Estamos, mas não admitimos isso, saindo de uma Idade das Trevas Contemporânea da humanidade. Um dos problemas que temos em fases desse tipo é a produção de conceitos sem fundamentação.
(Vivemos isso também na saída da Idade Média, na luta dos três mosqueteiros da verdade impressa.)
Não entenda fundamentação, entretanto, de forma clássica, tal como um certificado dado por alguém que tem um diploma em uma organização renomada.
Isso é o que mais existe por aí e é um dos problemas que temos hoje. Boa parte da academia (principalmente na área de humanas) desenvolve conceitos para colocar na parede, como se fossem troféus, mas não para ajudar a resolver os problemas emergentes da sociedade.
O que falta no mercado do pensamento é a memória de cálculo de como chegamos aos conceitos, a sua fundamentação baseada em argumentos, que nos permitam, pela lógica da comparação e classificação, chegar a algo mais consistente que não deixe margem às dúvidas, que levam a pensamentos e práticas equivocadas.
Diria que um conceito se constrói e melhora quando abrimos para discussão e interação. Conceitos guardados no cofre, tendem a apodrecer.
Dito isso, dois conceitos que me parecem que precisam ir para a berlinda do debate público são o de mídia social e rede social. São conceitos populares, mas pouco problematizados, o que nos leva a mais embaçamento na nossa miopia cognitiva crônica.
Note que toda mídia é social, pois ela vem servir à sociedade. A linguagem, a escrita, a escrita impressa, o rádio, a televisão são mídias sociais.
Se escolho chamar o movimento que ocorre hoje na sociedade com a chegada da Internet e digo que temos agora mídias sociais, estamos partindo do princípio que o rádio e a televisão, por exemplo, eram o que?
Anti-sociais?
Diria que toda mídia, seja ela qual for, é social.
E que existem mídias que centralizam os canais e outras que expandem canais.
Assim, teríamos mídias que quando surgem e se desenvolvem são mais verticais e mídias mais horizontais.
A Internet é uma mídia, assim como foi o papel impresso, que expande canais e, portanto, podemos dizer que quando chegam elas tendem, por um período, a horizontalizar a produção da verdade na sociedade.
(Note que essa horizontalização não é eterna, vide o papel impresso, que é absorvido pelas estruturas da sociedade ao longo do tempo, porém em outro patamar civilizacional.)
Assim, acredito ser mais eficaz chamar a Internet de uma mídia social mais horizontal, ou mídia social horizontalizadora, ou mídia social descentralizadora.
O que a torna mais precisa em comparação com a anterior.
Passemos agora ao outro conceito: rede social.
Todos os seres vivos formam uma rede interativa de diversos elementos. A Terra e o Universo são uma grande rede interconectada, criando e mantendo a vida ativa.
Assim, podemos dizer que vivemos em uma grande rede multi-ecológica, da qual não temos e nunca teremos a noção de seu tamanho exato.
A nossa espécie, dentro dessa macro-rede ecológica, cria uma rede específica e sui-generis, que podemos chamar de rede humana, que tem como característica própria e particular a ser sempre mediada e regulada por tecnologias cognitivas que foram criadas por nós para nos permitir existir.
Uma rede humana é, assim, sempre mediada por tecnologias cognitiva que foram criadas ao longo da nossa história, incorporadas à espécie de forma quase invisível e precisam ser melhoradas, aperfeiçoadas e repassada às novas gerações.
Ninguém, lembrem, nasce falando. É preciso que aprenda a tecnologia da linguagem, bem como da escrita e de todos os outros aparatos cognitivos que possuímos.
Portanto, quando falamos em redes humanas, temos que pensar em tecno-redes sociais.
O que ocorre nestas tecno-redes sociais é que com o aumento da complexidade da espécie, com o crescimento de tamanho, as tecno-redes sociais vão ficando obsoletas para gerenciar as demandas e precisam se sofisticar.
E aí agregamos às tecno-redes do passado novos elementos para que tenhamos alternativas de aumentar a nossa flexibilidade e potência enquanto espécie.
A linguagem, a escrita e, agora, o mundo digital são upgrades na nossa rede tecno-social.
Ou seja, não podemos chamar a Internet de rede social, pois ela cria uma confusão com uma pseudo-rede social que seria a rede humana.
E não podemos chamar a Internet de mídias sociais.
Assim, para sermos precisos temos que dizer que estamos sofisticando a nossa tecno-rede social, que sempre existiram, com mais elementos para nos tornar mais potentes para lidar com novas complexidades demográficas que temos pela frente.
O que podemos, assim, definir como um conceito mais eficaz e adequado é de que estamos saindo de uma rede tecno-social eletrônica/impressa, baseada fortemente no papel impresso, rádio e na televisão. E introduzindo uma nova rede tecno-social, mais sofisticada, tendo como eixo central aparelhos digitais conectados.
Ao questionar os conceitos que estão aí em profusão, a saber mídias sociais e redes sociais estamos abrindo uma necessária discussão, papel de quem quer pensar com lógica o novo mundo, para que possamos entendê-lo melhor, o que é um grande salto para atuar com mais eficácia nele.
Que dizes?
Versão 1.0 – 14/11/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.
O conceito não foi estabelecido com nenhuma exatidão, carece disso. O homem é um ser social, logo tudo o que tange ele é social. Internet é uma rede internacional de ligações físicas e lógicas entre computadores, um meio (mídia) poderoso. Dizer que o uso que o homem faz da internet é social, penso que é apenas uma redundância. No entanto, dizer que é uma mídia social, me dá a ideia que é uma mídia ao alcance de todos, barata, o que não é o caso de uma brochura com fotos coloridas, bem cuidada, ou seja, cara.
Rede social me da a ideia de “fazer a social”, ou seja, bater papo. Sugere futilidade e uma utilização que não “trabalha”.
Bruno, ou seja, não gostas do termo também é isso?