O certo e o errado precisam de um gabarito. Todo o modelo da sociedade hoje, iniciando fortemente pela escola, aponta um gabarito, que não existe mais em um mundo polivox.
Você faz uma prova, na qual há uma verdade construída e que você deve ser capaz de conhecê-la.
Se você acertar a resposta, está certa, pois está igual ao gabarito e vice-versa.
A escola de hoje (e todas as organizações sociais) foram preparadas para um mundo sólido, estável, pouco mutante, com redes cognitivas verticais que conseguiam manter essa verdade hegemônica de pé.
Porém, o mundo mudou.
A principal causa das mudanças, para este que vos fala, é a chegada de redes cognitivas descentralizadoras, que permitem mais e mais verdades circulantes, que se chocam com as verdades verticais de plantão.
No fundo, estamos dizendo o tempo todo que o atual gabarito que nos apresentam não nos parece fazer sentido!
Esse modelo mais líquido, de verdades como um software, nos leva para um mundo sem gabarito, no qual não temos mais uma tampa da caixa para fazer o quebra cabeças e aí que a coisa complica. Complica, pois a nossa subjetividade e objetividade foram preparadas para viver em um mundo com gabarito e não com um mundo sem gabarito.
Essa é a principal crise humana que estamos passando com a chegada das redes cognitivas descentralizadoras, que, inapelavelmente, tornam o mundo muito mais líquido (não na ideia de Bauman, mas no meu conceito de liquidez = fluidez de verdades).
Ou seja, hoje não temos aquela velha e boa moral, que nos indicava o certo e o errado, com algum líder-alfa de plantão a nos guiar.
Mais do que nunca, nessa fase da expansão cognitiva, algo como o existencialismo de que nos diz que temos que construir a nossa vida do zero, a partir de uma ética e não mais sobre receitas de bolos morais.
O guia para nosso ego agora é a interação da/na rede, o grupo, a troca. A interação perceptiva que não me deixa mais viajar na maionese, pois o grupo me contém e não mais o grande outro. É a verdade vertical que dá lugar a uma horizontal, fortemente baseada em tecnologias, que me permitem a interação coletiva de missa e de massa.
Isso implica em uma mudança radical de como devemos preparar o ser humano para viver em um mundo sem gabarito, como tentei falar um pouco aqui.
- Nosso ego tem que muscular para se transformar em um ego ético e não mais moral.
- Nossa percepção do real precisa fortalecer a abstração.
- Não precisamos mais da aceitação, do amor, do reconhecimento do grande outro, mas é preciso fortalecer a aceitação por nós mesmos, com alguns afagos dos pequenos outros.
Vivemos um profundo drama, uma incompatibilidade entre o que demanda o novo mundo e o legado que temos do mundo que entra em ocaso.
Eis o cenário, concordas?
Por aí,
que dizes?
Versão 1.1 – 05/11/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.
[…] Como disse aqui, não temos mais um gabarito para seguirmos. […]