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Nosso cérebro procura sempre gastar a menor quantidade de energia possível. Por isso, criamos hábitos e ligamos o piloto automático para operar nas nossas vidas com o baixo desgaste cerebral.

Tudo que é estável nas nossas vidas tendemos a tornar invisível para nos preocupar só com aquilo que não nos deixa viver nossos hábitos. Porém, nem sempre o que consideramos invisível é estático. Nossa visão de mundo e forma de agir esbarra na vida, que bate na porta e nos diz que não é bem assim que a banda toca.

E aí reside o problema, pois não estamos olhando para os lados e acabamos picados por algo que achávamos ser uma pedra e era uma “cobra”.

Uma crise, sob esse ponto de vista, é algo que vem de um lado que não nos preocupava, não víamos, que era incapaz de nos tirar o sono e acaba por nos obrigar a mudar nossa forma de pensar e nossos hábitos, sair da caixa, da zona de conforto, o que nos exige mudanças provisórias ou definitivas.

Há sempre uma má vontade quando nos deparamos com crises, pois elas atrapalham aquilo que mais gostamos: viver sem gastar muita energia cerebral.

Temos uma vontade enorme de ficarmos seguindo na mesma direção, mas acredito que o piloto automático é bom na reta, mas não faz curvas.

Queremos desesperadamente voltar aos hábitos e, para isso, ou negamos a crise nos agarrando a eles ou procuramos resolvê-la para voltar à zona de conforto dos hábitos, que podem ser os antigos ou os novos, conforme o tamanho da crise.

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As crises, portanto,  podem ser provocadas:

  • pela continuidade de alguns hábitos –  que nos torna pouco flexíveis ou repetidores de práticas nocivas, onde se inclui também as crises existenciais de tédio e de vazio. Ex: uma doença por excesso de álcool, ou sal, ou chocolate;
  • ou por fatos novos externos aos nossos hábitos – que nos exigem uma mudança parcial ou definitiva. Ex: uma enchente, o aumento do aluguel, etc.

Podemos dizer, assim, que há crises e crises.

  • Há crises que são conjunturais e passageiras – aquelas que alteram temporariamente nossos hábitos, mas depois de sua passagem nos permitem voltar para eles, uma doença de baixo impacto é um exemplo típico.
  • Ou crises estruturais – aquelas que alteram definitivamente nossos antigos hábitos e que depois de sua passagem que não nos permitem mais voltar para os hábitos antigos, tal como uma doença grave ou a morte de alguém muito próximo (Veremos neste outro post que temos dois tipos de crises estruturais).

De maneira geral, toda vez que temos uma crise nossas velas e rezas pedem que seja uma crise conjuntural e passageira, pois não queremos alterar nossos hábitos, pois isso vai exigir esforço extra do cérebro e um tempo maior de dedicação para superá-la.

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A princípio, portanto, sempre tendemos a diagnosticar, por comodidade,  qualquer crise como passageira e conjuntural. E adoramos todos aqueles que nos apresentam esse diagnóstico e vice-versa.

As crises conjunturais e passageiras são tratadas sempre por uma baixa reflexão, com dedicação parcial, que nos leva a promover um ajuste pequeno em um dado hábito, provocando baixo esforço de energia do pensamento. Assim como crises estruturais e definitivas (paradigmáticas ou epistemológicas)  exigem mais tempo de reflexão, pois nos obriga a um ajuste bem maior, um alto esforço de energia do pensamento.

Um diagnóstico de uma crise é a tentativa de procurar saber de que tipo de crise estamos lidando e como superá-la, já sabendo que a tendência será sempre por optar por aqueles que apontem para crises conjunturais e não estruturais.

  • As crises conjunturais – geralmente são tratadas com pequenos ajustes metodológicos ou no máximo de baixo uso de teoria e filosofia;
  • As crises estruturais – são teóricas e filosóficas, pois exigem um novo olhar sobre aquilo que não considerávamos ser capaz de alterar nossos hábitos. Havia algo que nos levaria a mudar nossos hábitos, mas nós não sabíamos e é preciso repensar o que era invisível.

Portanto, podemos definir:

  • Mudanças metodológicas são indicadas para crises conjunturais, já que as metodologias lidam com crises dentro de um contexto teórico- filosófico inquestionável, muitas vezes invisível para se voltar a antigos hábitos.
  • Mudanças teóricas-filosóficas são indicadas para crises estruturais, já que as teorias e filosofias lidam com crises em contexto metodológico questionável, quando as práticas conhecidas não são capazes de lidar com a crise para se retornar aos novos hábitos.

Desenvolvi duas tabelas para ajudar nessa discussão:

crise2 crise1

Que dizes?

Vou aplicar o conceito de crises na chegada da Internet.

 Versão 1.2 – 22/10/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.

 

8 Responses to “Santa crise, maldita crise!”

    • Teresa Mafra disse:

      Vivemos eternamente em crise, seja estrutural, seja conjuntural, seja emocional ou ainda todas juntas e misturadas. O que as desencadeia é , ao meu ver, a grande questão. Somos seres eternamente insatisfeitos, uns mais ,outros menos, horas mais, horas menos e o que nos move é o desejo, sempre. Desejo de ser feliz, de operar mudanças, de conquistar um lugar ao sol, de termos uma família, trabalho, de ser ouvido, aceito pelo próximo, pela sociedade. De construirmos algo, de investirmos nele e aí é que entra o estopim. A vida não para, a dinâmica da vida se torna cada dia mais intensa, corrida, sofrida, in-justa, e a rotina se modifica junto com ela, os hábitos mudam, reagem, resistem e acabam por ceder ao “caos”. Temos que enfrentar a realidade da vida, o que por vezes impacta na nossa vida real. E aí, podemos resolver uma crise, mas outra logo surgirá. Viver é preciso, desconstruir também…
      E quanto ao momento “monoteísmo eletrônico”: Que Zaratustra chegue sorrindo…

  1. Carlos Nepomuceno disse:

    Legal Teresa…volte sempre.

  2. […] rápido e isso faz com que as organizações tenha que se lançar as algo que elas detestam: mudar (ver mais por que o humano detesta mudanças aqui). Precisamos segui-las, elas inovam e vamos inovar também. Criemos […]

  3. […] Hitler e a inovação | Nepôsts – Rascunhos Compartilhados em Santa crise, maldita crise! #1 […]

  4. […] A inovação hoje é apenas um santo vazio no altar | Nepôsts – Rascunhos Compartilhados em Santa crise, maldita crise! #1 […]

  5. […] Detalhei aqui o conceito de crises e vamos aplicar agora esse olhar sobre a chegada da Revolução Cognitiva Digital. […]

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