Há dez anos dou aulas participativas.
A maior dificuldade que tive ao longo destes anos do ponto de vista coletivo é lidar com o perfil reativo das pessoas. A maioria dos alunos sofre o mal da passividade e da baixa taxa de reflexão sobre o que recebem da vida.
Isso se revolve, através de muita conversa, incentivo ao diálogo e exercícios específicos, incentivando que todos falem o tempo todo.
Os maiores problemas, entretanto, não são estes coletivos.
São quando lidamos com o que chamei de “ceticismo tóxico” (ver mais sobre isso aqui).
São alunos que aparentemente parecem pró-ativos, pois falam muito, participam, mas são extremamente reativos à mudanças, pois adoram discutir, mas não acreditam em nada que possa ser feito em termos práticos. São falsos-pró-ativos.
É um tipo de perfil de aluno cético em relação a tudo e passará ao longo do processo tentando provar que nada vai dar certo, seja na forma de pensar, mas principalmente na de agir. Tudo tem um porém, uma dúvida, uma desconfiança, sem propor, entretanto, nada no lugar.
Como vimos aqui na Didática Reversa, as aulas participativas visam levar a turma de um ponto “a” para um ponto “b” para que possam lidar de forma mais amadurecida diante de determinados problemas.
Em algum momento existe um trabalho no pensar e outro no agir.
O ceticismo crônico levará à exaustão a discussão em ambos os casos, sem que haja nenhuma proposta no agir, pois nada há a ser feito em um mundo sem solução.
Aparentemente, parecerá um aluno pró-ativo, mas com o tempo, vai se perceber que, no fundo, o que ele gostaria é permanecer com sua crítica cética e inativa sobre a sociedade, que é cômoda e lhe dá um status de um ser pensante.
É difícil de identificar esse perfil.
Lidar com esse tipo de aluno exige que se trabalhe não com o que está sendo discutido (maneira de pensar), mas na atitude (maneira de agir). Veja que temos duas batalhas em aulas participativas: a da emoção e da razão, como agir e como ver.
Neste caso, é preciso puxar do ceticismo tóxico a sua contradição, que está por debaixo do discurso muito bem estruturado: a não proposta de ação e mostrar que essa atitude é problemática.
O retorno que deve ser feito é.
- Ok, qual é a sua proposta, então, para atuar no mundo?
- O que você sugere em termos de ação?
- Se esta ação não leva a nada, o que colocaria no lugar?
- E se não há ação o que fazemos, nos suicidamos todos? 🙂
O trabalho de lidar com esse cético/crítico/imobilizado/imobilizante dentro do conteúdo e das teorias levará sempre a um impasse, pois ele é profissional de debates inócuos, que visam levar a inação, um ponto em que se sente confortável.
O que deve se trazer é o objetivo dos encontros, que visam uma ação e questionar as propostas inativas ou não estruturadas de ação, o que vai dirimir o problema e reduzir o espaço para um debate infrutífero.
Sugiro nestes casos, uma dedicação maior, inclusive fora da sala de aula, para atuar junto a eles para que possa procurar um caminho, que não inviabilize ao longo dos encontros o diálogo mais aberto. O trabalho é procurar demonstrar que por trás da crítica existe um gap de ação, que precisa ser sanado.
É isso, que dizes?
[…] Veja aqui um pouco como eu sugiro a lidar com este transtorno. […]