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A Ciência precisa de uma estrutura, de um arcabouço de leis e princípios para funcionar – Marcelo Gleiser – da minha coleção de frases;

Que dizes?

Ao longo dos últimos séculos, deturpamos a palavra Ciência:

No seu sentido mais amplo, ciência (do Latim scientia, significando “conhecimento“) refere-se a qualquer conhecimento ou prática sistemática.

Ou seja, isolamos o conhecimento com um método mais apurado para os muros da academia, quando, na verdade, toda a tentativa de estudar determinado problema necessita de alguma forma de um método científico.

Com mais ou menos capacidade de gerar uma representaçãoque nos ajude com uma taxa menor de erro a tomar determinadas ações.

É isso o que uma empresa faz quando define, por exemplo, uma estratégia, para qual, é preciso definir determinados cenários.

Como cada vez estamos lidando com problemas mais complexos, devido ao crescimento da população, melhor será para os resultados se tivermos a capacidade de perceber que estamos diante de problemas científicos (de conhecimento) e que aprimorar os métodos (não necessariamente acadêmicos) pode nos ajudar muito.

Acreditamos, portanto, que olhamos direto para as coisas, os fatos, os dados, mas não é assim que funciona.

Quando analisamos um dado problema, temos, antes disso, um conjunto de camadas que define a análise e, por sua vez, as ações que vão nos guiar, a chegar a decisões com mais chances de se confirmarem na realidade.

O primeiro passo é definir um problema.

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Note que não estamos falando de um assunto, mas algum tipo de encruzilhada que pede que tenhamos um detalhamento – uma análise mais detida  sobre ela.

(Um dos principais erros é separar a vida por assunto, pois nossa visão sempre será parcial. Quando focamos em problemas a serem resolvidos, naturalmente os assuntos vão se agrupar – de tal forma – a ajudar a resolver e não a atrapalhar – a análise do mesmo.)

Se estivermos falando de problemas naturais – não visíveis a olho nu –  teremos a necessidade de construir ferramentas de observação para que possamos observar de forma melhor.

Quanto mais precisos estes instrumentos, melhor será nossa capacidade de observação.

Exemplos: telescópios, microscópios, máquinas de raio x, ressonância, etc.

O interessante é que quando sofisticamos estas ferramentas passa-se a ampliar nossa visão de mundo e novas etapas de conhecimento podem ser ultrapassadas.

(Ou seja, um problema só pode ser visto, a partir de uma determinada ferramenta adequada que nos aproxime e nos detalhe melhor seus contornos, como vemos na figura abaixo.)

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No caso de problemas sociais, nossa ferramenta de observação, serão construídas, a partir do método de coleta de dados, de estarmos realmente nos baseando em fatos e não em versões.

A terceira camada é o modelo teórico, que muitas vezes define que tipo de ferramenta e dados serão levantados.

O modelo teórico vai combater o senso comum.

Einstein já dizia que:

Toda a ciência nada mais é do que o refinamento do pensamento cotidiano”.

Ou seja, através de um modelo teórico, iremos partir do senso comum e construir um cenário, no qual agentes exercem determinado tipo de influência no ambiente, a partir de determinadas situações em determinado momento.

Assim, se temos estes agentes mapeados e suas respectivas forças, além de como interagem um com os outros, podemos saltar do senso comum e começar a avançar na direção de compreender o problema de um nível mais complexo.

Veja a figura abaixo:

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Sem um modelo teórico que possa definir de forma adequada o problema e a ferramenta. E arrumar os que foi levantado de uma forma lógica, de nada adiantará ficar olhando planetas, visitando tribos de índios, ou tentando entender a Internet.

Sem esse método, infelizmente, olharemos o problema impregnados de senso comum, o que nos dificultará – e muito – sua compreensão.

Note que a chegada da Internet, por exemplo, detona os modelos teóricos anteriores, criados pelas Ciências da Computação, Comunicação, Informação, Sociologia.

Dávamos um peso ao agente “tecnologia da comunicação e informação”  menor do que ele deveria nas mudanças do mundo, o que nos joga para revisar os modelos anteriores.

