Versão 1.0 – 03/09/13
Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.
Aviso: este post é ainda especulativo e ainda está em uma linguagem muito cifrada, mas já aponta um novo caminho novo de pesquisa. Ajudem a melhorar.
A base da compreensão do século XXI está na chegada de um novo ambiente cognitivo pós-escrita e pós-meios eletrônicos de massa.
Ambos, por características tecnológicas completam um longo ciclo de monoteísmo escrito-eletrônico.
Temos que analisar que a escrita surgida há 6 mil anos trouxe para o mundo e influenciou fortemente na maneira que víamos/vemos o mundo. Note que há uma relação entre o modelo cognitivo e o monoteísmo, marcados na mesma época pelo surgimento da escrita manuscrita pelo judaísmo/Torá. Depois, na sequência, veio, pela ordem, o Cristianismo/Bíblia e a doutrina Muçulmana/Alcorão – todos baseados na palavra escrita.
- A escrita é a mídia eletrônica de massa estabelece a chegada de uma mensagem que vem de fora, de outro lugar, de alguém que não está presente,vem de longe, é fechada, contém uma verdade, que não será mudada por aqueles que acessam à mesma, no lugar da oralidade que pode ser contestada no local e na hora que é formulada, que permite a diversidade de opiniões e a multiplicidade de verdades.
- O monoteísmo tem relação com ela, pois é um modelo de pensar o mundo, através de uma mensagem (psicografada para alguém) que vem de fora, de outro lugar, de alguém que não está presente, que vem de longe, é fechada, contém uma verdade, que não será mudada por aqueles que acessam à mesma, ocupando o espaço do politeísmo que não pode mais diante da mensagem fechada ser contestada no local e na hora que é formulado, que inibe assim a diversidade de opiniões e a multiplicidade de verdades..
O monoteísmo/escrita, seguida depois pelos meios eletrônicos de massa, que seguem o mesmo fechamento da mensagem, estabelecem um modelo religioso-hierárquico, a base para as organizações sociais, do presidente, gerente, chefes, professores, juízes, parlamentares, prefeitos, governadores.
Podemos dizer que o monoteísmo faz parte de um longo ciclo da atual governança da espécie, na qual temos líderes-alfas bem marcados, mas que estão obsoletos diante da nova complexidade.
O modelo de diversidade e desmassificação já era um fator cultura evidente, mas agora vai ganhar toda a força com um ambiente cognitivo que favorece ainda mais a diversidade.
O modelo da governança da espécie, assim, segue o espírito religioso de uma época. Estaríamos com a chegada da Internet fechando o ciclo monoteísta de 6 mil anos e abrindo um novo politeísta-digital, no qual a mensagem não é mais fechada, pois permite que seja alterada – por qualquer um de qualquer lugar, sem hierarquias, por quem está na ponta, via wiki, por exemplo, ou, pelo menos, contestada, via comentários.
Abre-se o início de um ciclo politeísta, o que será a base das organizações do futuro e do novo modelo religioso/organizacional que vamos enfrentar.
Podemos dizer que o politeísmo oral e sua governança das tribos permitiu um tipo de modelo de administração da espécie em uma dada complexidade.
A escrita/mídia eletrônica serviu para estabelecer um novo modelo, que viabilizou o crescimento e a expansão que ocorreu nos últimos séculos.
Porém a complexidade demográfica exigiu/exige agora, já no início do novo século uma mudança de outra natureza.
O monoteísmo exige uma verdade única, ou poucas verdades únicas, o que nos leva para um bloqueio à inovação tão necessária quanto aumentamos a complexidade. O monoteísmo/escrito/eletrônico entra em decadência justamente quando saltamos de 1 para 7 bilhões e precisamos de novos “deuses” diversos para resolver a nossa nova complexidade.
Há, assim, um retorno (casual?) a uma oralidade agora digital, porém agora não mais encarcerada no local, mas mundial, que permite um novo modelo de governança mais politeísta, na qual pode haver várias verdades em paralelo, desde que atenda às necessidades de uma determinada tribo digital.
Isso cria algumas coisas interessantes.
