Pode dar o nó em pingo d´água que quiser, mas uma organização em crise é aquela que perdeu a noção do valor que tem que gerar para a sociedade – Nepô – da safra 2011;
O que gera valor?
Aquilo que resolve o problema das pessoas.
Por que criamos organizações?
Para resolver o problema das pessoas, tanto as que lá trabalham, mas principalmente daquelas que as usam para resolver os seus problemas, seja consumindo produtos ou serviços.
Por que as empresas perdem isso de vista?
Por que a tendência dos grupos humanos, como o tempo, e sem agentes externos que provoquem mudanças, é se fechar em tribos, países, condomínios, grupos religiosos e/ou raciais, defendendo os interesses mais imediatos, seus próprios problemas e vão perdendo a noção do valor que podem gerar para a sociedade.
Vivem o mal estar das organizações.
E começam as crises de valor, já que as pessoas na sociedade vão procurando trocas que atendam às suas necessidades e quando não acham procuram outra ou começam a boicotar quem não a atende.
Mais ainda.
As pessoas vão acreditando que é o dinheiro que gera valor, mas o dinheiro é uma representação do valor.
E quando se aplica dinheiro em algo que não gera valor, o dinheiro não se sustenta sozinho e vai se desvalorizando.
Pode demorar mais tempo, mais vai.
Vidas vazias de significado e, portanto de valor, das pessoas e das organizações são aquelas provocadas pelo conceito equivocado de que é dinheiro que gera valor e não aquilo que ele pode gerar.
Reduzi-se a geração de valor para o outro, para quem deveríamos servir e passa-se ao auto-valor de si mesmo priorizando coisas e não aos princípios.
Menos princípios e mais valorização das coisas.
O que nos leva a crises, pois se todo mundo embarca nessa a sociedade vira o caos.
É preciso realinhar o tempo todo organizações ao objetivo coletivo para manter o foco no valor.
E podemos até dizer que amor (geração de energia entre as partes) é valor e desamor (pouca energia) é o não-valor.
Quando uma empresa perde os princípios, no fundo, está num círculo de desamor e vice-versa.
E o que fazemos?
Vamos criando ações dentro das organizações, mas nem sempre focadas no problema central do valor com métricas fechadas, reengenharias, grandes mudanças enfumaçadas, do rabo perseguindo o próprio rabo.
(Projetos de redes sociais, gestão de conhecimento, entre outros estão indo nessa direção, pois acabam adotando métricas e avaliações em que não avaliam o valor gerado entre as partes, aumentando a crise e não reduzindo.)
Lucro, assim, é consequência de um valor gerado e não o contrário.
As organizações que mais duram são aquelas que não perseguem o lucro a qualquer custo, mas as que estão sempre vendo-o como consequência de um serviço bem feito.
Quanto maior a crise, por outro lado, mais os especialistas dos fins que justificam os meios aparecerão, pois quando uma empresa se fecha nela mesma é que já houve internamente uma vitória parcial ou total de um grupo que perdeu o foco do coletivo.
Acabam criando um conjunto de interesses, que estão alinhadas com o caminho do pouco valor ou do não-valor, ou do desvalor, se quiserem.
Haverá, portanto, sempre uma tensão permanente entre estes dois grupos internos da organização: os que querem o imediato com uma visão fechada centrada no eu (no lucro para nós) e outro com a mais aberta englobando o cliente/cidadão (lucro do nós + social).
Estamos hoje saindo de uma era do lucro para nós radical, pois há uma relação entre a radicalização do não valor com o controle do fluxo de ideias, que, aos poucos, nos leva á cegueira do valor real.
Diria, assim que as organizações estão com uma taxa de auto-interesse e pouco foco no lado de fora muito acima do aceitável hoje em dia, em função do pouco poder do consumidor/cidadão, em função de um ambiente informacional altamente controlado.
Dessa maneira, as organizações se fecham, as artérias começam a acumular gorduras, o ataque cardíaco ou o AVC é eminente quando aumenta-se o fluxo de ideias na sociedade, mostrando os pontos de entupimento.
É o chamado corporativismo do não-valor, ou do valor, para mim mesmo, no qual os meios estão acima dos fins, de costas para a função real de dada organização para o coletivo, que tende a ficar radicalizado, conforme vai se controlando mais e mais o fluxo de ideias.
(Discuti esse impasse humano neste texto do mal estar das organizações.)
São projetos desalinhados que fazem muita fumaça, mas não fogo, sem “alinhamento ao negócio da sociedade”.
Alinhamento ao negócio é gerar valor, pois negócio é troca com o coletivo e quanto mais troca há, mais se gera valor e vice versa.
O problema das organizações é que há uma forte tendência a geração de valor de seus próprios membros para eles mesmos, levando-a à decadência ao longo do tempo delas e arrastando a sociedade com elas.
Vive-se uma tendência na ilha da fantasia do não-valor, até que o princípio da realidade venha, mais dia, menos dia, através de ações externas que geram desequilíbrio.
E isso pode acontecer de várias formas, desde um concorrente, uma nova tecnologia ou uma mudança radical na maneira da sociedade em lidar com a informação, como agora, note, entretanto, que as primeiras são localizadas, mas a segunda é global.
