O que seria a verdade?
Verdade é algo provisório.
É a tentativa de ponte entre o que percebemos e a realidade.
Sim, cada um tem a sua verdade no trilho, desde que o trem não passe por cima. 🙂
Ou seja, se todo mundo está dizendo a verdade, com certeza, tem alguém mentindo.
O que podemos dizer, sim, é que todo mundo tem a sua percepção mais ou menos próxima e eficaz de uma dada realidade.
E conforme a pessoa viaja na maionese a vida adora trazê-la para uma salada concreta.
Sim, realidade é uma professora cruel e perversa de todas as mentiras de plantão, pois adora colocar as falsas-verdades de castigo.
Assim, a verdade é um espécie de jogo entre a nossa percepção e a realidade, que vai se ajustando e reajustando para que possamos adaptar nossas vidas aos contextos de cada momento.
Quem vive verdades absolutas, precisa necessariamente se fechar em um castelo absoluto para que nada possa alterar a sua percepção absoluta.
É uma caixa decididamente fechada no pensar e agir.
Ou seja, a verdade funciona para mim, pois eu coloquei grades e muros para que eu possa continuar sem que a professora-realidade questione o meu mundo, mas quanto mais eu me fecho nessa percepção, mais eu fico preso no mundo em que eu criei!
Mas mesmo assim, nem sempre, por mais alto que seja os muros e as verdades criadas, o nosso mundinho resiste a determinadas mudanças.
Então, a verdade é a nossa capacidade de:
- – perceber que temos apenas percepções;
- – que nossas percepções são transitórias;
- – e que há um jogo bacana de percepções que podemos jogar.
A vida de um lado, jogando bolas de realidade e nós do outro ajustando as percepções para poder devolvê-las!
Quando saímos da caixa, conseguimos ver as percepções.
Sair da caixa nada mais é do que ver a caixa!
Sim, sair da caixa é simplesmente olhar para a própria caixa como algo provisoriamente encaixado.
Sabendo que o encaixe é provisório, a partir do jogo jogado agora e na próxima, próxima, próxima…… partida.
Essa seria, no fundo, a base filosófica para o Conhecimento Líquido, pós Ditadura Cognitiva do século XX que, finalmente, vai ficando para trás!
Saindo, FINALMENTE, de um século equívoco de massa, que nos tirou a capacidade de ver a nossa percepção.
Hoje, meus alunos – intoxicados por esta herança perversa acreditam que enxergam a realidade. E isso é a maior caixa que podemos ter. Não ver que a caixa é a nossa percepção
E que somos nós – com nossa baixa capacidade de abstração – (o que nos traz covardia), que nos auto-aprisionamos em nossas percepções empedradas.
Ver a caixa é simplesmente assumir o que existe de mais humano em nós.
Nossa capacidade de ver diferente, com nossos próprios olhos, para poder trazer ao mundo um outro olhar, aumentando a taxa de diversidade do planeta!
Então, o que é a verdade?
É a vida nos mostrando que algo em nossa percepção tem que ser ajustado.
E quem nem sempre é possível andar em cima do trilho, achando que é ciclovia.
A vida não é, assim, boa ou ruim, é a vida com suas regras, que podem até ser mudadas até certo ponto em um dado contexto.
Exige-se sabedoria para saber o que dá e o que não dá para fazer com a percepção até então conquistada.
É isso, que dizes?
Lembro-me bem que ao editar uma revista sobre Fotografia lá pelos idos de 2000, um dos colunistas, profissional renomado, explicou-me como fez sua foto com uma frase durante nossa entrevista; “é preciso conhecer as regra para poder quebrá-las”. Então, levei isso comigo e por várias vezes exercito o que ouvi dele.