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Conceitos são conceitos nada mais que conceitos?

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Sim e não.

Conceitos procuram representar algo. São pinceladas que formam um quadro maior que é uma teoria.

Muita gente acha que discussão de conceitos é uma besteira e podemos sair usando que está tudo bem.

Porém, às vezes sim e às vezes não.

Sim, quando o uso de um ou mais conceitos não gera confusão de interpretação e de ação. Todo conceito está dentro de uma teoria e toda a teoria é passível de interpretação. Teorias deveriam gerar metodologias e estas devem gerar ações, que provocam, conforme sua eficácia, redução, manutenção ou aumento de sofrimento.

Um conceito, assim, é quase como se fosse uma bala, dentro de uma pistola teórica.

Se podemos ter um conceito de festim ;),  sinônimo,  indolor, não vejo problema nenhum.

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Estava discutindo com o Rodrigo Palhano, do Clube do Nepô,  sobre o conceito “Desintermediação” aplicada à chegada na Internet e a descentralização de um dado processo, tal como cooperativa de táxi = aplicativos de táxi.

“Há uma desintermediação da cooperativa”.

Tem muita gente usando nessa linha e eu já usei também, mas vi que quando eu saio e desintermedio a cooperativas de táxi eu automaticamente estou sendo reintermediado por uma empresa de aplicativo, pois eu preciso desse novo ambiente para fazer a corrida.

Eu posso usar sem problema o conceito “desintermediação”, pois de fato está ocorrendo, mas se eu deixo solto, sem apontar para a imediata reintermediação, que se passa a ter.

Eu defendo que há um processo de desintermediação na sociedade, quando, na verdade, está vendo uma passagem de uma intermediação “a” para uma intermediação “b”. Assim, é mais preciso, mesmo que soe estranho falar em reintermediação.

O cara tem que parar para pensar e ver o que a maioria não consegue enxergar. Às vezes, alguns conceitos são educativos, justamente pela estranheza.

Nós não viemos para nublar ou “desnublar” pouco, mas para ajudar a enxergar melhor, dentro da nossa limitação de visão em um dado momento do desenvolvimento da teoria diante do problema!

Ou seja, como ocorreu no fim da Idade Média.

Fomos desintermediados do rei e fomos intermediados pelos políticos da república.

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Não há, assim, desintermediação pura para um paraíso desintermediado. (Isso é uma tendência de muitos tecno-otimistas.)

Não se trata de chatice e nem de preciosismo, pois uma análise completa será feita e ações serão tomadas em nome de um mundo desintermediado e não vamos tornar invisíveis as ações dos novos intermediadores que começam a ter também os novos problemas de intermediação. Ou seja, vou deixar de ser preciso e é justamente isso que os conceitos procuram: precisão. Não dar muita margem para que não se compreenda com clareza o que você está vendo e o que você está identificando.

O papel do teórico é não deixar margem de dúvida aonde ele acha que não deve deixar!

Ou seja, neste caso,  ser humano será eternamente intermediado por organizações.

A mesma coisa no uso do termo “virtual” quando usado para descrever atividades na Internet e eu rejeito é justamente por esconder que não é uma virtualidade o que está ocorrendo, mas uma comunicação a distância.

Isso faz toda diferença, pois não se namora virtualmente, mas a distância, como é e foi no telefone. Mesmo um namoro em que os dois não se conheçam e escondem a sua identidade. Seria igual a um namore no escuro em uma boate, nas devidas proporções. Assim, haveria uma peseudo-virtualidade na relação, mas não por causa da rede, apenas pelo anonimato, que a rede pode favorecer em alguns casos específicos, como também pode ocorrer fora dela.

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Há, porém, conceitos que podem ser usados como sinônimos que, até um dado momento, não aparentam ter consequências danosas. Os problemas de conceitos mal empregados vão se mostrando danosos com a disseminação e, principalmente, no uso prático.

Eu, por exemplo, por uma questão de fuga dos “sindicatos” de plantão (diferentes escolas que estudam a Internet) resolvi usar “controle de ideias”, para não usar controle da informação.

Foi consciente e proposital.

O uso de controle da informação vai esbarrar em todo o pessoal que estuda informação e vai prender o conceito em uma escola específica, o que eu não quero, pois procuro trabalhar com uma ciência nova, que é a Antropologia Cognitiva. E quanto mais a nova ciência transitar com conceitos novos por entre as ciências existentes, melhor, pois cria um estranhamento e uma possível desintoxicação, obrigando ver de novo e não usar velhos conceitos que seriam chamados indevidamente.

Mas se alguém usar controle da informação, a partir, por exemplo, dos efeitos na sociedade do rádio e da televisão e eu usar controle das ideias, não vejo grandes problemas. Seriam sinônimos, grosso modo, até que eu conclua que há problemas e aí revemos.

Minha decisão neste caso não foi estratégica, ou seja de conteúdo, mas simplesmente tática para evitar alguns transtornos.

  • Assim, conceitos ajudam a precisar e evitar confusões mentais e de ação.
  • Quando são usados sinônimos indolores, tudo bem.
  • Mas quando terão consequência de problemas de interpretação, tudo mal.

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Para fechar, outro dia estava discutindo em um áudio o conceito “capitalismo” e sugeri mudar para “empresismo”, que seria mais coerente com feudalismo.

  • Feudo – núcleo do sistema econômico anterior;
  • Empresa – núcleo do sistema atual.

Uma pessoa tachou de burocrático o áudio, como se não tivesse importância.

Não concordo.

Quando uso capitalismo eu escondo toda a rede de empresas produtivas, sem as quais não haveria oferta. Cria uma visão de um sistema só baseado no capital, quando, na verdade, sua origem foi para ser algo mais complexo, livre e dinâmico em relação ao que tínhamos no final da Idade Média.

Quando se questiona o capitalismo, muito por causa do conceito, se destaca a ganância, como se fosse o sistema do capital, do dinheiro, quando, na verdade, todos os sistemas econômicos são baseados nas trocas e há – nas contrações de ideias, aumento de poder e, por sua vez de ganância.

Querer concentrar riqueza não é algo do atual sistema econômico, mas do próprio ser humano, diante de algumas conjunturas sociais.

(O interessante que o conceito “capitalismo” foi justamente dado por quem era e continua a ser contra ele, esquecendo que há toda uma rede de empreendedores, do empresismo, que o sustenta.)

Isso nos leva para pensamentos e ações completamente distintas.

Ou seja, conceitos são balas poderosas e podem, como já vimos, quando imprecisos, até matar.

Que dizes?

One Response to “Quando é possível flexibilizar e quando não é um dado conceito?”

  1. palhano disse:

    Entendo sua preocupação com a honestidade do termo. Vejo problemas em replicá-lo, em termos de marketing, que não pode ser ignorado se o objetivo é que a mensagem alcance o maior número de pessoas, temos um problema. O Capitalismo, embora tenha sido cunhado pela própria crítica, foi adotado inclusive por quem o defendia, o significante é mais importante em termos de propagação do que o significado, no meu ponto de vista.

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