Sem uma lógica eficaz, não há conteúdo que não vire lixo – Nepô – da safra de frases de 2011;
Para mim, está cada vez mais claro que temos dois tipos de cabeças pensantes hoje na sociedade, discutindo o futuro.
- – um grupo que insiste na continuidade, sem compreender que estamos no epicentro de uma revolução informacional/comunicacional e tudo que ela representa de mudanças;
- – outro que já realizou tal fato e tenta compreendê-lo, com variações grandes também de percepção, mas já dá a ela alguma relevância ao pensar mais adiante.
Podem me dizer que “para o martelo todo o problema é prego” como já escutei de uma pessoa.
E que estamos olhando o mundo sobre o prisma da informação/comunicação, assim como o médico olha do ponto de vista da saúde e o piscólogo do inconsciente, etc…
Na calmaria tem lógica, na crise, não.
Definitivamente não.
Nas grandes crises existem coisas, fatos, acontecimento que mexem com as pessoas, independente das teorias, são fenômenos externos para os quais os especialistas são chamados para ajudar a entender e minimizar consequências.
É o caso agora nos eventos trágicos no Japão.
Primeiro, foram os que entendiam de terremoto e depois os que estudam radiação e energia nuclear.
São fatos que ocorrem, a despeito das disciplinas.
Agora, chegou a hora dos especialistas em revolução da informação!
(Depois de 4 anos de doutorado, me arvoro em ser esse tipo de especialista, em processo líquido e não sólido.)
Uma revolução informacional/comunicacional é longa e demorada.
Seus efeitos estão apenas começando e vão levar algumas décadas até que possamos ver suas consequências de forma mais clara!
E nos leva para uma nova lógica.
Ponto.
É evidente que o consumidor, o cidadão e a sociedade de maneira geral estão em processo de mudança, discutindo e comentando, blogando, fotografando, filmando, participando, colaborando, produzindo em/de todos os lugares.
Vivendo e querendo mudar várias coisas que estão por aí há séculos.
Parece também estranho que se dê coisas de graça para se ganhar depois, se colabore sem retorno imediato.
Empresas surgem do nada, como nunca antes, e passam a ter mais valor do que aquelas que já têm séculos de estrada, experiência e lógica consolidada.
Novas formas de gestão aparecem, invertendo a lógica da pirâmide do acionista no topo e consumidor na base.
Parece que o consumidor está de novo casando com o produtor; a informação fez as pazes com a comunicação e uma certa hipocrisia entre o que se diz e faz não tem mais tanto sentido.
O mundo está de cabeça para baixo, dirão alguns.
Isso é fruto de algo do mesmo DNA: estamos mudando a forma de consumir e produzir informação e o jeito que nos comunicamos.
A forma como utilizamos a Informação/comunicação é algo estruturante do ser humano, algo na sua placa-mãe mais profunda.
Mudanças desse tipo mudam radicalmente a sociedade, pois alteram de forma irreversível fatores cognitivos (passamos a conectar os neurônios de forma diferente) e afetivos (já que o controle informacional é emocional da base da relação filho-pais).
Ponto.
No passado, foi assim também.
Basta ver que depois da prensa em 1450 criamos o capitalismo e o modelo de democracia.
Algo mudou naqueles cidadãos feudais, que não tinham contato com ideias do mundo exterior.
Ou nos conscientizamos que estamos em uma nova lógica, com várias fatores que nunca mudam – a substância.
E muitas se alteram – as camadas acima da substância – ou iremos patinar no presente e, principalmente, no futuro.
- Que lógica nova é essa?
- Qual o seu DNA?
- Onde estamos e para onde vamos?
Podemos chamar esse momento de “hiato de lógica“, no qual existia uma bem definida no passado, na qual as coisas estava aparentemente “consolidada” para outra que estranhamos bastante.
Assim, temos que ir aos clássicos.
- O que realmente é fundamental no ser humano?
- Quais as características que levamos para todo o sempre?
- E quais são aquelas que podem variar por mudanças?
- E quais as que mudam em revoluções da informação?
Não é à toa que estamos tão perdidos.
O conteúdo, o consumo de fatos, dados, versões, notícias, novidades, precisam ter antes uma determinada lógica geral que os organize.
