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Quando não se vê o todo, qualquer tromba vira elefante – Nepô  – da safra 2011;

 

Versão 2.1 – 03/11/2011 (ainda rascunho)

Foto: Luciana Lima (tks)

Resumo:

A chegada da Internet tem sido confundida com uma mudança apenas tecnológica e não na maneira das pessoas se informarem, conhecerem, se comunicarem, se relacionarem.

Estamos vendo o rabo, mas não o elefante!

Consideramos que esse novo ambiente cognitivo é algo passageiro, como uma nova metodologia de ensino ou um mimeógrafo digital, que vem e passará, e tudo voltará como era antes.  Porém, os fatos têm demonstrado que estamos diante de uma mudança radical e inevitável, que vão marcar profundamente a sociedade, incluindo as organizações, entre elas, a escola para todo o sempre.

Os educadores precisam se preparar para entrar nesse debate de forma intensa e não fugir dele (como a maioria tem feito de forma passiva ou equivocada) para que o resultado dessas tensões seja humanamente melhor. Apresento aqui um pouco o que aprendi, até agora, estudando e debatendo sobre o tema. Se puder ajudar a clarear a minha visão, vá em frente: comente!

(Estive no Conecta 2011 , evento da Senai/Firjan aqui no Rio, para debater tecnologias educacionais. Tentei dizer algo que está neste post – o áudio completo da palestra aqui)

O texto atual dá sequência na minha obra em progresso, através do e-book, Gestão da Desintermediação,  que pode ser vista aqui.

Sem ensino, não há humanidade

Um ser humano quando  vem ao mundo chega  pelado de roupa e de conhecimento.

Temos que vesti-lo dos dois!

O aprendizado faz parte de uma necessidade humana básica para que possamos existir com o mínimo de qualidade. A cada cidadão/cidadã que nasce recomeça todo o processo de aprender tudo exatamente do zero, primeiro com os pais, depois com os amigos, escola, trabalho, na vida.

Há, porém, uma nova regra que estamos aprendendo aos poucos:

Quanto mais habitantes tivermos no planeta, mais precisaremos inovar no ensino para que ele possa cumprir a sua função. Ou seja, a escola para 1 bilhão de pessoas no planeta não pode ser a mesma do que para 7 bilhões.

Temos que ser criativos e compreender que há uma mudança radical a ser feita na nossa mentalidade controladora,  se quisermos continuar a crescer da forma que estamos, cerca de 1 bilhão a cada 10 anos!

A Internet é um ambiente indutor dinâmico para fazer uma macro-mudança sistêmica que nos permitirá ter instrumentos mais ágeis para atender às demandas de um mundo hiper-conectado e isso irá se refletir em como aprendemos, do nascimento à morte.

Os educadores, entretanto, com a chegada das novas tecnologias, principalmente a Internet,  estão pouco conscientes do tamanho das mudanças que estão vindo.

Há uma insegurança e um comodismo no ar que têm servido mais para uma postura passiva do que ativa, deixando o debate reservado para um grupo muito pequeno de profissionais, muitos deles, sem a visão do educador.

Avisa aí: não é o tecnólogo sozinho que vai resolver esse mega-problema do ensino!

Estamos todos, não só o profissional de ensino, nos adaptando a um mundo cognitivamente diferente, no qual se faz muita coisa de forma distinta, inclusive aprender e ensinar.

 

Ou seja, a Internet tem sido vista como uma grande mudança tecnológica, da máquina para a máquina e não do humano para a máquina e da máquina para máquina.

Estamos vivemos um momento raro na história.

Estamos mudando a conjuntura cognitiva (e não econômica ou política).

Um tipo de alteração que tem consequência muito particulares, principalmente na educação.

É preciso analisar que os efeitos das tecnologia variam. As tecnologias cognitivas, por exemplo,  são bem diferentes. E as tecnologias cognitivas desintermediadoras, o caso atual, são muito mais diferentes ainda.

Mexem com algo fundamental na sociedade: o controle e o poder, a partir da desintermediação da informação, da comunicação e do relacionamento entre as pessoas, tal como ocorreu em 1450, com a chegada da prensa, que moldou o mundo como conhecemos hoje.

Nossa escola é filha do papel impresso. E a dos nossos netos será filha da rede social digital desintermediada.

