Comentei aqui as 4 etapas para estabelecer um Diálogo Honesto.
Note que temos dois perfis em termos de impedimento para um diálogo, que vou chamar de:
- – Incapacidade de diálogo estrutural – despreparado e ainda incapaz para um diálogo honesto no geral;
- – Incapacidade de diálogo conjuntural – incapaz para um determinado diálogo específico.
Diria ainda que no caso Estrutural temos os despreparados eventuais (que terão mais facilidade sendo superadas algumas barreiras) e os crônicos (que dificilmente conseguirão estabelecer um diálogo)
INCAPACIDADE DE DIÁLOGO ESTRUTURAL:
No caso 1, há pessoas que estão intoxicadas de dogmatismos variados.
O dogmatismo é a incapacidade de perceber a percepção.
Ou seja, há uma relação direta da pessoa com uma dada visão da realidade, inventada obviamente, da qual ela não abre mão.
“Eu vejo uma realidade que é A realidade”.
E quando isso acontece dificilmente vai se estabelecer um diálogo honesto.
Por isso, todas as minhas aulas começam com a problematização da percepção da percepção e a separação entre realidade e percepção.
O dogmatismo (a perda da capacidade de ver a percepção) é a praga do mundo atual, provocador da macro-crise da comunicação que estamos passando, provocada pela Ditadura Cognitiva dos meios eletrônicos de massa do século passado quenos colocaram nessa situação.
Quando alguém consegue olhar para a sua própria percepção tem chance de ver que ela pode estar equivocada e precisa do outro para saber se há um fantasma na sua frente, sim ou não.
É quem duvida da percepção que pode sentar para dialogar, de outra forma fica impossível.
INCAPACIDADE DE DIÁLOGO CONJUNTURAL:
Mas nem sempre uma pessoa que já está trabalhando a percepção da percepção, está disposta a dialogar sobre tudo.
Vejo isso várias vezes.
Um diálogo precisa de:
- – interesse mútuo em torno de um dado problema que ambos querem ver resolvido;
- – tempo para se dedicar a hipóteses sobre ele.
(Diálogo não giram em torno de assuntos, pois assuntos são ótimos para passar o tempo. Um diálogo honeste necessariamente altera algo na maneira das pessoas agirem, se não é passatempo.)
Quando as duas coisas não batem, a tendência é que a coisa não vá adiante.
Por isso, acho que comentar um texto, ou sentar para conversar exige uma dedicação e uma vontade para que isso ocorra.
Volta e meia, quando uma pessoa, que não é um dogmático estrutural, reage de forma estranha a um dado texto, ou a um dado papo, pode anotar: é a pressa.
A pessoa quer, mas não tem tempo e aí normalmente, passa pela tangente.
- Ou chega a conclusões sem conseguir passar pela compreensão do que foi dito;
- Ou precisa colocar o diálogo em uma dada gaveta e isso implica em adjetivar.
Os adjetivos servem para isso: cortar um diálogo e poder dormir tranquilo, achando que conversou, quando, na verdade, empedrou outro e arquivou.
Um debate honesto é um espaço sagrado.
Em que vai se sentar com vontade e tempo para realmente se dedicar a juntos trocar impressões sobre um determinado problema e tentar mudar a forma de agir e pensar sobre ele.
O problema que hoje perdemos muito tempo em papos irrelevantes (diálogos desonestos ou monólogos honestos) , que não são diálogos e nem são honestos, pois são superficiais, e não selecionamos que conversas e que papos poderiam ser mais proveitosos.
E isso faz parte de uma escolha consciente e racional que deve nos levar a:
- – correr dos dogmáticos estruturais – fuja como o diabo do Windows; 😉
- – ver quando há um dogmatismo conjuntural – a pessoa está sem tempo ou não se interessa por aquele tema;
- – e achar, finalmente, quem quer se aprofundar e vai dedicar um tempo para aquilo.
Nestes momentos, temos algo mágico que é aonde a sociedade pode dar um salto: criar mais e mais uma metodologia para estabelecer Diálogos Honestos, em que as partes estão dispostas a se entender e a mudar algo que gera sofrimento comum.
É isso, que dizes?
[…] E este também: http://nepo.com.br/2014/06/11/procurando-parceiros-para-um-dialogo-honesto/ […]
Perfeito, gostei muito do:
“O problema que hoje perdemos muito tempo em papos irrelevantes (diálogos desonestos ou monólogos honestos) , que não são diálogos e nem são honestos, pois são superficiais, e não selecionamos que conversas e que papos poderiam ser mais proveitosos.”
Esse texto me levou a refletir q apesar de interessada em manter a honestidade, percebo q ainda tenho muita dificuldade de sair de uma caixa e não entrar em outra…
Exercitar o diálogo honesto é, realmente, fundamental para estimular a alteração das sinapses e permitir o upgrade pro digital.
A questão é q além dessa Academia do Clube, não há muitas opções de exercício no ambiente físico, como é o caso das relações em família, de trabalho e sociais.
Fica a questão, como é possível manter a honestidade se a maioria das pessoas não aceita dialogar nessa direção? Se não percebem e nem têm interesse em perceber q a terceirização da responsabilidade não resolve os próprios problemas?
Nepô, refletindo seu ponto de vista na aula e nos videos e textos, estou convencido de que a grande dificuldade para um dialogo honesto esta na nossa incapacidade de ouvir a outra pessoa.
Não ouvir no sentindo de tentar encaixar e filtrar o que acho bom na percepção dos outros no nosso pensamento. Entendo que a ditadura cognitiva se utiliza disso o tempo todo, e isso é o que aprendemos a fazer desde pequeno, é como nossos pais, professores e a sociedade em geral nos ensinaram a criar a nossa realidade.
O desafio é mudar totalmente a nossa forma de raciocinar e de moldar a nossa realidade. Destruir barreiras e trabalhar a nossa auto estima e de forma diferente.
Entendo que o grande desafio esta em conseguir entender efetivamente a percepção da outra pessoa, procurando entender o que acontece do outro lado sem preconceito e com empatia (diria até compaixão) sua verdade, fazendo efetivamente entender que realidade é essa e porque ela existe e por que é diferente da minha. Só assim então eu acredito ser possível confrontar realidades diferentes através de um dialogo verdadeiramente honesto.
Concordo. As pessoas precisam estar dispostas a dialogar e mudar suas percepções. Infelizmente, há pessoas que associam suas percepções a própria identidade ou personalidade, como se isso não pudesse ser alterado. A verdade é que o diálogo honesto é uma ferramenta poderosa para nos aperfeiçoarmos e evoluirmos nossa percepção, capacidade cerebral, etc.