Quando se muda a lógica-mãe, digamos assim, é preciso refazer essa lógicas-variantes para depois poder consumir, de novo, o conteúdo dentro de um novo reequilíbrio.
Foi em função disso que pós-revolução informacional da prensa, a partir de 1450, levou aquela sociedade viver um surto filosófico, com o iluminismo, renascimento, no qual as pessoas sentiram necessidade de responder estas questões acima, de forma mais profunda.
Conteúdo sem lógica é algo completamente inútil.
E este é o problema de quem filtrava a sociedade no passado – a mídia de massa – estão produzindo conteúdo novo, mas com lógica passada.
E a sociedade está perdida, pois não consegue mais entender que ocorre, olhando os fatos e lendo as versões que produzem.
Ninguém tira significado disso.
Só há significado quando já estivermos trabalhando na nova lógica pós-revolução informacional/comunicacional.
Diria, assim, que a sociedade precisa de um banho geral de espuma lógico dentro de uma revolução informacional/comunicacional.
Sem nos debruçarmos nesse DNA principal da mudança , que alinham várias outras o conteúdo que estamos produzindo e lidando perderá, como tem ocorrido, o sentido.
Estamos produzindo dados sem uma lógica que o sustente.
Patinamos, assim, nesse hiato da lógica.
Que dizes?
nepo acho que estamos entrando no “dia seguinte” à ruptura… de certo modo nao é até “natural” esse hiato? a “digestão” ainda está sendo feita e o metabolismo da maioria é “lentium”… []s
Suely, concordo…lentium, porém deve ser progressivo…e começar logo.
bjs, Nepô.
Chegando a um tempo em que “Os pobres ficarão mais pobres e os ricos cada vez mais pobres” veja situação do Japão e na vida os honestos levarão vantagem contratapondo a lógica do vale tudo..
Danilo, valeu o comentário!
Nepô,
Seu texto me remeteu ao texto A metrópole e a vida mental de Simmel , quando ele discorre sobre a interação humana e a influência da cidade, em como a mudança do modo produtivo e do convívio mudou o processo cognitivo dos indivíduos.
Refletindo sobre a tranformação do homem rural em urbano e a mudança nas relações com o trabalho, com o outro e com o dinheiro me fizeram ver a o hiato lógico da web 2.0 como um efeito de torpor, como o que acomete alguém que é surpreendido por uma notícia aterradora.
Nós, sujeitos urbanos, nos vemos e nos definimos por novos conceitos, que não conhecemos bem mas que vivemos e produzimos dia a dia.
Será que nos definiremos como sujeitos informacionais?
“forças sociais da herança histórica, da cultura e da técnica da vida quelhe são exteriores”
Corrigindo, não somos mais sujeitos informacionais, mas sujeitos em rede?
Iara, a subjetividade cria seus próprios símbolos, na negociação com a realidade, que impõe determinadas percepções…sim, sujeitos em redes digitais líquidos…me parece mais próximo para onde estamos indo.
[…] O hiato da lógica […]
Nepô, querido. Como o papo é hiato, aproveito e volto a comentar aqui depois de uma hiato, também.
Acho que a questão que envolve a nova lógica pode ser atrelada à vontade daqueles que se acostumaram à lógica da Revolução Industrial. O que vejo por aí são empresas fingindo entrar na revolução da informação, mas loucas para manter o status quo que até então imperava.
Há também a questão do tempo para que as pessoas percebam que houve uma mudança. Nem todos ainda realmente entendem que uma nova lógica está sendo instaurada. Isso pode levar mais tempo do que pensamos.
Enfim, acho que a nova lógica vai acontecer queiram ou não, mas cada um terá o seu tempo ou para digerí-la ou para engolí-la.
Abraços e saudades,
Fábio.
Fábio, sumido, saudades.
Gostei disso,
Água 2.0 mole em pedra 1.0 dura..tanto bate…;)
Os agentes de mudança estão se expandindo, believe!
abcs,
Nepô.
Gostei da expressão hiato de lógica! Me sinto um pouco perdida, com ideias borbulhando, enxergando um futuro, mas com um hiato no meio.
Julia,
tem um dinamarquês, saiu no globo, que defendeu a ideia de que estamos saindo de um parenteses da prensa e retornando a um mundo meio oral…acho, pensando, que me inspirei nele.
bjs,
Nepô.