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Versão 1.0 – 18/09/2013

Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

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Caiu nas minhas mãos por acaso em um sebo o livro “Império da Comunicação” de Tim Wu.

O livro não é antigo, é de 2012, e procura desenvolver o estudos da indústria de informação do século XX para entender os possíveis caminhos da Internet.

Wu defende a tese de que há algo como um “Ciclo” que rege a indústria da informação, que se inicia promissora e descentralizada capaz de mudar o mundo e, por fim, se torna centralizada, frustrando expectativas, como foi o caso do telefone, cinema, rádio e televisão.

O estudo do livro é sobre a indústria da informação do século XX.

Concordo com o autor, discordando.

Defendi mais recentemente algo parecido com o conceito dos Ciclos, na ideia de pêndulo cognitivo , no qual se pode perceber o controle e descontrole das ideias na sociedade, em movimentos de expansão e contração, porém é algo diferente de Wu e vou explicar por que.

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Wu parte de um método indutivo pragmático para fazer sua análise histórica.

O método indutivo pragmático é aquele que vai direto aos fatos sem, entretanto, construir um método de análise dedutivo-teórico antes para evitar cair na armadilha da “poluição do senso comum”.

E isso faz a maior diferença, principalmente quando lidamos com fenômenos esquisitos.

A Internet é algo esquisito na forma que veio, como se desenvolveu e nas consequências que tem provocado na sociedade.

O método indutivo-pragmático de Wu começa a ter problemas, pois ele não procura qualificar as diferentes tecnologias que está estudando, pois ao colocar o telefone, o cinema, o rádio e a televisão no mesmo patamar do que a Internet nos traz um problema de tipos diferentes de tecnologia.

Há aquelas que pela natureza da tecnologia cognitiva, seu custo de circulação de ideias, tende à centralização ao se expandir. E há aquelas que pela natureza de circulação de ideias são descentralizadoras, com baixo custo de distribuição de ideias.

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Esse quadro teórico dedutivo-teórico é importante quando analisamos este tipo de fenômeno para evitar cair em comparações muito ligadas ao senso comum, que é a crítica que os anti-empiristas fazem, como é o caso de Bachelard, que há muito tempo atrás apontava justamente esse risco ao se analisar fenômenos de baixo para cima sem um modelo teórico que desse suporte as análises.

A Internet pode ser bem comparada ao papel impresso, que até hoje, apesar da concentração dos jornais ou mesmo das grande editoras, ainda permite produção descentralizada, pois o custo é relativamente baixo, assim como a Internet.

São mídias que, por sua natureza tecnológica, são descentralizadoras.

Outro dado relevante e o estudo da prensa é fundamental foi o longo período de descentralização das ideias, que durou de 1450 até 1800, quando um modelo centralizado de governança deu lugar a outro.

Ou seja, ao fazer um recorte só do século XX, sem procurar momentos similares no passado e não qualificar as tecnologias devidamente, Wu esbarra em uma parede, que o impede de ver algo como tecnologias cognitivas descentralizadoras seus efeitos na sociedade no passado, descartando estudos interessantes da Escola de Toronto e os pesquisadores da história da informação, da comunicação e do conhecimento.

Pode-se concentrar no século XX, mas não somente nele, pois é justamente neste século e nos dois anteriores, pós-Revolução Francesa que o “ciclo” que ele chama se fechou em torno de tecnologias congitivas centralizadoras, que podem ter aparecido como algo diferente, mas tinham tudo para rapidamente se fecharem.

Não houve um rádio aberto, nem uma tevê aberta, nem um cinema aberto ou telefone aberto.

Houve o início pequenas empresas que precisavam crescer e centralizar para poder se expandir, o que não ocorreu com o papel impresso e nem me parece que vai ocorrer com a Internet.

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Isso não quer dizer que não estamos e nem estaremos assistindo, como foi com o papel impresso, processos de centralização, como é o caso do Google ou do Facebook. Podemos dizer que há micro-centralizações no processo, mas não podemos comparar a centralização de uma tecnologia por natureza centralizadora de outra que tem outro perfil. 

Porém, o risco de mega-concentração definitiva, como foi o caso da televisão por exemplo, é de outra natureza, não por que o ser humano não queira, mas pela natureza da tecnologia que estamos lidando, que é mais afeita, ou não, a centralização, em função do seu custo.

O livro traz inspiração para criticas e pode servir como ferramenta para muita gente já apontar que estamos indo para o mais do mesmo.

Porém, por fim, falta ao autor a comparação da mídia e seus efeitos.

Uma mídia centralizadora, cria o movimento de contração e por sua vez de consolidação de um dado modelo, como foi o caso do capitalismo-república. E há mídias descentralizadoras, que cria movimentos de expansão, como foi o caso do papel impresso, que detonou o clero-monarquia.

O livro de Wu peca, a meu ver, e muito por querer fazer história, porém com um corte específico, sem uma teoria que o sustente e chega a conclusões limitadas, com até intuições interessantes, como o do ciclo, porém com pouca abrangência.

Continuei a discussão sobre o livro aqui.

Quer dizes?

One Response to “Wu: quando a visão pragmática tropeça”

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