Na contração cognitiva, temos um longo período de centralização das ideias, o que vai provocando macros-distúrbios em toda a espécie, em um fenômeno de massa e não individual. Posso relatar isso com minha pesquisa ao longo dos últimos sete anos, com mais de mil alunos, em aulas participativas.
Comi disse aqui, temos dificuldade de estudar a nossa tecno-espécie.
A antropologia nos ajuda nisso, mas quando falamos em antropologia, pensamos no passado distante e não como um campo para nos ajudar a entender o presente.
Tenho defendido o campo de estudo da Antropologia Cognitiva, que visa estudar as rupturas nas tecnologias cognitivas ao longo da história e, em particular, a da Internet para entender o que nos reserva o próximo século.
Desse ponto de vista, temos que perceber que forças alteram de forma mais ou menos consistentes a nossa tecno-espécie.
Podemos dizer que:
- Ecologia – Era do gelo, meteoro, escassez de água, comida fizeram com que tivéssemos que tomar atitudes;
- Sociais – mudanças nas formas de nos organizar e sobreviver;
- Tecnológicas – ferramentas que nos permitiram ampliar nossos limites.
Qualquer alteração nestes campos, faz com que a espécie mudasse mais ou menos.
Como viemos uma mudança estruturante, novas tecnologias cognitivas se massificam em todo o planeta, estamos diante de uma mutação da nossa tecno-espécie. E podemos começar a analisar com mais clareza o quanto somos co-dependentes e formatados pelas tecnologias, que nos tornam mais ou menos potentes diante das novas complexidades demográficas.
E o quanto as tecnologias cognitivas exercem um papel fundamental nas mudanças sociais, englobando a política e a economia.
O que podemos defender, se formos rever a história da nossa tecno-espécie é que vivemos ciclos que chamei de pêndulo cognitivo.
- Quando há contração cognitiva – temos concentração e consolidação de um dado modelo de governança da tecno-espécie;
- E quando há expansão cognitiva – temos a descentralização e crise de um dado modelo de governança da tecno-espécie, que é o que vivemos agora.
Na contração cognitiva temos um longo período de centralização das ideias, o que vai provocando macros-distúrbios em toda a espécie, em um fenômeno de massa e não individual. Posso relatar isso com minha pesquisa ainda experimental ao longo dos últimos sete anos, com mais de mil alunos, em aulas participativas.
Diagnosticaria os seguintes macro-distúrbios cognitivos-afetivos como os principais, todos provocados fortemente pela contração cognitiva (que acredito atingir em níveis diferentes toda a tecno-espécie em níveis distintos):
- Incapacidade de distinguir entre realidade e percepção – todos se acham dono da verdade, pois acham que conseguem vê-la diretamente, o que nos leva a um segundo distúrbio;
- Incapacidade de diálogo – já que o outro vem só atrapalhar a nossa visão da realidade, não vem somar, mas criar problema. Quando achamos que vemos a realidade diretamente tudo que o outro vê, nos parece loucura, o que nos leva ao próximo distúrbio;
- Baixa abstração – dificuldade de pensar e sentir e procurar fazer algo diferente, que fecha o ciclo com mais um;
- Incapacidade de construir um caminho próprio – a incapacidade de ver e interagir, nos leva a uma forte isolamento e uma submissão das ideias vigentes, nos tornando seres morais (que seguem o certo e o errado sem a procura de uma vida significativa, beira à imortalidade) e não seres éticos, que procuram dar sentido a sus vidas, percebendo a sua finitude;
Estes distúrbios nos levam à uma crise da espécie que se volta cada vez mais para o presente e a individualização (e todos os prazeres imediatos) cada vez menos com um sentimento de parte.
Não é à toa que o dinheiro sem significado passa a ser o centro da sociedade, com organizações se servindo da sociedade e não o contrário.
(O Lobo de Wall Street é uma metáfora dessa nossa sociedade.)
E não para uma visão mais ampla de passado, presente e futuro, sentido histórico, de pertencimento à espécie.
Tenho tentado desenvolver uma metodologia de quebra destes distúrbios, através de módulos participativos que estou experimentando na formação de laboratórios de inovação digital colaborativos.
Temos muitos a fazer e precisamos de muita gente!
[…] O diagnóstico é coletivo: vivemos hoje um conjunto de macro transtornos afetivos-cognitivos, como disse aqui. […]