Podemos dizer que quanto mais silêncio houver, mais teoricamente temos a chance de aumentar a taxa de neuroses.
Versão 2.0 – 10 de junho de 2012 (revisada depois de dois meses)
Rascunho – colabore na revisão.
Replicar: pode distribuir, basta apenas citar o autor, colocar um link para o blog e avisar que novas versões podem ser vistas no atual link.
Freud nos alertou que nós não somos exatamente nós.
Isso foi o que sacudiu o mundo com as suas pesquisas e conclusões muito bem narradas em farto material.
O autor nos trouxe a “praga”: havia um inconsciente e o ser humano é, na verdade, mais do que um, no mínimo, dois.
Um que vive lá quieto, escondido, e outro essa máscara social que desenvolvemos.
Vivemos, assim, em cascos de tartarugas.
Nós lá dentro e o casco o que achamos que somos nós aqui fora.
Nossos traumas infantis (da família, escola, sociedade) nos levam a sofrimentos.
Para conseguir conviver com eles, criamos um casco social, que nos leva a neuroses, a repetições que aprendemos na infância para nos proteger, mas que viraram nossa identidade.
(Um autor que trabalha bem esse assunto é o Bradshaw, recomendo.)
O problema é que nosso casco torna-se, como o tempo, invisível.
E nós achamos que nossa máscara somos nós e não algo que criamos para nos defender.
Nós passamos a ser algo que não somos e aí está o problema das mudanças.
Nos agarramos a algo que é artificial, mas que nos protege. Qualquer coisa que venha a quebrar esse delicado escudo, nos balança e resistimos.
E como achamos que somos um só, esse outro “eu” passa a ser quem nos representa.
O falso-eu, que muitos podem chamar de ego, no sentido pejorativo do termo, algo que está ligado ao curto prazo, aos prazeres imediatos, aos atos sem reflexão.
Quando não trabalhamos sobre estes traumas, sobre esse casco que teoricamente somos nós repetimos padrões.
Temos que nos ver de fora, para nos afastar um pouco dessa casca, na medida do possível, pois sempre seremos esse bolo entre o eu e o falso-eu, talvez sejamos esse ser intermediário mais para lá ou mais para cá.
Os mais espiritualizados (quem sabe maduros) são aqueles que conseguem uma distância maior e vice-versa.
(Vou chamar estes padrões e estas neuroses não trabalhadas de falso-eu.)
Freud ao pensar na redução das neuroses criou um método para reduzi-las: a psicanálise.
O inconsciente é a teoria e a psicanálise a metodologia. A filosofia é a que o ser humano não é apenas um, mas dois ou mais, o que vem até de Sidartha, que considerava que o humano precisava superar seu ego.
Acreditava que falar e refletir sobre esses padrões, causas e consequências nos faria olhar de fora o falso-eu, podendo aumentar nossa taxa de liberdade, pois poderíamos sair dos padrões, através do diálogo e de uma visão de fora do casco da tartaruga.
Ou seja, ser livre é conseguir olhar de fora nosso casco de tartaruga, mas sempre escravos deste que não vai nos largar jamais. O remédio: a comunicação.
Algo como uma taxa maior ou menor de liberdade, conforme vamos conseguindo nos auto-conhecer e aprender quais foram os danos que tivemos ao nos civilizarem e como nos protegemos dele no passado, criando um falso-eu, que serviu bem a um propósito, mas tomou conta do pedaço.
E hoje não é mais útil, porém é a nosso único salva-vida para enfrentar o mundo.
A chave para a psicanálise, portanto, é a luta contra o silêncio e contra o embolamento da tartaruga e o seu casco.
A comunicação, através do diálogo, seguida de reflexão nos permite um olhar de fora dos padrões mais nocivos para os cada vez menos.
Portanto, se o diálogo nos liberta, o silêncio nos aprisiona. Podemos dizer, assim, que quanto mais silêncio houver, mais teoricamente temos a chance de aumentar a taxa de neuroses de cada um e do todo.
O falso-eu é assim muito ligado aos nossos sentidos e desejos. Ao impulso imediato. A resposta sem pensar, bastando algo externo apertar o “botão” adequado para definir uma reação a uma determinada ação.
Uma pessoa que tem uma alta taxa de falso-eu, sem a reflexão de fora, tem com tendência a aumentar o uso:
- do piloto-automático.
- do pensamento de curto prazo;
- do pensamento baseado no interesse individual;
- da repetição do senso comum;
- da cópia sem criação;
- da repetição e não da inovação;
- ao movimento do inconsequente coletivo.
