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A tecnologia tem um papel de liberadora da espécie de uma Área de Restrição/Proibição para uma determinada Área de Liberação. Assim, quando uma nova tecnologia chega, alguns limites, fronteiras da espécie, se ampliam do ponto “a” do momento da pré-tecnologia para o ponto “b” pós- tecnologia, obrigando a uma mutação da espécie maior ou menor, dependendo do seu alcance.

O ponto cego para entender o novo século é, portanto, a revisão do papel da tecnologia como algo fundante da nossa espécie e não algo periférico.

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Geralmente, nos vemos filosoficamente como uma espécie que usa tecnologias, algo meio neutro, que dominamos e fazemos dela o que queremos. O que nos leva a dar zero para o peso das tecnologias nas ciências humanas e sociais.

A filosofia puxa as teorias e o que nos leva a metodologias. Quando as primeiras são ineficazes as segundas seguem o mesmo trilho.

O aumento gradual do uso das tecnologias tem nos mostrado que somos mais influenciados do que imaginávamos por elas.

Muitos defendem que tal influência começou agora recentemente, pois estamos usando MAIS tecnologia, mas, na verdade, o que nos fez virar Homo Sapiens foi a nossa capacidade de criar próteses para superar obstáculos ao longo de nossa expansão pelo planeta.

Não somos a única espécie que usa tecnologias, vide o castor, ou o João de Barro, mas somos a única que recria o tempo todo as suas tecnologias.

Diria mais.

A nossa espécie é a única que está o tempo todo em processo acelerado e contínuo de mutação, pois o seu ambiente tecno-ecológico está o tempo todo se reinventando e exigindo adaptações. Em alguns períodos (geralmente os de contração cognitiva) menos e em outros (geralmente os de expansão cognitiva) mais.

A tecnologia para nós não é algo conjuntural ou periférico, mas estrutural. Não é, portando, uma revisão teórica das forças do momento que atuam na sociedade no século XX ou XXI, mas uma profunda revisão filosófica de como vemos a própria espécie, no que chamei da criação de uma Filosofia tecno-cognitiva.

O que os séculos XX e XXI nos mostram, de fato, é apenas – com muito mais evidência –  esse papel estruturante da tecnologia na espécie em função de cada vez mais mudanças que ocorrem que não conseguem se encaixar nas filosofias e teorias de plantão.

É preciso reolhar (gosto desse novo verbo) a tecnologia de forma ampla, pois considero que tudo aquilo não é natural que usamos e não vem no nosso corpo da barriga da mãe é tecnologia! Incluindo aí a linguagem.

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Não somos, portanto, “naturais”, mas tecno-artificiais por natureza. Somos humanamente tecnológicos ou tecnologicamente humanos. Esta, assim, não é uma visão tecnocrática, mas uma visão tecno-filosófica mais eficaz do que a hegemônica atual:  um ser “natural” que usa tecnologias neutras a seu bel prazer.

Podemos, assim, dizer que:

  • As outras espécies mutam (inventei esse verbo) com as mudanças ecológicas.
  • E nós mutamos com as ecológicas e com as tecno-ecológicas culturais.

Amadureci  ainda ao longo do tempo que, de fato,  não é bem a tecnologia que muda o mundo e nem seus criadores, apesar de terem uma boa cota de participação, mas uma brincadeira que vou chamar do Jogo do pode-não-pode tecnológico.

  • – a nossa Tecno-ecologia é definida por atos que podemos fazer e outras que não podemos;
  • – as proibições do que não podemos muitas vezes são superadas através da criação de novas tecnologias;
  • – estas tecnologias mudam o Jogo do pode-não-pode tecnológico da sociedade  agora “não se pode” para “agora se pode”.

A placa do jogo do “agora se pode” abre para o que vamos chamar de Área de Libertação Tecnológica, que é um período de tempo, no qual algo que não se podia e que era “humanamente impossível” passa a ser “humanamente possível”.

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Nestes momentos, cria-se uma nova possibilidade para que ações que antes não eram possíveis passem a ser agora.

A tecnologia tem um papel, portanto, de liberador e potencializador da espécie de uma Área de Restrição/Proibição para uma determinada Área de Libertação. Assim, quando uma nova tecnologia chega, alguns limites, fronteiras da espécie, se ampliam do ponto “a” da pré-tecnologia para o ponto “b” pós- tecnologia, obrigando a uma mutação maior ou meno, dependendo da tecnologia.

Veja uma tentativa de desenho:

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Assim, a tecnologia é uma porta que nos leva de:

  • Uma zona de proibição humana – de ações que não eram possíveis serem feitas;
  • – Para uma zona de liberação humana – de ações que não eram possíveis fazer e que passam a ser.

Assim, sob este aspecto, as tecnologia são criadoras de Zonas de Liberação, de passagem de “a” (não pode) para “b” (agora pode) e promovem mutações na espécie que passa a ter/poder/querer conviver com a nova possibilidade de realizar novas ações que antes não podia.

A tecnologia abre, assim, possibilidades para quem consegue enxergá-las, potencializá-las, pois a espécie passa a ficar mais poderosa, seja para causar mais ou menos sofrimento!

Partes do corpo e do cérebro precisam se adaptar ao novo ambiente  tecno-ecológico, gerando essa constante mutação.

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Sob esse prisma, o que coloca a nossa espécie em mutação não é a tecnologia que surgiu, mas a possibilidade que ela abriu para sairmos de uma zona do “não possível para a espécie” para o “agora possível para a espécie”.

  • A tecnologia é, assim, desenvolvida por um Inovador Tecnológico, que muitas vezes não tem noção exata da chave que ele inventou.
  • E para que o potencial de liberação da nova tecnologia seja possível é preciso que entre a atuação do Inovador tecno-social, aquele que consegue perceber os limites que foram transpostos e até onde se pode ir dentro da Zona de Libertação Tecnológica que foi aberta.

Toda tecnologia tem este poder de abrir Zonas de Liberação umas mais e outras menos, provocando, como disse aqui, taxas maiores ou menores de mutação.

É isso, que dizes?

One Response to “A área de liberação tecnológica”

  1. […] Zona de Liberação Tecnológica – momentos da espécie em que uma tecnologia libera determinadas ações que antes não podam ser feitas, ver detalhes aqui. […]

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