Numa revolução cognitiva como a atual, a métrica das organizações é pega desprevenida, pois está invertida.
Uma organização decadente será aquela em que a métrica está cada vez mais deslocada da geração de valor para fora!
E vão perdendo valor intangível na sociedade (imagem) e depois tangível (perdem negócios), seja na bolsa de valores, quando estão lá, seja no descrédito de uma dada empresa ou instituição perante quem a contrata.
Pois os seres humanos, como animais sociais demandantes, sempre vão querer seus problemas resolvidos da melhor forma possível.
É uma questão apenas de oportunidade e circunstâncias.
Pode demorar, mas é para lá que sempre vamos tentar ir, como utopias que esperam a hora de virar realidade, como em revoluções cognitivas.
Os projetos desalinhados com essa noção de valor, sejam quais forem, perdem o foco.
O meio passa a ser o fim em si mesmo.
E começam a girar no próprio rabo.
Exemplos?
- O Congresso Nacional perdeu a noção do valor, que é legislar para resolver problemas dos eleitores, cada vez mais em causa própria;
- A academiam brasileira perdeu noção do valor, pois a métrica exigida pelos reguladores atuais não é a de resolver os problemas do país, mas apenas de quem publica mais e aonde, claramente um fim em si mesmo;
- Empresas brasileiras que conseguem se manter no mercado por arranjos, monopólios, primotocracia e cartéis, pois é na falta de competição que se esconde o não-valor, com uma exacerbação maior no mercado financeiro.
O que muda na noção do valor na sociedade quando temos um novo ambiente informacional, tal como a massificação de uma rede digital como a Internet, trazendo descentralização?
O falso-valor ou o desvalor demora mais tempo a ser desbancado em uma sociedade controlada informacionalmente e sem competição (no caso informacional) entre as diferentes propostas de valores.
Quanto mais controle informacional se tem numa sociedade mais teremos falso-valor e vice-versa.
A sombra informacional que se cria na sociedade permite que organizações/líderes/gerentes/autoridades de pouco valor sobrevivam, pois se fecham em ambientes que se auto-protegem na sombra.
Conseguem agir nessa sombra, através de acordos e ajustes não transparentes, tendo mais mérito dentro destes ambientes voltados para si e não para o coletivo.
Deixando de fora da estrutura aquele que pensa na geração valor real, que passa a ser taxado de ingênuo.
É o rabo balançando o cachorro.
O valor está invertido, levando a organização a ficar cada vez mais dependente de ambientes estagnados, nos quais tem o controle informacional.
É um circulo vicioso da sombra para cada vez mais sombra.
Quando se abre o ambiente informacional – como estamos vendo agora com a chegada de uma rede mais descentralizada e mais desintermediada – permite-se que ideias e trocas passem a acontecer a despeito dos canais antigos em todo o globo ao mesmo tempo, impulsionando um forte impacto de procura de re-valor na sociedade.
E nada pior para o vírus do não valor do que uma revolução cognitiva!
Mais luz vem da e para a sociedade e os não-valorosos vão ficando cada vez mais claramente e nitidamente obsoletos, sendo o tempo da vingança da meritocracia dos valorosos, que miram o coletivo.
A luta surda a favor do valor social ganha aliados poderosos: os consumidores/cidadãos.
Há um reposicionamento da balança de forma radical e global, mesmo que aconteça lentamente, mas é em algo disruptivo e não de continuidade.
Foi o que ocorreu com a chegada do papel impresso, na Europa, em 1450, que iniciou o processo de mudança e o fim de uma era da monarquia e do feudalismo quando um fenômeno similar à Internet ocorreu na sociedade há 500 anos.
Exemplos atuais que estamos em um processo de revalorização das organizações?
- A indústria da música não inovou e vivia/vive na sombra e é/está sendo desbancada por uma rede aberta de troca de músicas, não há assim uma crise da música, mas da indústria da música e seu desvalor com a própria música, seus artistas e a sociedade, que está, de certa forma, se vingando;
- A do software idem, vide o esforço que os players estão fazendo para se manter atualizados, diante do software livre, da produção coletiva, etc;
- Além da mídia tradicional e das editoras de livros, pois começam a sentir a influência de uma distribuição diferenciada. Estão agarradas ao meio (livro/jornal) e não no fim (circulação de ideias). Ou seja, vivem uma crise ética, pois querem impedir que a informação circule livremente, perdendo a noção do valor que podem gerar dentro desse novo ambiente.
Porém, não é apenas quem vive do mercado da informação que será e foi atingido pelo novo ambiente de troca cognitiva, pois muda-se (e se mudará gradualmente) não só a maneira de vender informação, mas também de produzir e vender qualquer coisa.
Estamos alterando a forma de distribuir é certo, mas também a forma de produzir, adaptando-se a um mundo informacionalmente mais aberto, que exige outra relação de valor.
A forma de se organizar, mais aberta e com a meritocracia com mais força mexe na geração de valor em todas as organizações, o que é difícil de se perceber claramente no centro do olho do furacão.