Assim, é preciso compreender que sempre esbarraremos nas limitações de dado contexto histórico, como diz Gleiser:

Nosso conhecimento do mundo será sempre limitado (…) temos apenas uma descrição cada vez mais precisa da realidade em que vivemos – Marcelo Gleiser;

Porém, o que define tudo para valer é a nossa cognição – da pessoa (ou as pessoas) que estão estudando o problema, como vemos na figura abaixo:

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Ou seja, o potencial cognitivo de quem está analisando, escolhendo, alterando e inovando em todas as camadas sem perder o foco no problema.

(Tal como fez Galileu ao criar o telescópio para viabilizar o estudo dos planetas, melhorando as ferramentas.)

Todo grande cientista é ou foi, ao mesmo tempo, um desenvolvedor/projetista/incentivador de desenvolvimento de novas ferramentas, revisor de modelos teóricos e pensador sobre os próprios métodos científicos, pois são as “armas” que tem para analisar dada questão com menor margem de erro.

Quando algo dentro de alguma camada não se adequa, ele a altera para conseguir ter uma visão nova, se afastando mais e mais de todos os sensos comuns, dos especialistas ou mesmo dos não especialistas.

Por fim, com essa criativa mente olhando o problema nas diferentes camadas, chega-se a uma nova percepção, que é passada para um determinado registro:  posts, os papers, as teses, os artigos, que chamaremos derepresentação.

Que podem virar também novas  tecnologias que são o resultado concreto dessa longa trajetória toda, ver abaixo:

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Quando lemos o texto de alguém, analisando determinada questão, esse conjunto de camadas vai aparecer, de forma explícita, ou não.

Há, na representação também a sua capacidade de exposição, a forma, que permite que mais gente passe a ver o mesmo a nova percepção conquistada, o que, muitas vezes, é tão difícil quanto a chegada na nova visão do problema.

Este, portanto, é o caminho de qualquer Ciência, seu método científico.

Portanto, a  ideia de que os métodos científicos são de propriedade da academia é uma deturpação completa do que é o estudo dos problemas do mundo.

Na academia existe um tipo de método, com um determinado discurso, com suas normas e regras, mas, com certeza, não é o único caminho que pode nos levar a tomar decisões para resolver os problemas que nos afligem.

Qualquer análise sobre determinado problema visa chegarmos à Ciência (conhecimento)!

A diferença são os métodos que adotamos que vão nos aproximar mais ou menos do senso comum, mais ou menos, de fato como o problema acontece e como podemos lidar melhor com ele, em alguns momentos interferindo e superando-o.

É preciso, assim, sermos conscientes para perceber as quatro camadas necessárias para reduzir a margem de erro, o que vai nos dar mais probabilidade de tomar decisões que nos aproximem mais ou menos do que ocorre, do que vai acontecer e como podemos, de forma eficaz, agir no processo.

4 Responses to “Como estudamos o mundo?”

  1. Nepo,
    isso tem tudo a ver com o que estamos discutindo. Estou cada vez mais convencido que sem metodologia não chegamos a lugar algum. O difiícil, como também já discutimos, será adequar isso às empresas, que não percebem o problema e já querem partir para o conjunto de assuntos. Sinto-me cada vez mais empenhado em desenvolver esse modelo e pronto para mostrar que é uma ideia real.
    Abs,
    Fábio

  2. Lucia disse:

    Nepo,
    Você diz:
    “Quando algo dentro de alguma camada não se adequa, ele a altera para conseguir ter uma visão nova, se afastando mais e mais de todos os sensos comuns, dos especialistas ou mesmo dos não especialistas.”

    Einstein também disse que a melhor forma de se resolver um problema, é colocando-o fora do ser contexto. Bate com o que você escreveu aí e com a idéia de analisar independentemente do senso comum.

    Como estamos aprendendo, o mais dificil é chegar no modelo teórico, mas também, com certeza, é o mais divertido.
    Abs

  3. […] Vi no excelente blog do nosso amigo Nepôsts – Rascunhos Compartilhados […]

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