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 Estamos repetindo na área pública (igual à privada) o mesmo modelo de implantação das “Redes Sociais” que tivemos com a chegada da Internet/Intranet, tendo como foco tecnologia e como setores responsáveis a TI e/ou comunicação e/ou marketing (mais raro) e/ou gestão de conhecimento. Porém, avisa-se: esse modelo NÃO ESTÁ DANDO CERTO!

 

Versão 1.2 – 23 de julho de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
Replicar: pode distribuir, basta apenas citar o autor, colocar um link para o blog e avisar que novas versões podem ser vistas no atual link.

Já há uma certa demanda dos gestores da área governamental para saber afinal de contas como começar a implantar projetos de Redes Sociais internas e externas.

Mais do que isso.

Começa-se a temporada de investimento generalizado nesse campo, pois a pressão é grande, porém quem já começou a gastar tem se decepcionado:  os resultados até aqui são pífios.

Querem que a tal colaboração caia do céu, mas parece que não está chovendo. 🙂

As dúvidas de implantação abrangem duas frentes:

  • comunicação interna – ou intranets 2.0, colaborativas – como fazer isso?
  • comunicação externa – presença nas mídias sociais: Facebook, Twitter, etc – como fazer isso?

De maneira geral, depois de longa discussão que tive com dezenas de instituições (nos eventos que tenho coordenado e nas consultorias realizadas) posso afirmar que o senso comum que está hoje no mercado passa por pensar tais projetos da seguinte maneira:

  • O senso comum diz que implantar redes sociais (internas e externas) é basicamente a implantação de projetos tecnológicos,  operacionais, dentro de uma área fim da organização.São projetos de comunicação ou tecnologia, que não mudam basicamente a forma de trabalhar.

Ou seja, estamos repetindo o mesmo modelo de implantação das “Redes Sociais” que tivemos com a chegada da Internet/Intranet, tendo como setores responsáveis a TI e/ou comunicação e/ou marketing (mais raro) e/ou gestão de conhecimento, como foco na tecnologia.

De maneira geral, os projetos começam a aparecer nas organizações, os primeiros reais começam a ser gastos, através, geralmente, da contratação de agências digitais de comunicação na parte externa. E na contratação de empresas de tecnologias para colocar algo parecido com o Facebook interno.

Tal como nas organizações privadas, os projetos nessa linha NÃO ESTÃO FUNCIONANDO.

Não, não é, como muitos acham, um problema do setor público, mas um problema das organizações piramidais, filhas de um ambiente cognitivo específico, que criou uma cultura de gestão, um modelo de trabalho e de relação com o cidadão que está em desuso. Tal forma de agir estará cada vez mais incompatível com o novo ambiente digital, que cria uma nova cultura de gestão e de trabalho!

O problema principal, a meu ver, é, assim, de visão: de onde estamos, para onde vamos e o que devemos fazer, afinal.

Não há um entendimento claro do que, de fato, está acontecendo no macro-cenário da informação.

Por causa disso, as medidas que estamos tomando estão baseadas em um paradigma pré-ambiente colaborativo.

É preciso ter claro que  vivemos uma macro-mudança civilizacional e estamos COMPLETAMENTE sem ferramentas teóricas e práticas para lidar com ela.

Assim, é bom ter calma, pois é um problema geral, mas que cada um tem que assumir a sua responsabilidade no processo.

Diferente do que o mercado tem apontado, tenho sugerido outra via para implantação de projetos de Redes Sociais em Organizações públicas (e privadas):

  • – Os projetos devem ter caráter estratégico, pois trazem uma forte mudança cultural;
  • – Devem se inserir na carteira de inovação como projetos transformadores;
  • – Devem ser tratados por diversos setores e não apenas um só;
  • – E não podem começar e terminar dentro da cultura atual, precisam ter espaços novos para um teste efetivo de conceito – em o que vou chamar “zona de inovação 2.0”.

Explico mais adiante.

Antes de tudo, é preciso, como tenho feito em algumas organizações públicas, criar um espaço de reflexão para compreender a dimensão do que de fato está acontecendo, através de um grupo estratégico para se situar, de forma racional, diante dos fatos.