A defesa do coletivo é o resgate de princípios para gerar o valor que a primavera informacional exige!
(Não é à toa que livros como a do Cortella, Qual é a tua obra? ou Presença de Senger e outros viram best-seller e ganham espaço dentro das organizações, pois introduzem de novo a questão do fim em lugar do meio pelo meio, na tentativa de se resgatar os princípios.)
Organizações do mundo toda estão discutindo uma nova forma de inovar na geração do valor, através de mudanças de canais ou de redes com seus colaboradores e os de fora, desde fornecedores e/ou consumidores, desintermediando e colocando para escanteio os que se beneficiavam da sombra.
Inovação aberta, por exemplo, é um dos resultados da chegada dessa rede digital, um espaço e tanto para os meritocráticos.
É uma tentativa da geração do neo-valor, basicamente resgatando o diálogo com a sociedade para voltar a gerar relevância.
Ou seja, fazendo a auto-crítica do monólogo da era informacional decadente que estamos, finalmente, deixando para trás.
Precisamos voltar a conversar com que não conversávamos mais, ou nunca conversamos de verdade!
Assim, novas iniciativas começam a entrar na brecha para a regeração de valor real.
As pessoas começam a ter noção de quanto estavam consumindo não-valor.
Já que conversam mais entre elas e podem acessar o que não podiam antes.
(Tal como desconhecido compra e vender para desconhecidos, vide Mercado Livre e Estante Virtual.)
Mas note, antes que me venham com fotismos:
Estamos apenas nos cinco minutos de um jogo de dois tempos.
(Fotismo é a prática intelectual de tirar foto em processos sociais em movimento e querer analisar a foto (momento) sem querer ver o processo (movimento).)
E entramos em um ciclo de renovação da geração de valor, baseado mais na meritocracia do que antes.
Todo esse movimento nos leva a um revitalização da geração de valor para enfrentar os novos desafios de uma sociedade, que tem de novo basicamente a presença de 7 bilhões de habitantes, que exigem mudanças mais rápidas, inovação e um novo modelo de sociedade mais compatível com esse nova demografia.
O Valor 2.0 veio gerar, assim, o mesmo valor de sempre, mas só que dentro de um novo ambiente informacional mais meritocrático e aberto, com menos sombra.
Por isso, as organizações terão que se realinhar ao novo ritmo da geração de valor, que agora é mais transparente, no qual o cliente terá muito mais razão do que antes.
A eficiência para inovar passa a ser a palavra de ordem e o espaço da mediocridade do não-valor se reduz, mas nunca acaba, pois são taxas que variam conforme as circunstâncias, tendo com um dos fatores, o controle informacional (Como já disse acima, novos concorrentes, abertura de mercado, também têm esse efeito, mas não numa escala global).
Porém, a mudança é macro, geral e global , como ocorreu com a chegada do papel impresso e isso terá o mesmo impacto, diferente de fatores mais localizados e passageiros.
(Quem quer se diferenciar no mercado, deve estudar aquele período de forma profunda.)
E essa é a briga surda do novo século, que se inicia muito velozmente.
É o impasse, aliás, que está por dentro da discussão da implantação de redes sociais, gestão de conhecimento, da informação, etc etc…muitas delas voltadas para o meio (seus especialistas e seus métodos) e não para o fim (o resgate do valor da organização), que é o que está verdadeiramente em crise.
E para a qual os esforços têm de ser direcionados.
Ou seja, a semente da mudança radical das taxas nas organizações do não-valor atual para outras com mais valor já estão subindo de forma acelerada em alguns pontos da sociedade, porém ainda não tão evidentes para a maioria.
Quando se fala disso, as pessoas usam o fotismo, não estou vendo.
Ok, estamos apenas começando, sugiro Drucker:
“Quem quer ver o futuro deve olhar para as árvores pequenas que estão nascendo e não as grandes, pois a floresta do futuro será formada pelas primeiras”.
A taxa de mais valor na sociedade está crescendo lentamente no novo ambiente informacional.
Quem viver, já vê.
Espetacular ! o que vivemos hoje é um momento de grandes desafios e oportunidades, em várias dimensões da sociendade e ao mesmo tempo! esse excelente post “alinhava” um grande conjunto de conhecimentos e forma uma imagem que nos ajuda a tomar decisões e posição ! Parabens!
Walter, grato pelo incentivo, espero que ajude, espalhe a visão, abraços Nepô.
Boa Nepô! Acertou em cheio. A perspectiva que vc apresenta só reforça a ideia de que a informação deve estar alinhada à uma estratégia e não é o fim em si mesma. E mesmo com todas as variações de finalidades os princípios ou valores que movem os projetos são àqueles fundamentais e permanentes. É a combinação da resiliência com a inovação. Assim sugeriria inovação 2.0, 3.0…e valor 0.0. bjs Paula
Caí no teu blog de pára-quedas, “googlando” sobre monopólios fui direcionado ao post sobre a locaweb.
Resolvi ler esse aqui e não me arrependo!
Assunto muito bem postado, congratulations Nepo!
Grato Elvis!