A principal função da filosofia é compreender as limitações e potências da espécie. Quando abordamos este tema – que condiciona todos os outros – estamos lidando com a filosofia da filosofia, a mãe de todas as filosofias, que coordena todas as suas outras variantes, tais como o aprofundamento dos conceitos de justiça, o amor, o ódio, a liberdade, etc.
A filosofia de maneira geral é encarregada das grandes questões de fundo. E podemos dizer que existem questões mais ou menos profundas abordadas pela filosofia. E quando falo em profundidade diria que se trata do que é condicionado e o que é condicionante. Quanto mais for condicionadora uma visão sobre as outras coisas, mais profunda podemos dizer que ela é, mais enraizada está e vice-versa.
Diria, assim, que a principal função da filosofia é compreender as limitações e potências da espécie. Quando abordamos este tema – que condiciona todos os outros – estamos lidando com a filosofia da filosofia, a mãe de todas as filosofias, que coordena todas as suas outras variantes, tais como o aprofundamento dos conceitos de justiça, o amor, o ódio, a liberdade, etc.
As questões, tais como: o que sou, para onde vou, por que estamos aqui e o que eu devo, posso e quero fazer ao longo da minha vida? Fazem parte do núcleo filosófico, que desdobram em outras perguntas. Conforme se responde de um jeito essa questão, as outras todas são SUBORDINADAS a ela.
Ou seja, a filosofia da filosofia é condicionadora ou uma filosofia condicionante e as demais são subordinadas. Esta é a área nobre da filosofia.
A filosofia da filosofia procura, assim, traçar o que é a nossa impotência, potência e onipotência.
A atual crise filosófica pós-Internet é tão profunda, pois exige uma revisão na placa-mão do pensamento, na filosofia da filosofia, a partir de um erro grosseiro até aqui: o papel secundário dado à tecnologia para compreender a nossa espécie.
Viemos até aqui, de certa forma, empurrando com a barriga esta questão, mas agora as atuais mudanças nos deixam sem alternativa.
Tocamos muito de leve, de forma periférica, mas nunca a tecnologia foi um elemento relevante na filosofia da filosofia. E este, eu diria, é o erro central que nos leva a visões distorcidas, nas outras filosofias periféricas, que, por sua vez, o conjunto da obra, condiciona as teorias e, por sua vez, condicionam as metodologias, como detalhe no triângulo do conhecimento.
O problema é que a filosofia das filosofias é como o epicentro de todas as outras visões que temos do mundo. Hoje, nos vemos como uma espécie natural diante das outras e não como rigorosamente uma tecno-espécie, que tem nas tecnologias o grande fator de mudança de potência da espécie humana. A tecnologia nos liberta e nos condiciona, conforme vamos aumentando nossa complexidade demográfica. Ou seja, uma tecnologia altera a filosofia das filosofias de duas formas:
- – de forma estrutural – não podemos mais ver a nossa espécie sem a visão da tecno-espécie;
- – de forma conjuntural – analisar a cada nova camada tecnológica o que terá impacto na nossa vida dali por diante.
Se existe um erro grosseiro nesse epicentro filosófico, tudo que vem depois, as filosofias secundárias, as teorias e as metodologias que são subordinadas a elas repetirão esse equívoco.
Tal revisão nos leva à mudança radical no pensar sobre a nossa espécie, que deixa de ser vista como “natural”, mas condicionada por mudanças radicais nas tecnologias, principalmente as cognitivas que passam a ser os fatores principais de mudança da espécie.
Arrisco a dizer que essa revisão da filosofia da filosofia é o grande corte epistemológico do século XXI e fará parte da grande revisão epistemológica das ciências humanas do futuro.
Sem esse ajuste, toda a visão sobre o novo século será cada vez mais turva.
Mudanças desse tipo de percepção são demoradas, pois abalam certezas que estão no centro da nossa concepção da espécie, bem arraigadas, nem a terra e nem nós sermos o centro do universo, nossa descendência dos macacos e o conceito do inconsciente e da sexualidade desde a infância. São exemplos de mudanças de paradigmas que mexeram justamente nessa filosofia da filosofia, pois mudaram certezas básicas sobre nossa espécie.
A meu ver, qualquer tentativa de compreender o que estamos passando sem essa revisão na filosofia da filosofia, vai nos levar a areia movediça dos equívocos da filosofia das filosofias do passado.
É preciso, portanto, uma nova corda filosófica para nos tirar do atoleiro!
É isso, que dizes?