De maneira geral e resumida, podemos dizer que Governo 2.0 significa:

  • A passagem de uma gestão piramidal para uma mais horizontal;
  • Uma democratização das decisões;
  • O reestabelecimento do diálogo perdido com o cidadão.
Vocês dirão.
“Não, não é assim que fazemos mudanças por aqui.”
Sim, sabemos que tudo é emocional, sem estratégia, sem discussão, coisas que vêm de cima para baixo, de supetão.
Porém, estamos falando da melhor forma de se fazer o processo. E quem procura fazer a coisa funcionar a contento deve  defender.
Conseguir colocar para funcionar é a segunda etapa do processo, mas nada vai ocorrer se os próprios agentes de mudança 2.0 já começam o processo com uma visão derrotista.
Certo?

Quando, por discussões lógicas, chegamos a compreensão dessa passagem, a maioria das pessoas avalia que NÃO SERÁ POSSÍVEL FAZER ESSA MIGRAÇÃO NA MINHA ORGANIZAÇÃO.

E, depois de muita discussão e prática, acabei tendo a concordar com eles, de certa forma.

Não, de fato, não será possível colocar novas tecnologias colaborativas, criando uma nova cultura em um ambiente não colaborativo, a não ser que inovemos de forma radical na implantação!

Sabe por que?

Uma cultura antiga é mais forte do que a nova.

Qualquer iniciativa nova dentro da velha, tende a ser rejeitada.

Assim, é preciso inverter o processo.

Criar um espaço novo, no qual a cultura nova é mais forte e ir trazendo problemas para lá, no qual o velho será mais fraco do que o novo.

O que tenho amadurecido – com ajuda da centena de interlocutores da área pública –  é que o projeto de implantação da nova cultura digital deve contemplar três ambientes separados na organização:

  • 1- o atual que continua a funcionar do mesmo jeito, com algumas melhorias;
  • 2- alguns testes e projetos no ambiente atual, colocando pontualmente algumas tecnologias novas para ir aculturando no novo ambiente;
  • 3- e um novo ambiente completamente novo, um grupo em separado, quase uma startup, que deverá receber problemas para serem resolvidos com a colaboração, tendo um processo que termina e acaba todo dentro da nova cultura.
Se não for assim, não se faz o teste de conceito e estaremos nos iludindo que estamos criando um novo espaço. Note bem que não estamos falando de passagem de processos antigos para os  novos, mas de problemas, que serão resolvidos de nova maneira.

A vantagem do trabalho nestas três dimensões são as seguintes do ponto de vista operacional:

  • – não se cria a ilusão de que os projetos 1 e 2 são os projetos que vão transformar a empresa, sendo este o 3, que será a ponta do futuro que está por vir;
  • – a possibilidade no ambiente 3 de teste integral do novo conceito para que possa se analisar os problemas de choque cultura e resolvê-los;
  • – criar um novo ambiente cultura que o digital seja mais forte do que o análogico, invertendo o espaço 1 e 2, no qual o analógico é mais forte que o digital.

A princípio, as pessoas estranham tal proposta metodológica, pois não acreditam que estamos diante de algo tão diferente assim e que não são duas culturas diferentes, sendo possível colocar uma dentro da outra.

Isso é uma discussão que leva tempo, exige muita conversa e exemplos, principalmente nos setores de ponta que estão no futuro – hoje vê-se claramente que empresas de tecnologia estão usando startups para inovar – fora do ambiente tradicional.

Podemos ainda citar os exemplos da implantação das urnas eletrônicas, que foi assim, protótipo a protótipo, das delegacias legais no Rio de Janeiro, ou mais recentemente o combate ao mosquido da Dengue, experimentando soltar mosquitos machos eunucos em uma cidade do Nordeste para testes.

O que se quer com tal projeto?

Tornar a organização mais inovadora, mais pronta para mudar, com atendimento melhor do cidadão/cidadã, lidando com novos e velhos problemas de nova forma.

