Nossos egos foram muito maltratados na última ditadura cognitiva. Eles se infantilizaram por causa da concentração de canais.
(Já tinha falado mais sobre isso aqui.)
Todo mundo espera um pouco de reconhecimento do outro. Uma taxa que varia de pessoa para pessoa. Há, porém, uma relação entre infantilização do ego, reconhecimento, neuroses, conceitos de fama e fazer sucesso com canalização da sociedade.
Detalhemos.
Note que os canais de divulgação de ideias na sociedade filtram o que vai ir a público.
Publicar é ir a público e quanto menos canais temos, mais dependente ficamos daqueles que filtram, pois todos querem ser reconhecidos em alguma medida, sair de um anonimato e deixar algum legado. Há muito de medo da morte em tudo isso.
Isso é típico quando alguém começa a filmar para a televisão a quantidade de pessoas que querem se colocar na frente. Todos querem ter seus cinco minutos de fama.
Fama é a opinião dos outros, que podemos chamar de feed-back, reputação, que hoje em dia ganhou o status da reputação que MUITA gente tem de nós.
Fama em uma sociedade de massa é quando você consegue furar o bloqueio e passa pelos canais filtradores e vai a público. Nosso ego maltratado pela ditadura cognitiva que entra em ocaso foi educado para ser hiper-dependente dos atuais filtradores.
Temos sucesso se aparecemos na mídia e vice-versa.
Isso, entretanto, começa a mudar com a Internet, pois há um fenômeno da macro-canalização da sociedade, que permite que, qualquer um, de forma barata possa vir a público e colocar a sua cara a tapa, ou a fama.
O problema é, entretanto, que nosso ego foi educado para ser mundial ou nacional e não de nicho. Ou seja, nosso ego quer um reconhecimento de massa, de muitos e não o de nicho, de poucos.
Nosso ego quer a mídia de massa e não a mídia de missa!
É preciso uma reeducação de como pensamos a fama, o reconhecimento, em escala de valores e de quem esperamos reconhecimento.
Há dois movimentos aí.
- O interno – que é o resgate do auto-valor e do reconhecimento pela própria pessoa;
- O externo – que é o de aceitar o reconhecimento de nicho como o esperado e fundamental.
Isso nos leva para a questão do “fazer sucesso”.
Fazer sucesso hoje na sociedade – e isso é ótimo para as organizações filtradoras. – é aparecer frequentemente na mídia de massa e ser aceito pelas autoridades de plantão.
Queremos a espada do rei no nosso obro, um título de nobreza para andarmos diferente pelo nosso bairro. Ter o reconhecimento de cima para baixo para os que estão à nossa volta nos olhar diferente.
Não fazer sucesso é não aparecer nestes espaços e não ser aceito pelas autoridades de plantão.
Porém, o cruel e perverso disso tudo é que o filtro que é feito tem um critério e um interesse associado. E leva a sociedade a um processo de hiper-homogenização.
Ou seja, para publicar, ir a público, ter fama e sucesso eu preciso ser aceito pelos critérios de quem filtra.
Tudo pela fama.
E abrir mão do que eu tenho de mais precioso que é a minha singularidade, hoje um bem para lá de escasso.
Muitos dirão que se render à uma organização filtradora faz parte da sociedade e eu diria que sim, mas até uma determinada taxa.
Quando os canais e as organizações filtradoras vão se concentrando mais e mais, tudo acaba ficando cada vez mais homogêneo e vai criando mais e mais neuroses, pois para que eu possa aparecer para fora, digamos “ter sucesso” eu preciso abrir mão daquilo que me faz singular.
Ou seja, para ter sucesso em hiper-concentração é preciso se homogenizar e não se singularizar.
O que vai matando mais e mais a singularidade e diversidade humana tão importantes para como vemos e agimos diante do mundo.
Acredito que a macro-canalização vem reequilibrar esse jogo, pois hoje há chance de reconhecimento e – em muitos casos viabilização financeira – para que se possa ser menos homogêneo e mais singular.
(O caso do Porta dos Fundos vai nessa direção e tantos outros.)
E isso é algo fundamental para a sociedade que precisa estimular a singularidade para sair das crises que nos metemos.
E isso pede um ego mais maduro, um ego muito mais auto-referenciado.
Um ego que coloca como desafio a superação dele mesmo, um auto-reconhecimento, uma missão de ser singular.
Ou seja, um ego digital, que detalhei mais aqui.
Versão 1.0 – 21/11/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.
[…] (Sugiro, se se interessou, ver mais aqui.) […]