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Versão 1.0 – 19/08/13

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O Brasil é dividido de várias formas e vou propor uma outra divisão baseado na antropologia tecno-cognitiva.

Podemos dizer que temos com graus diferentes:

  • Um mundo oral – daqueles que não sabem ler, ou leem muito pouco;
  • O mundo escrito – daqueles que dominam a leitura e a escrita, mas não usam o computador;
  • O mundo digital – daqueles que usam o computador e agora a Internet.

Do ponto de dos estados de consciência, como gosta Walter Ong, ou da plástica cerebral como eu tenho usado, são três estágios de mutação humana diferentes.

O interessante que é comum a todos o uso da televisão/rádio, que é filtrado de forma distinta por essas categorias básicas. O mundo oral foi o modelo da sociedade até 1450, a escrita impressa + rádio e tevê marcam a sociedade até 1990 e o mundo digital vem daí por diante.

Podemos dizer que a oralidade marca um tipo de pensamento mais mágico, pois não é condicionado pelo escrito, que força um tipo de reflexão maior. Sem a massificação da escrita não teríamos superado a verdade divina pós Idade Média.

Podemos dizer que um ser humano oral vindo do passado tende a um Deus mais poderoso, pois não há explicações mais razoáveis para os fatos, ficando mais a mercê da emoção do que da razão, o que nos leva a imaginar uma atração por líderes mais carismáticos, que desperte mais emoções. Líderes mais racionais não tendem a ter adesão nesse tipo de plástica cerebral.

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Um humano domesticado pela escrita tende a ter uma hierarquia do saber mais definida, pois o autor não está presente, vem de fora, de outra localidade, mas ganha em racionalidade, reduz o envolvimento emocional com o conhecimento, tendo mais espaço para explicações mais lógicas sobre os fatos da vida.

Já os digitais, principalmente os nativos pós-Internet, vivem algo interessante, pois vivem em muitos aspectos um resgate ao mundo oral, só que agora a distância, superando os limites do espaço. Criam uma espécie de mix restaurador da escrita e da oralidade, em uma liquidez sólida, no qual tudo ocorre, intermediado pelo computador.

Talvez isso explique um pouco a revisão da noção de autoridade, pois eles são horizontais no aprendizado e não conseguem mais ver tanta necessidade (ou importância) em alguém que faça a tutoria do saber e de todo o resto.

Podemos dizer que o Brasil, assim, diferente de outros países convive hoje com três modelos da espécie humana bem demarcados e que, pela história estariam, no mundo oral, pré-revolução francesa, no escrito pós e no digital, já querendo fazer uma nova.

Para quem tem um projeto de país é preciso começar – de forma consciente e inteligente – um trabalho para a redução desse gap para que se possa criar uma sinergia entre estes três mundos. É preciso estimular de forma efetiva e o Ministério da Educação e a Capes têm um papel vital nisso de que o conhecimento hoje escrito passe para a oralidade da rede.

Na criação de um modelo de escola oral (como já defendi aqui nestes vídeos).

Deve-se estimular que os pesquisadores ao invés de ganharem apenas pontos por publicar, via papel suas ideias, que sejam TAMBÉM tão pontuados se colocarem suas ideias na rede para que os brasileiros possam escutá-los/lê-los.

Quanto mais tivermos material didático oral principalmente e seu complemento escrito e em português, mais rápido poderemos criar modelos de ensino que consiga quebrar os gaps cognitivos que temos hoje.

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A meu ver, não haverá um modelo de governabilidade sustentável se não lutarmos pela redução desse gap, pois a demanda de um cidadão oral será sempre por um tipo de representante mágico e, como são a maioria, acabam criando um modelo de dirigentes que acabam sendo o de todos e levando o país para um pântano de representação de baixa qualidade.

Falam em acabar com o voto obrigatório, que reduziria o peso do mundo oral, mas depois de muito pensar, acredito que isso ocultará um Brasil profundo que precisa mudar e ganhar mais consciência eleição por eleição, mas desde que haja um trabalho consciente e uma prioridade absoluta de colocar computador e internet cada vez mais pelo país, aliado a um projeto de educação não tradicional, no qual possamos estimular um salto de aprendizado pela oralidade na rede.

Por enquanto é isso,

que dizes?

3 Responses to “Os três brasis: oral, escrito e digital”

  1. Alex Rodrigues disse:

    Seguindo seu raciocínio, temos um problema (uma quantidade gigantesca de pessoas no mundo oral) mas que é uma tremenda oportunidade.
    Será que conseguímos, fazendo a introdução da internet e educando para a ela e nela, fazer com que essa espécie do homus-brasileirus-oralis passe a ser o homus-brasileirus-digitales?

    Desculpe pelo latim bizarro. 🙂

  2. Carlos Nepomuceno disse:

    Alex, esta é a prioridade de qualquer governo antenado com o futuro, temos que pensar formas de dar esse salto que seria muito interessante…e acho que o áudio e video pela rede são fundamentais.

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