 

Do ponto de vista do resultado, essa proposta ainda nos leva:

  • – para uma aprovação mais fácil, pois é algo muito mais fácil de gerenciar do que colocar algo novo na produção do dia-a-dia;
  • – pode se separar a nova cultura e poder ir passando gradualmente os novos problemas para ela;
  • – por fim, há uma redução de custos grande, pois não se tentará mudar algo que não é possível de mudar. Todo dinheiro em 1 e 2 que quiser implantar a nova cultura, ouçam bem, é dinheiro jogado no ralo se guardar a ilusão de que a empresa vai mudar.

Por fim, muitos duvidam que o governo vá mudar por agora e se mudar será algo tão distante que não vale o esforço.

Tais argumentos não se sustentam, pois:

  • a) já se está gastando dinheiro, a discussão agora não é essa, mas é como está se gastando e qual o resultado que vai se ter;
  • b) se propõe aqui, apenas, que esse gasto seja mais racional, do que emocional para se parecer “moderno”;
  • c) por fim, já estamos aprendendo com o projeto do Governo Aberto e Transparente de que as mudanças no âmbito do Governo não são graduais, mas intempestivas, geralmente motivadas por mudanças externas, o que chamei de mudança por vergonha internacional.

Assim, essas ilhas de inovação 2.0 internas são um momento de preparação para que quando vier a ordem de migrar de Governo Aberto (atual) para Colaborativo (futuro) já se tenha alguma experiência para se implantar algo que me parece inevitável.

É o caminho mais difícil de começar, mas o mais barato, rápido e eficaz para migrar.

Que dizes?

 

 

4 Responses to “Governo 2.0 – onde estamos, para onde vamos e o que fazer?”

  1. Mariza Neves Guimarães disse:

    Seus textos são sempre instigantes, que nos movem nos assentos e mobilizam para uma mudança, que, quase sempre, não sabemos para onde. O desejo é de mudar, de participar, de promover a inovação. Este texto, se por um lado nos deixa inquietos, mostra quase uma metodologia de abordagem. Como sempre, maravilhoso!

  2. […] 2.0 – onde estamos e para onde vamos? CARLOS NEPOMUCENO | 17/07/2012 • 18:051 comentário Estamos repetindo na área pública (igual à privada) o mesmo modelo de implantação das […]

  3. Carlos,

    durante muito tempo, também imaginei o Gov 2.0 como alguma coisa relacionada ao colaborativismo, ao movimento de redes sociais, menos árvore e mais rede. No entanto, de uns tempos pra cá, comecei a desenvolver um pensamento diferente. Hoje, quando penso em Gov 2.0, penso em Government as a Platform. Ou seja, penso no governo deixando de ser o provedor soberano de soluções à sociedade e tornando-se numa infraestrutura básica para que a sociedade inove e se ajude. Assim como na Web 2.0, quando sites abdicaram de ser os provedores soberanos de informação para se tornarem plataformas de colaboração e troca de conteúdo, eu acho que no Gov 2.0, os governos perceberão que são incapazes de resolver todas as mazelas sociais e que o verdadeiro poder de inovação e transformação está com o próprio cidadão, desde que munido dos devidos recursos. O que acha?

    []s

    • Carlos Nepomuceno disse:

      Alexandre,

      sim…mas vou ponderar algo…

      O Governo hoje é uma plataforma. Tem um conjunto de mecanismos para cumprir uma série de demandas na sociedade….

      A plataforma hoje é baseada em uma cultura de gestão centrada no papel impresso, que condiciona um modelo de atendimento.

      Estamos migrando para uma nova plataforma (o conceito de plataforma assim não é novo – ou de rede, que é uma rede – um tipo de rede) para uma outra cultura platafórmica.;)

      Nela, já é possível desintermediar ainda mais as atividades, como várias ações já foram feitas, tal como pagamentos, consultas, denúncias, via terminais e fones.

      O problema que é a passagem de uma cultura “a” para uma “b” que são diferentes.

      O modelo é outro e isso é o mais difícil.

      Por isso, a realidade tem me mostrado que o caminho mais fácil é criar zonas 2.0 de inovação para que isso possa ocorrer de uma forma completa e não parcial.

      Por aí, fecho contigo.

      Grato pelo comentário e visita,

      Nepô.

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