Versão 1.0 – 05/09/13
Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.
Por aprofundamento do tema sobre a chegada da Internet, acabei chegando no conceito de “era monoteísta” ou fim da “escola monoteísta”, “empresa monoteísta”, etc. Ou passagem para a “era politeísta” “escola politeísta”, “empresa politeísta”.
Uma amiga disse que não gostou, não faz muito sentido.
Gostaria de discutir algumas coisas sobre esse tema, a partir dessa sadia provocação e defender o uso deste conceito, pois tem sido muito útil em vários sentidos. Para isso, vou detalhar:
- – primeiro uma ideia geral sobre conceitos;
- – depois a construção de conceitos neste nosso novo mundo líquido;
- – e, por fim, problematizar o termo em si (monoteísmo politeísmo) e seu uso .
Ideia geral sobre conceitos:
A partir do Wikipédia:
Conceito (do latim conseptus, do verbo concipere, que significa “conter completamente”, “formar dentro de si”), substantivo masculino, é aquilo que a mente concebe ou entende: uma ideia ou noção, representação geral e abstracta de uma realidade. Pode ser também definido como uma unidade semântica, um símbolo mental ou uma “unidade de conhecimento”. Um conceito corresponde geralmente a uma representação numa linguagem ou simbologia.
Tiro do termo a ideia de representação de algo em um determinado pedaço, uma unidade semântica, que forma dentro de um conjunto de outras uma narrativa, que pretende explicar uma teoria. E aí temos algo interessante, pois:
- Teoria – é o estudo de forças em determinados contextos, que explicam variações de estabilidade e instabilidade de um dado problema estudado sempre em movimento.
- Narrativa teórica – é a forma que conseguimos repassar esta teoria para que se torne inteligível e possa ser útil as outras pessoas para que tomem decisões mais adequadas, a partir de uma dada teoria;
- Conceitos – imagens semânticas que ilustram a narrativa, de tal forma a não prejudicar a coerência da teoria e nem a possibilidade de comunicação.
Note, assim, que há uma separação, mesmo que tênue, entre a teoria, algo mais matemático e intangível na cabeça do pesquisador, que é um trabalho individual de cada um e da narrativa de como ele consegue expressar as conexões novas que conseguiu fazer, a partir do desenvolvimento do seu trabalho, procurando tangibilizar o que conseguiu concluir.
- Há muitos pesquisadores que não conseguem transformar teorias em narrativas.
- E há muitos que desenvolvem ótimas narrativas para teorias nem tão eficazes.
- O ideal, e acho que Freud é um bom exemplo, que consegue equilibrar as duas tarefas.
Os conceitos, assim, devem se encaixar bem dentro de uma dada teoria, serem expressos em uma narrativa, que consiga não desvirtuar a lógica e, ao mesmo tempo, deve ser eficiente para “vender” a ideia.
E quando digo vender a ideia devemos pensar em algo que seja muito curto, rápido, que pegue e leve as pessoas a pensar/aceitar/questionar o que se quer passar.
Um bom exemplo é o conceito contido nessa frase: “O meio é a mensagem” da Escola de Toronto, via McLuhan.
A frase original, título de um livro, era: “O meio é a massagem“, na qual estaria embutida, a “massagem no cérebro”. Mudaram o título por engano e a coisa vingou, pois era de fácil provocação. 😉
Assim, conceituar é algo de equilíbrio entre uma percepção e uma expressão da mesma, que seja mais popular (de fácil comunicação) possível, sem ser populista (conceder além do que se pode).
Construção de conceitos neste nosso novo mundo líquido
A criação de teorias e narrativas, bem como de conceitos, está sofrendo uma abalo com a chegada da Internet.
Note que a produção acadêmica tinha/tem como característica:
- – isolada do pesquisador sem feed-back até a publicação final;
- – com longa duração e produção a “portas” fechadas;
- – debates restritos, muitas vezes sem debate;
- – repasse em aulas de forma vertical, nas quais a construção da teoria não era feita com os alunos, que apenas eram/são receptores da mesma;
- – avaliação apenas por pares.
Dentro da ideia da Teoria Ninja, que desenvolvi aqui, temos algo bem diferente:
- – compartilhada em posts abertos, em blogs (ou outras ferramentas), com intenso feed-back ao longo de toda a pesquisa (este debate demonstra isso);
- – com curta duração/revisão e produção a “portas” abertas;
- – debates intensos;
- – produção coletiva em aulas de forma horizontal, nas quais a construção da teoria passa a ser feita com os alunos, que são co-autores da mesma;
- – avaliação dos pares fica bem reduzida, pois objetiva-se resolver os nós de quem precisa da teoria para resolver/ver problemas de forma diferente.