Uma tecnologia cognitiva desintermediadora nos permite criar  um novo ambiente de troca de ideias muito mais livre do que no passado, oxigenando a sociedade, permitindo um ar de mudança e a possibilidade de inovação geral das organizações, incluindo a escola.

Ou seja,  estamos sendo jogados por necessidade demográfica, sem saída, ou placa de retorno, de forma inevitável, para uma nova forma de controle sociedade-cidadão / organizações-consumidores /professores – alunos mais dinâmica e mais descentralizada.

Estamos desintermediando atravessadores obsoletos para ganhar velocidade por causa do tamanho da população. E tal tarefa inusitada implica em mudanças radicais na mentalidade de controle social e informacional passados, com forte reflexo no pensar e agir da educação e no trabalho em sala de aula.

 

Em função disso,  não estamos falando de um novo método de ensino opcional, mas um ajuste obrigatório, através de uma escola que tinha uma forte função indutora de saberes e terá que migrar lentamente para outra articuladora de saberes.

A percepção do inevitável ajuda muito a tomada de decisão. Pois não há o que decidir. 🙂

Eis, que se procuram as perguntas mais adequadas para os educadores nesse novo mundo digital desintermediado em rede do século XXI.

Arriscaria algumas:

  1. O que de fato está mudando de formar irreversível com a chegada da Internet e o que e como devemos nos adaptar na área de ensino? É preciso aprofundar estes pontos, como tento mais abaixo;
  2. Como continuar a procura de um ensino produtivo, eficaz, motivador e transformador com a menor taxa de sofrimento possível para professores e alunos no mundo das  redes digitais desintermediadas?
  3. Como podemos integrá-las ao processo de ensino, aperfeiçoando a maneira de ensinar?
  4. Quais são os ajustes que os educadores e educados devem fazer para se adaptar a elas? 

Em termos de mudanças relevantes trazidas pelo uso massificado das redes sociais digitais desintermediadoras já registrei algumas:

1) a independência informacional – os alunos aprendem a lidar com o novo ambiente informacional (computadores em rede/tablets/celulares turbinados de forma independente, através da Internet) antes de seus pais. (*) O aprendizado das tecnologias cognitivas pelas crianças, antes dos pais é um fato inédito na história humana.  Antes, um adulto guiou a criança para a leitura, a tevê, o rádio o jornal, hoje não mais. Talvez, essa seja uma regra daqui por diante: filhos chegam antes dos pais nas novidades tecnológicas como regra e não mais exceção. Serão os beta-testadores do futuro;

(*) (Note que aqui não estamos falando das camadas da população mais despossuídas, que têm um problema ainda maior, em termos de exclusão social e de ensino.)

2) a anorexia presencial – as tecnologias cognitivas, sejam quais forem (livro, rádio, jornal, tevê, internet) tendem a causar uma euforia/encantamento no uso pelo potencial pela melhora na recepção/contato com ideias a distância que conseguem e têm como, contrapartida improdutiva, certa tendência a provocar  anorexia presencial. Ou seja, nem sempre tecnológicas cognitivas em sala de aula pode ser algo “moderno”, pelo contrário, se o tema não necessita de prática tecnológica, deve-se estimular a conversa/troca entre os alunos. O que nos leva a, paralelamente, rever o modelo de ensino hiper-focado na forma unidirecional professor –> aluno;

3) o desfiltramento do professor – o professor e o livro, que eram os principais canais de passagem da informação e conhecimento para os alunos foram rompidos pelo Google & Cia.  O professor tenta, inutilmente competir com a Internet, quando deveria fazer dela uma grande aliada para ajudar a usá-la de forma mais rica. Tal fato, precisa ser trabalhado na subjetividade do professor, pois nosso ego foi educado para sermos os “donos da verdade” e não “os procuradores da verdades junto com os alunos”;


4) grupos on-line – os alunos passam a ter um espaço de troca fora da sala de aula, através das comunidades em rede (se deixar dentro também), o que é um fato novo, pois antes era impraticável, pois tal ambiente presencial dependia de espaços físicos e deslocamentos, mas agora isso foi facilitado. No futuro, mais e mais, trabalharemos em rede (e temos que nos preparar para isso). Tal potencial deve ser estimulado,  tanto presencialmente, rodas de conversa, como a distância nas redes sociais internas da escola, a critério dos alunos;

5) um mundo líquido – a velocidade das mudanças,  por diversos fatores, incluindo o demográfico, nos colocou em um mundo em que o conhecimento pouco se consolida. É alterado com muito mais constância, em um ambiente digital, coletivo, múltiplo, o que nos obriga a termos um aprendizado líquido e contínuo para toda a vida. É preciso fazer os ajustes no material didático, além de alterações na didática em sala de aula. O professor terá que se rever também, não é (como nunca foi) como obra acabada;

Para onde vamos, então – 10 sugestões de ações práticas

Tais fatos nos levam a ter que fazer um novo contraponto educacional.

