Toda a nossa sociedade está estruturada para a repetição e a consolidação. Nossos egos são co-dependentes da aceitação externa e foram educados para aceitar as normas e obedecer. Nosso desafio hoje é construir um novo ego digital mais compatível com um mundo que precisa criar um novo modelo de governança da espécie.
O problema principal, a meu ver, é de sustentabilidade.
Hoje, as organizações, apesar do discurso inovador, querem profissionais repetidores e seguidores de ordens. Querem pessoas na caixa e que não queiram nunca sair dela. O papo furado do fora da caixa ainda é muito papo furado, ainda mais no Brasil.
A escola – que é moldada pela sociedade e pelas organizações – é criadora e formatadora desse ego repetidor e memorizador.
(Note que o modelo da escola é muito mais para formatar um ego repetidor do que fornecer conteúdo.)
O aparato todo é feito para que o ego seja formatado para a consolidação do modelo da governança da espécie atual criada a partir de 1800.
Assim, nosso ego impresso-eletrônico foi muito bem construído, mas está obsoleto diante de uma expansão cognitiva que vem para criar uma nova governança.
(Muitos podem preferir chamar de ego industrial e agora de um ego pós-industrial se quiser abordar apenas do ponto de vista econômico.)
Um primeiro passo nessa renascença digital é recuperar uma missão de vida para esse ego criador, que é a forma de se combater a influência externa sobre ele. Para que ele possa ter ferramentas para fugira da fama e do sucesso fácil.
Quando o ego procura uma missão fora de si, mas não para agradar ou ser reconhecido por alguém ele procurar um amadurecimento que é a auto-referência.
Não importa o que pensem, mas eu escolho algo para que eu possa me agarrar e me comprometer.
O movimento criativo é, assim, acima de tudo um movimento ético, já que eu vou criar algo que não existe que vem da minha singularidade e eu estarei comprometido com esse processo dialético eu-singularidade-problema-eu.
(Falei mais sobre esse ego ético aqui.)
Esse compromisso interno cria uma auto-referência, pois não importa muito o que digam de mim, se vão me valorizar, ou não, se vão considerar importante, ou não, esse referência passa a ser a minha referência, pois o que é relevante é eu conseguir superar os desafios que eu me coloquei e a minha prestação de contas é apenas com a minha lápide. O resto são tapinhas nas costas, bem vindos, mas não fundamentais.
Ou seja, não se faz um blog para alguém, ou para se ter “sucesso”, mas deve-se fazer um blog dentro de uma necessidade, de uma missão, que, seria bom, agregue algo que possa reduzir sofrimento de um grupo na sociedade.
Assim, foge-se do vazio de se fazer algo sem sentido e preenche-se a vida com algo mais significativo.
Esse ego ético e nesse momento digital vai se auto-referenciando.
Para que ele se torne sustentável e comece a ir mais fundo, exige-se que dentro do novo ambiente, ele se viabilize economicamente, transformando o sonho de uma vida mais significativa em um trabalho mais significativo, que com ele possa sobreviver.
Obviamente, que isso vai se dar pelas bordas, pois o centro, as organizações de plantão, estão ainda “vibrando” no modelo anterior.
Quanto mais a sociedade vai migrando para a nova governança, mais esse ego ético vai ganhar espaço.
Assim, cria-se um compromisso de uma percepção de mundo com uma atitude de mundo, fugindo-se do que chamei aqui de percepção coerente, que acho que podemos chamar de indolente ou sem compromisso. Percepção de salão, para os outros.
Nesse novo mundo, por sua característica de criadora de nova governança da espécie, o ego que vale é o ego criador que procura singularidade.
E aí temos uma corda bamba difícil.
Esse é o novo desafio.
Versão 1.0 – 21/11/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.
[…] Há que se preparar para a expansão desse ego digital, que vai completamente contra o modelo que temos hoje. Vou falar mais sobre isso aqui nos desafios do ego digital. […]