepção, entretanto, não é feita no vazio. Ela tem instâncias.
- Nós construímos uma narrativa para justificar nossa percepção e esta consolida a ação.
- Uma narrativa é algo que justifica uma dada percepção e uma ação que é tomada a partir dela.
- Nem sempre a narrativa é coerente com a ação, o que podemos chamar de hipocrisia, ou de incoerência.
A narrativa, entretanto, não é um todo fechado, mas é formada por conceitos, que são os tijolos da “parede” narrativa.
Há também contradições entre os diferentes tijolos que vão formar esta parede.
Quando queremos questionar uma determinada ação e a sua incoerência com a realidade, precisamos:
- – analisar a narrativa;
- – e dentro da narrativa, analisar os conceitos;
- – para poder discutir a percepção, que é o resultado das duas instâncias acima.
Os conceitos, assim, acabam por nos dificultar identificar nossos problemas de narrativa como o dos outros. A análise de uma ação, assim, passa pelo questionamento da percepção, que é a problematização da narrativa e dos conceitos, que promovem sua sustentação. Os conceitos se tornam de uso corrente e os usamos sem perceber que estamos fortalecendo uma dada narrativa.
Vou dar um exemplo.
Virtual é um conceito usado para ser sinônimo de digital. Virtual é algo que é uma potência que não existe, que pode existir, aquilo que tem potência a vir a ser, mas ainda não é.
Quando eu digo que estou em mundo virtual, eu estou dizendo que a Internet é algo que não existe no real, o que denota uma certa aversão, dificuldade de lidar com ela.
Quando eu procuro desintoxicar esse conceito e digo que o virtual é melhor definido como comunicação a distância ou digital, estou, na verdade, questionando dentro de um conceito toda uma visão de estranhamento diante da chegada do mundo digital.
Uma coisa é o digital ou a distância, que são fatos reais, que estão acontecendo de forma diferente. Quando eu aplico o virtual eu estou dando margem a algo etéreo, que não faz parte da vida.
Ao questionar o conceito “virtual” estou, no fundo, questionando a narrativa em curso que está tentando criar uma percepção ainda temerosa da Internet, mas que nos leva a algo diferente do que de fato está acontecendo, a partir de uma dificuldade de lidar com aquele fato.
Assim, ao questionar o conceito “virtual” estou questionando uma narrativa toda que gera uma percepção que, por sua vez, gera uma ação.
Virtual é um conceito intoxicado pelo medo e que gera medo nas pessoas, de que é algo que não conheço, que está lá fora. Para reduzir o medo, eu preciso questionar o conceito, que me leva a questionar a narrativa que, em última instância, vai provocar mudanças na ação.
É como se fosse um “bug” no conceito, que gera bug na narrativa e na ação, muitas vezes de forma inconsciente.
Se eu quero modificar a forma que uma pessoa está agindo, eu preciso, pela ordem:
- – a narrativa e os seus conceitos;
- – que vai me levar a questionar a sua percepção;
- – que vai nos levar a questionar a ação.
Se a pessoa não ganha a capacidade de olhar para a sua percepção e poder ir questionando a sua narrativa e seus conceitos, dificilmente poderá fazer isso com os outros e dificilmente poderá modificar as suas ações e dos demais.
O papel de uma agente de mudança é trabalhar com anti-narrativas ou novas narrativas, na qual o bloco todo vem junto:
- – novos conceitos;
- – novas narrativas;
- – novas ações.
É isso, que dizes?
[…] dias refiná-la. É apenas o início de um exercício de se pensar com a própria cabeça e de criar novos conceitos, a partir do momento em que não encontramos respostas para as […]