Podemos ainda, assim, por analogia afirmar que há uma relação de:
Quanto menos comunicação houver em um dado ambiente, mais tenderemos a ter o aumento da taxa de neurose. E se isso vale para ambientes micros, tais como a família, vale também para toda a civilização, em ambientes macros.
E, por consequência, quando vivemos em lapsos de comunicação, teremos o aumento da taxa de atuação do falso-eu na sociedade.
Ditaduras, por exemplo, ou eras civilizacionais de pouca circulação de ideias, como a que estamos saindo agora depois de décadas de mídia de massa vertical.
Ou seja, conversar, fofocar, jogar conversa fora (como no Facebook) não nos leva necessariamente ao diálogo, mas quanto mais conversas, mais chances temos de desenvolver diálogos verdadeiros, reduzir a taxa de neurose e abaixar a taxa do falso-eu em determinado ambiente.
Pois o canal está mais aberto do que no passado.
(Note bem chance não é consequência direta, é apenas oportunidade.)
O ser humano é um ser social e a sensação de pertencimento a uma rede é um fator que o ajuda a se sentir menos só e com um espaço maior de compartilhamento, tendendo a desenvolver espaços de diálogo.
Porém, para que estes ambientes de diálogos ocorram precisamos sair do que achamos natural nas conversas.
É preciso que métodos sejam implantados para que possa usufruir do potencial do novo espaço da conversa aberta e criar ambientes de diálogo, que ajude a reduzir a taxa do falso-eu, que está alta em função do silêncio da mídia de massa passado.
Podemos citar dois casos bem brasileiros: Paulo Freire (diálogo na escola) e Augusto Boal (diálogo em torno de um palco de teatro para solução de problemas).
(Entende-se aqui diálogo como capacidade de mudar, a partir da troca. Da capacidade das partes de conseguir olhar o falso-eu de fora e mudar.)
Convivemos hoje com a massificação acelerada de uma nova tecnologia cognitiva desintermediadora, simbolizada com o nome genérico de Internet, um fenômeno social raro e incomum, que teve algo similar há 450 anos com a chegada da prensa.
A este chamo de Revolução Cognitiva.
Tal fenômeno tem a capacidade de aumentar a taxa de conversa em toda a sociedade e, por sua vez, aumentando a chance maior dos canais de diálogo.
Note bem, repito:
Não digo que qualquer papo no Facebook tira as pessoas do falso-eu, ao contrário, muita gente aumenta e fica compulsivo, reforçando-o, mas se abre a possibilidade do canal, que não havia antes.
Aumenta-se a cota da conversa, reduz-se o do monólogo da televisão, o que amplia a possibilidade de nos olharmos mais de fora do que antes.
Assim, podemos caracterizar, a princípio, a Internet como um macro-movimento global que tende a nos levar para a redução da taxa do falso-eu a nível global, pois aumenta a taxa da conversa e abre espaços para métodos de diálogos.
Ou seja, podemos afirmar que o aumento da conversa, da sensação de pertencimento, aumentando a auto-estima ( e os métodos de diálogo que estão sendo criados) em rede tendem a reduzir as neuroses sociais, ou melhor farão que as pessoas estranhem a si mesmo e ao mundo que estamos vivendo, procurando novos olhares, a partir do novo canal de troca.
Ao abrir estes novos espaços de reflexão, aumenta-se a taxa de liberdade, fora do falso-eu.
E, com isso, nos capacitar a ver com novos olhos velhos problemas.
Repito: descortinar intoxicações que a mídia de massa nos causou, pois nos voltamos cada vez mais para um falso-eu, fruto de uma redução drástica da taxa de circulação de ideias.
É uma macro-visão de um novo fenômeno social, que nos leva a pensar como ele vai se refletir no íntimo de cada um, em um movimento coletivo.
Começamos a querer resolver, de uma nova forma, a crise do meio ambiente, passando pela crise de representação política e dos impasses da centralização econômica, do dinheiro visto cada vez mais como fim e não como meio.
Porém, mudanças desse tipo não estão no radar das teorias sociais de plantão, nem da Psicologia e nem das ciências sociais.
Mas deviam correr muito atrás dessa nova teoria social-cognitiva mais eficaz que se amplia.
Portanto, a redução global da taxa do falso-eu é o principal – mas ainda invisível – fenômeno social do novo século, que terá impactos profundos na maneira da sociedade pensar e agir, saindo do casco de tartaruga que a mídia de massa reforçou.
É a base da nova civilização que surge.
Que dizes?
[…] Diante disso, acredito que o ser humano vive um dilema que tentei trabalhar neste post. […]
rapaz. e a utopia (aquela, factível) onde fica? o esforço! não tem esforço na tua lógica … vamos. coragem !!!!
[…] Reduzir o espaço do falso-eu. […]