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O BigData 3.0

Um dos grandes problemas teóricos hoje em dia é que determinados conceitos precisam vender e se “desteorizar” para ganhar vida fora do laboratório.

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Isso exige cuidado, pois o que mais existe hoje é conceito que vende sem uma teoria consistente por trás.

Portanto, é preciso tentar fazer uma ponte entre o conceito – mercado – mercado – teoria para que não comecemos a criar teorias, em função das demandas de mercado, o que pode ser algo que vende bem, mas que lá na frente vai se mostrar mais uma moda do que uma tendência.

O papel das teorias é justamente estudar os fenômenos para saber o que veio para ficar e o que vai passar. O que é anel e o que é dedo!

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O fato de que seja mais palatável para o grande público é ótimo, mas é preciso procurar fazer uma ponte para que não se perca e comece a virar um modismo, pois o mercado quer mudar, mas nem tanto, e acaba transformando algo maior em algo menor.

É  preciso, assim, fazer uma espécie de ponte entre o que é um conceito que vai ter alguma sintonia e como é possível colocá-lo “à venda”, desde que não perca o seu significado.

Tenho começado, a convite de Luciana Sodré e Marcos Cavalcanti, a ministrar aulas no curso de “BigData“, mais um conceito que o mercado anda gostando.

BigData procura representar a explosão informacional que surge no final do século passado e adentra com força o século XXI.

Na minha tese de doutorado duelei com um conceito similar que a Ciência da Informação adora usar e pouco pensa sobre o termo: “Explosão Informacional”.

Se formos no passado, depois da chegada da prensa, em 1450, isso está lá na tese, tivemos um salto quântico em termos de registros na humanidade, pois saímos do caro papel manuscrito para o barato impresso.

A coisa saiu do controle e nos levou às revoluções liberais do século XVIII, 350 anos depois.

Depois tivemos a explosão de registros com a chegada do computador de grande porte (1940), do micro computador (1980), já inaugurando, de forma, tímida a era digital, que veio se massificar com a Internet (1990) e, mais particularmente, com a banda larga, a partir de 2004, quando o cidadão passa a ter canais horizontais, ligando a explosão de dados com a chegada de uma nova Governança da Espécie.

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Vários autores falam da explosão informacional que houve e o bigdata que causou nestes dois momentos.

Assim, usando a Antropologia Cognitiva, que é de onde procuro olhar os fenômenos, podemos dizer que toda vez que tivermos uma Revolução Cognitiva teremos um aumento de canais de expressão no mundo e, por sua vez, uma explosão informacional ou um bigdata, seguido do surgimento de uma nova Governança da Espécie.

O bigdata ou a explosão informacional são fenômenos que ocorrem de tempos em tempos quando saímos de uma Contração para uma Expansão Cognitiva.

São consequências de uma Revolução Cognitiva, que se caracteriza pela massificação da Canalização Horizontal da sociedade, na qual as ideias estavam fortemente controlada e se descontrolam.

Obviamente, que quando um conceito passa a ter aderência no mercado, que é difícil aceitar mudanças, podemos tentar usá-lo para incorporar teorias mais consistentes, ajudando as organizações a ver algo maior e com metodologias mais eficazes para lidar com ele (teorias têm o papel fundamental de criar metodologias eficazes).

Não sou contra conceitos pouco amadurecidos, que vem do mercado, pelo contrário, mas desde que consigamos embutir nele consistência para que não sejam, como é comum, um modismo, uma ferramenta de venda de algo que, no final, vai mais atrapalhar do que ajudar!

Podemos, assim, trabalhar com conceitos mais científicos em ambiente mais fechados, entre aqueles que se mantém alinhados dentro de uma dada teoria e no ambiente mais aberto, onde se vai vender metodologias, com mais marketing, conceitos que vendam, mas que tenham algo que os diferencie do restante dos fornecedores para que possamos nos remeter à teoria.

Ou seja, as teorias não podem se submeter completamente, apenas parcialmente, às demandas do mercado, pois podem deixar de fazer o que elas têm de fundamental: dar consistências às ações para que não gastemos mais tempo do que o necessário para resolver determinados problemas complexos. Quando isso acontece, a teoria perde o sentido.

E passamos a ter o caso clássico do rabo balando o cachorro!

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Assim, é preciso não tentar teorizar aquilo que veio do mercado para dentro das teorias, pois não foi devidamente trabalhado. Isso pode ser feito apenas tentando identificar uma percepção de algo que o mercado que é relevante e ver onde se encaixa dentro de um marco teórico maior para apontar o que o mercado está vendo como algo consistente, mas que pode ganhar ainda mais consistência.

Alguns conceitos precisam ser descartados, pois batem de frente com a teoria e outros apenas incorporados.

Teorias são ferramentas humanas para separar modismos de tendências!

Assim, podemos, pelo que vejo de interpretação e, a partir dos estudos que tenho desenvolvido da Antropologia Cognitiva, fazer a ponte com o BigData da seguinte maneira:

  • como fenômeno – explosão informacional provocado pela massificação de novos Canais Horizontais de Circulação de Ideias, que faz com que os que não tinham voz passem a ter, gerando dados, registros;
  • – como metodologia – procura de métodos que vão tentar ajudar as organizações a lidar com esse fenômeno, percebendo, que a explosão dos dados é parte de uma mudança, que tem como ponto principal uma alteração radical da Governança da Espécie.

Da mesma maneira que ando pensando sobre o Design Thinking (dando um 3.0 nele), acredito que é preciso adjetivar/versionar o BigData para poder incorporar a visão da passagem da Governança atual para a nova Governança – que, a meu ver, é a grande tendência.

Assim, sugiro que podemos começar a lidar com o conceito, adjetivando, como algo tipo BigData 3.0, que seria uma forma de discriminação do conceito atual e vigente na sociedade, sem, entretanto, perdê-lo.

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O que seria o BigData 3.0? Seria a procura de uma metodologia que vá ajudar as organizações a migrar da atual Governança oral, escrita e eletrônica para a Digital, que permita lidar com essa nova massa de dados, na qual a sociedade se empoderou, através de criação de Plataformas Digitais Colaborativas, tendo os algoritmos digitais como ferramenta diferencial para a análise de tomada de decisões.

Assim, podemos incorporar o conceito “BigData” à Antropologia Cognitiva, dando a ele uma consistência teórica e se descriminando no uso mais corriqueiro.

O que as organizações vão ter que lidar, mais do que tudo, é com a nova Governança. O BigData, ou explosão informacional, é apenas um dos sintomas dessa mudança maior. Assim, usar o BigData 3.0 se diferencia do que se fala no mercado, dando consistência teórica da Antropologia Cognitiva, ao movimento metodológico que ganha força.

Este é o meu olhar sobre o tema.

Faz sentido?

É isso, que dizes?

One Response to “O BigData 3.0”

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