Nestes novos ambientes as teorias, as narrativas e os conceitos ganham uma liquidez muito maior, pois são beta-testados o tempo todo para saber se estão afinados:
Gosto de brincar com meus alunos que não se deve “casar” com conceitos, mas apenas “ficar”, pois eles são ferramentas de construção de narrativas e teorias, que estão em processo contínuo de interação.
Não são, na verdade, tão relevantes, pois podem ser usados em um dado ambiente e em outro pode-se procurar algo mais apropriado. Não se deve lutar por conceitos, mas analisar se eles estão fazendo bem para o tripé como um todo.
- Ajudam a repensar a teoria sem atrapalhar a coerência?
- Caem bem na narrativa, facilita ou confunde a compreensão?
Problematização do termo (monoteísmo politeísmo) e seu uso
Dentro deste espírito, vamos analisar os conceitos monoteísmo/politeísmo dentro da minha teoria/narrativa.
Tenho ampliado o estudo das revoluções cognitivas.
Minha tese de doutorado trabalhou bastante com a comparação entre Revolução Cognitiva Digital e do papel impresso. Precário isso, pois é algo que dá margem de que é apenas uma situação e não várias.
Depois do meu novo livro “Gestão 3.0“, comecei a ir mais fundo na Escola de Toronto, chegando a Havelock, que estuda o impacto do alfabeto na Grécia e depois iniciando em Innis, que vai estudar a comunicação em civilizações ainda mais antigas, como os babilônios.
Nestes estudos bati com a ideia de que a chegada da escrita manuscrita é muito ligada à chegada do monoteísmo, que altera a visão do mundo de algo poli para algo mono. São seis mil anos (o judaísmo está completando este ano 5774 anos) o que nos leva a algo muito próximo enter monoteísmo/escrita. A relação me pareceu fortemente evidente.
De novo Wikipédia:
A palavra monoteísmo é derivado do grego μόνος (monos) que significa “único” e θεός (theos) que significa “divindade”.
Note que não necessariamente Deus.
Divindade:
Divindade é um ser sobrenatural, mitológico, com poderes especiais, superior, criado espontaneamente ou por outra divindade, e muitas vezes sua imagem é tida como semelhante à do homem. Cultuado, é tido como o santo, divino ou sagrado, e/ou respeitado por seres humanos. Normalmente as divindades além de mostrarem-se superiores aos seres humanos, controlam ou são superiores à própria natureza.
Há uma aproximação muito clara entre divindade e autoridade.
De Deus com as autoridades divinas, que o representam na terra.
Assim, a passagem humana de algo que era oral e poli-visão, multi, para algo que passou a ser mono, visão mais fechada da verdade, de Deuses para Deus.
Se fosse algo no abstrato, tudo certo, mas o novelo nos leva a:
Judaísmo -> cristianismo -> modelo de igreja católica (papa, cardeal, bispo, padre), que nos traz ao modelo de hierarquia dos exércitos e, por sua vez, as atuais organizações. Não seria muito longe, portanto, dizer que, apesar de vários ciclos, a escrita trouxe o monoteísmo/ou as autoridades únicas, líder-alfa, que defendi no meu livro, uma governança da espécie piramidal para uma mais aberta.
Uma coisa chama a outra, mas o conceito monoteísmo leva uma vantagem, é muito mais comunicativa e próxima das pessoas. Não se trata de trocar, mas ter mais alternativas à gestão da espécie, que é algo ainda meio inusitado para as pessoas.
E isso nos leva para algo mais interessante, quando com a Internet desenvolvemos uma oralidade-escrita, como é claramente o Wikipedia, que é um texto coletivo e líquido. Assim, começamos de novo a sair de uma visão mono para uma poli.
Se imaginarmos o monoteísmo e o politeísmo de forma mais fechada mono-poli Deus, realmente teremos dificuldade no conceito, mas se pensarmos em algo aberto, como mon0-visão, piramidal, verdade fechada x poli-visão, horizontal, verdade aberta, aí sim começa a ser algo interessante.
Ou seja, olhando do alto, para a teoria é algo que a torna mais consistente e nos leva a inquietação intelectual, do estudo mudanças das religiões, que são as bases organizacionais da sociedade (com muitos textos) x revoluções cognitivas.
Olhando para a narrativa, nos permite mostrar de forma clara e evidente o fechamento de um ciclo de 6 mil anos, que era algo que não estava claro antes.
Por fim, em termos de ajuda para repensar coisas, tenho visto com outros olhos, por exemplo, a reforma de Lutero que foi uma reforma de um monoteísmo mais radical, ou da revolução francesa, idem para algo mais brando. Como temos agora as revoltas nas ruas que questionam o próprio monoteísmo em si – sem autoridades, cada um com a sua verdade/deus.
Estou bem confortável com o termo e foi bem aceito na primeira palestra que apresentei.
Vamos ver os desdobramentos.
Você, o que diz?