O sonho de todo pesquisador é fazer o que chamamos de ciência pura.
O termo pura, que eu não gosto, significa aqui pesquisa não aplicada.
Pois se temos pura, teríamos a impura, o que não é o caso.
E não acho que existe ciência pura, mas pesquisas não aplicadas dentro de vários campos da ciência.
- A dita ciência não aplicada tem uma métrica muito mais difícil do que o da ciência aplicada, pois estuda-se um fenômeno e não um problema.
- Uma pesquisa aplicada pode ser testada no campo, pois em algum momento ela chegará a algum produto ou serviço.
Muitos dizem que o estudo da filosofia de uma determinada área é ciência não aplicada.
Não concordo, pois eu trabalho com o conceito de Cadeia de Conhecimento, que se dá da seguinte maneira: filosofia influencia teoria, que por sua vez muda metodologia e esta orienta o trabalho operacional, que produz serviço ou produto.
Assim, uma filosofia de uma dada área vai influenciar um produto e serviço lá na ponta!
O que vai definir se estamos diante de uma pesquisa aplicada ou não aplicada é o que está se estudando, não é a critério do pesquisador ou o nível de reflexão que está se fazendo mais abstrato ou concreto.
- Se você estuda algo em que não se pode alterar ou não se quer alterar, como buracos negros ou a vida dos golfinhos, estamos diante de uma pesquisa não aplicada;
- Se você estuda algo em que se pode alterar e se quer alterar em um dado momento, que vai se transformar em um produto ou serviço, estamos diante de uma pesquisa não aplicada.
Como viemos o fim de uma Ditadura Cognitiva e uma alta taxa de Narcisismo Organizacional o que se quer neste momento é contar com todos os direitos, mas nenhum dever para com a sociedade. Quanto mais se produzir pesquisas chamadas não aplicadas menos haverá cobrança da sociedade. E se poderá alegar que está se produzindo verdades e conhecimentos.
O que vai orientar uma política acadêmica consistente, a meu ver, é a definição de se a pesquisa trafega em áreas mutáveis ou imutáveis. O que é mutável é passível de estar gerando algum tipo de sofrimento e qualquer estudo precisa ter um resultado, que aponte para a redução de sofrimento.
Que chamei de pesquisa voltada para a Sofrimentologia.
Antes que se jogue pedra, acho que há espaço tanto para uma pesquisa quanto para a outra, desde que de forma equilibrada.
Estudos não aplicados expandem a nossa capacidade de pensar e acabam tendo aplicações indiretas nos nossos problemas, como a história da ciência demonstra.
Você pode ter uma ideia ótima vendo um documentário sobre golfinhos. E o estudo dos buracos negros pode nos levar a entender melhor os átomos e a origem da matéria.
Mas são dois objetivos diferentes de pesquisa e duas métricas distintas para se avaliar os resultados. Diferente, entretanto, do que achamos normalmente, pois as falsas pesquisas não aplicadas são muitas vezes usadas como um escudo para uma não cobrança de resultados.
É isso, que dizes?
Ótimo argumento…