A academia e a sociedade têm, cada vez mais, vivido de sentimentos e de impressões e menos de reflexão. Estamos querendo olhar a realidade sem óculos (um campo de estudos capaz de entender as atuais mudanças) e acreditando que conseguimos vê-la diretamente apenas com emoções e intuições – estamos quebrando a cara.
Não podemos analisar os fatos (flores) sem um óculos adequado (ciência).
Precisamos de um campo de estudo, de uma ciência para analisar os fatos, pois são eles os ordenadores do caos, o que vai nos permitir enxergar a “realidade” de formas menos equivocada.
É preciso para que esse “óculos” nos ajude optar por o que chamei de triângulo do conhecimento:
- Filosofia – uma visão mais ampla do ser humano, com suas impotências, potências e onipotências;
- Teoria – as forças que atuam no problema, diante desse ser humano;
- Metodologia – as formas para atuar nesse problema para minimizar sofrimentos.
Porém, a academia e a sociedade têm, cada vez mais, vivido de sentimentos e de impressões e menos de reflexão. Estamos querendo olhar a realidade sem óculos (um campo de estudos capaz de entender as atuais mudanças) e acreditando que conseguimos vê-la diretamente apenas com emoções e intuições – estamos quebrando a cara.
Vivemos hoje o fim de um longo período de contração cognitiva, o que nos leva a uma radicalização do estudo do presente e uma dificuldade muito grande de abstração.
As atuais ciências ou são muito pragmáticas (querem resultados muito imediatos) ou viajandonas (vivem no mundo dos anjos e dos duendes).
Estamos vivendo um momento muito peculiar que vai embaralhar definitivamente todas as ciências sociais, pois há uma dupla novidade:
- A mudança real de uma tecnologia estruturante da espécie – alterações nas tecnologias cognitivas, que nos leva a um novo potencial e, portanto, a uma mutação da nossa tecno-espécie;
- A demanda por um campo de estudos (um óculos) que seja capaz de incorporar tal mudança do ponto de vista filosófico (nos ver como uma tecno-espécie), teórico (entender como essa nova força altera a sociedade) e metodológico (como podemos lidar com ela).
Chamei esse campo de Antropologia Cognitiva, que estuda as mudanças da alterações das tecnologias cognitivas.
Nestas macro-crises, na qual um elemento estruturante da espécie está em movimento: as tecnologias cognitivas, é preciso colocar a tecno-espécie, de novo, no centro do foco para recomeçar.
Perdemos de perspectiva que somos uma espécie animal com seus movimentos estruturantes, tal como quando começamos a andar em pé, falar, usar o fogo e agora nos comunicamos de forma completamente diferente, via digital.
Estamos, assim, diante não só de uma mutação da tecno-espécie, mas das ciências que nos estudam, tanto do ponto de vista do objeto, como da forma de construir o conhecimento, do que chamei de Ciência Ninja.