Note que o modelo de conhecimento hoje é baseado em assuntos, pois os principais problemas são definidos pelo Deus/monoteísta/líder-alfa, que prepara seus “súditos” informando sobre os assuntos desconexos para que possam mais adiante servir para dar respostas as perguntas, que foram definidas de cima para baixo. Tal situação é necessária como uma forma de organização, inviável com uma mídia fechada como tínhamos.
O modelo de produção/repasse de conhecimento é, assim, baseado na falta de perguntas e questões vindas da ponta, apenas na absorção das “verdades-didáticas” contidas nos materiais impressos. Os “súdito” do monoteísmo não são formuladores de problemas, mas são preparados de forma alienada para que possam ajudar a resolvê-los, com respostas que são validadas pelas autoridades de plantão.
No modelo politeísta-digital, entretanto, temos uma inversão disso, pois volta-se, de novo, a formulação de perguntas debaixo para cima, mas, no entanto, é preciso uma base nova para que se saiba se estão corretamente resolvidas – se contém uma “verdade”.
E aí temos algo bem interessante, pois não há mais a figura da autoridade vinda de cima que vai definir se a pergunta é relevante ou se foi propriamente respondida, pois esta verdade era coletiva, nacional, global, pois a mídia tinha pouco espaço para multi-verdades de tribos.
Estabelece-se, assim, uma nova aliança de formulação da verdade e das perguntas não mais com autoridades monoteístas, mas com aquele pequeno grupo que tem interesse em vê-la respondida.
Define o que é verdade o grupo que considera-a útil para algum propósito!
Tenho desenvolvido a tese, ainda inicial, de que tal nova forma de produzir conhecimento visa – e tem como método de validação – a redução de sofrimento daqueles que sofrem pela falta de uma resposta mais eficaz para algumas perguntas não respondidas no monoteísmo. É uma verdade tribal, que é validada por um pequeno grupo, é a verdade que faz sentido para aquele pequeno grupo, só fazendo sentido quando se pensa em um politeísmo.
É um movimento de inversão.
A validação no politeísmo não vem de cima de um Deus monoteísta, mas é validado por aqueles que geram redução do sofrimento de quem está ali debaixo, procurando uma alternativa de solução para problemas que eram impossíveis de serem resolvidos no monoteísmo-impresso-eletrônico.
Não é importante, assim, o conhecimento de assuntos universais, para os quais o Google já está dando conta, mas a procura das micro-verdades de várias tribos politeístas, produtoras de micro-verdades validadas internamente.
É um salto relevante para a humanidade.
É isso, que dizes?
Acredito que o mais adequado como metáfora descritiva é entender a passagem de um modelo monoteísta no sentido de “origem e causa” para um modelo panteísta no sentido de “contextual e modal”. A literatura que me vem à memória e que contribuiria para isso ao identificar e separar o fluxo histórico do conhecimento do fluxo da linguagem é o trabalho de Jaeger [http://pt.scribd.com/…], e o caráter modal do panteísmo estaria na obra de Spinoza e, mais tarde, Hegel. A evolução da mídia se traduz na evolução do discurso, a palavra do rei um dia foi o único discurso livre, original e verdadeiro. A demografia obrigou que o discurso do rei passasse a ser escrito e referendado por entidades invisíveis. A multiplicidade de discursos exigiu o desenvolvimento de uma entidade única. Essa entidade única se desenvolveu em Estado e atual multiplicidade do discurso mais uma vez esfacela a entidade única, que já foi rei, deus, estado, todos no caminho do cemitério de significados. A multiplicidade dos discursos, agora mais velozmente distribuídos que nunca não vai desaguar em múltiplas entidades mas em subversão a todas elas em nome de um todo mais complexo que suas partes. O sentido planetário e multifacetado da mídia está substituindo a necessidade de meios de comunicação com a verdade, o discurso do real, via terceiros e abrindo espaço para o encontro individual ao universal. Na prática, o monoteísmo dualista (corpo-mente/certo-errado) está dando lugar ao monoteísmo monista (tudo é real/virtualmente real). A nomenclatura é panteísta – pela eliminação de intermediários – sem espaço para o politeísmo, ou qualquer proliferação de intermediários.