Precisamos, com adaptações, inicialmente,  em espaços pilotos de experimentação (que faltam no modelo educacional brasileiro) monitorados para serem multiplicados, conforme a idade do aluno:

1) Precisamos criar escolas experimentais. (Por que as escolas federais do tipo Pedro II ou Caps, não são escolas pilotos para multiplicar experiências?) Precisamos de algo assim para testar novos modelos! Cada escola deve abrir projetos desse tipo, com professores/alunos interessados a experimentar, experimentar, experimentar!!!;

2) A passagem do material didático sólido (em texto) para digital, sempre sujeitas à ajustes pelo coletivo (incluindo outros professores e alunos) e não mais prontas e acabadas, com verdades absolutas congeladas no papel. Devemos preparar as pessoas para conviver (não só na escola), mas nesse novo mundo líquido/dinâmico de constante atualização;

3) Preparação dos docentes para voltar a exercer com intensidade o papel de pesquisador mais experiente para criar e atualizar o conhecimento de forma coletiva. Estimulá-los a ser mais  um animador do que um proprietário de verdades. Um reposicionamento na posição da autoridade que sabe tudo para uma mais aberta a aprender junto com a turma;

4) O docente, assim como jornalistas, médicos, corretores, vendedores os professores/educadores, devem criar uma nova relação com seus alunos/projetos de ensino, que incluam como fator fundamental:  mais troca aluno-aluno (como até sugeria, aliás, Paulo Freire) aluno-professor em uma relação mais desintermediada de poder, lidando com de forma distinta com o ego e com o que se reconhece como diferencial diante dos que aprendem;

5) Os alunos deverão ser estimulados a aprender mais coletivamente e sozinhos na rede, sob a orientação de pessoas mais experientes, principalmente o docente, compartilhando informações dentro e fora da sala de aula, não só com uma turma fechada, mas com quem está no mesmo campo de interesse, na mesma ou em outras escolas;

6) É preciso pensar como criar espaços de troca desse tipo (redes sociais internas na escola) para aproveitar as que acontecem do lado de fora para que rendam mais do que estão rendendo. É um espaço educativo que teve ser aprimorado, debatido e utilizado cada vez melhor, pois cada vez mais trabalharemos em redes desse tipo;

7) Direcionar a didática para superar o modelo de receber algo pronto e decorar a informação  para um perfil mais voltado a colaborar, filtrar, associar, selecionar, comparar, sintetizar de forma a garantir qualidade e relevância, sem perder a atenção e a motivação, conseguindo juntar parte e todo de forma inteligente;

8) Nessa direção, forte estímulo na didática para que o aluno possa ampliar a sua capacidade de analisar cenários, tal como retorno do estudo da Filosofia (mentalidades humanas invisíveis) , mais do que o foco na informação abundante. Precisam criar tampas da caixa do quebra-cabeças, muito mais do que perder tempo com peças isoladas, que se perde tempo e não se chega a lugar nenhum num mundo líquido e mutante;

9) Ou seja, a escola deve procurar sair da luz que o Google já ilumina, que acaba sendo uma memória de fatos desarticulados. É preciso estimular a capacidade de juntar esses fatos em algo que faça mais sentido;

10)  Superação da dificuldade de lidar com encontros presenciais, através do oferecimento de rodas de conversa presencial (aluno-aluno/aluno-professor) e de conversa a distância, via Internet, em um processo mais co-criativo de conhecimento.  Em alguns momentos a tecnologia deve ser terminantemente proibida (quando as pessoas estão juntas) e fortemente estimulada (quando estão a distância).

São estas algumas das questões que os educadores devem se debruçar para pensar o ensino do novo século, experimentando juntos, incluindo a juventude no processo  para procurar melhores respostas transitórias e garantir um ensino mais humano e adequado às nossas necessidades.

Que dizes?

 

 

 

10 Responses to “Desafios 2.0: ensino para o século XXI”

  1. Marcelo Pacheco disse:

    Nepô, muito mais interessante trabalhar com educação nesse contexto 2.0.

  2. Sérgio Lima disse:

    Olá Nepomuceno,

    Tirando o termo “ensino 2.0” [Não aguento mais nada 2.0 :-)] e o termo “reciclar professor”… recicla-se material que será descartado 🙂
    eu concordo no atacado com suas ideias e suas sugestões.

    A Escola precisa deixar de ser um centro/espaço de ensino para se tornar um centro/espaço de aprendizagens… descentralizadas, cooperativas e hyperconectadas.

    abs

  3. Tereza disse:

    ola, sempre penso sobre escolas-modelos, escolas -referencias, por regiao ou estados brasileiros. mantendo as caracteristicas sim.ou inovaçoes, regionalidades, projetos que deram certo e inovando. os professores devem reciclar nestas proximidades.
    Didatica e Pedagogia , metodologia e abordagens devem ser revistas, causando a mudança epistemologica da teoria para a pratica mais real dos problemas, da comunidade , bairro, cidade ..
    Os planejamentos mais flexiveis do que nunca, pois o objetivo eh unico mas os objetivos caracteristicos das disciplinas so se encontram no final na medida em que estilos de aprendizagem sao diferenciados.Desta forma mobiliza uma mudança curricular.

    Valorizar o que os alunos fazem fora da escola, contando pontos, necessario repensar isso, do dia a dia entrar na escola, e formar laços, com tecnologia ou nao, mas principalmente com arte.

  4. carla disse:

    tudo isso adiantará de nada se os alunos não quiserem aprender. Muitos culpam o professor mas esquecem dos alunos que na sua grande maioria não tem interesse de aprender. Essa é a realidade que tenho visto no Brasil.

  5. Carlos Nepomuceno disse:

    Sergio, acatei a sugestão de tirar o reciclar, realmente é um termo que pode sair, o 2.0 é um facilitador…..para o pessoal entender que 2.0 é igual a desintermediação, mas concordo que estão gasto.

    Tereza, isso, acho que escolas experimentais deveriam ajudar nesse processo;

    Carla, seria interessante analisar esse sentimento “alunos não querem aprender” e ver como isso se daria em ambientes novos e mais motivacionais.

    Meus filhos estudam, mas também não gostam da escola, pois não se sentem respeitados, pois não entendem o motivo e a relação de tudo que lhes é passado,

    grato a todos,
    abraços
    Nepô.

  6. Professor, foi muito bom poder estar no Conecta 2011 e ver que muitos profissionais da educação estavam por lá por acreditar que as mudanças se tornaram mais do que necessárias.

  7. Olá, Nepô
    Também estive na palestra e tive algumas ideias que amadurecerei para colocar em prática no ano que vem. Você conhece os Ginásios Experimentais Cariocas (GEC) da SME-RJ?
    Não conheço profundamente, mas sei que é uma experiência em curso visando uma Educação 2.0.
    Um deles será implantado no ano que vem na E.M. Rio de Janeiro. Eles têm twitter @GEC_RJ. Pode ser interessante ver como funciona.
    Abraços

  8. Carla Barbisan disse:

    Realmente temos que assumir que ainda estamos muito perdidos com tanta tecnologia, que ainda temos muito que aprender para verdadeiramente aproveitá-la em sala. Acho que alguns recursos já estão até ficando chatos, como os tais vídeos que resumem aceleradamente dados estatísticos ( não suporto mais ver isso, nem passar para os alunos). Mas a grande questão é como levar isso a todos? Imagino que um professor da FAAP possa facilmente criar mecanismos de aula onde se use redes sociais, WebQuests…, mas como faço isso com alunos de escola pública, que não possuem computador em casa e que nem dinheiro para a Lan têm? Estamos falando de educação para quem??? Não dá para falar disso sem pensar no todo, em todos, ou será mais um mecanismo de educação elitista.

  9. Carlos Nepomuceno disse:

    Carla, o que estamos mudando não é tecnologia, mas uma cultura nova da forma de se pensar o conhecimento, sem nenhum computador tenho dado aula para meus alunos, em rodas de conversa…sem power point, e estimulando a troca, e pensando um material e uma didática líquida…em um mundo que muda a cada dia, veja que a tabela periódica acaba de ganhar mais três elementos, quando as apostilas irão incluir isso?

    Grato pela visita e comentário,
    Nepô.

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