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  • Já combati aqui a ideia que estamos em uma sociedade do conhecimento.
  • E agora vou questionar que estamos entrando em uma sociedade em rede.

Os motivos da crítica são as mesmas.

Ambas as conclusões são mais “achismos”, sensitivismos, percepcionismos, do que uma visão científica, que vai se agarrar em algo mais racional e reflexivo, tendo como ferramentas a filosofia, a história e algumas teorias. As sensações sem aprofundamento não nos levam à verdade (entenda-se verdade sempre como algo provisório.)

Note que muitos entendem ciência, ou estudo científico, como algo que feito dentro da academia e com publicações aprovadas por pares. Isso é a visão conjuntural da ciência, regida pelo atual modelo impresso-eletrônico. A filosofia, entretanto, procura os conceitos mais permanentes, aponta a ciência como a tentativa humana de estudar as causas dos fenômenos para poder compreendê-los e dominá-los.

Vou, assim, de Augusto Comte:

Saber para prever;
Prever para prover.

O importante são métodos que funcionam e não aqueles que sejam aceitos em um determinado contexto, muitas vezes viciado, principalmente em uma forte contração cognitiva.

(Vejam mais sobre Comte, medo, verdade e de onde tirei a frase acima daqui deste vídeo de Oswaldo Giacóia.)

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Podemos questionar tanto a ideia da sociedade do conhecimento como da sociedade em rede na sua base com  algumas perguntas:

  • Por que elas vêm agora para serem constitutivas da sociedade e não antes ou não depois?
  • Há fatores/causas que nos levam a viver essas duas sociedades?
  • Quais são eles?
  • E, por fim, se são fenômenos humanos, por que não ocorreram no passado depois de tantos mil anos vividos?
  • E se ocorreram quando ocorreram e qual a comparação entre aquele do passado e o agora?

E o que é mais grave.

  • Se vivemos hoje a sociedade do conhecimento temos que admitir que antes não vivíamos em sociedades do conhecimento. Eram sociedades de pré-conhecimento. Isso faz sentido?
  • Se vivemos hoje a sociedade da rede ou em rede temos que admitir que antes não vivíamos em sociedades de rede. Eram sociedades pré-rede. Isso faz sentido?

Os dois conceitos nos levam naturalmente a essa visão exclusivista de que agora sim é a do conhecimento ou a da rede. Os termos, a meu ver, nos levam a um equívoco histórico com consequências preocupantes, pois todo diagnóstico, chama um prognóstico e este a um receituário de intervenções na sociedade.

Quem acha que diagnosticar não nos leva a lugar nenhum deve fazer arte e não ciência!

Vou dizer mais os conceitos de sociedade do conhecimento ou de rede me parecem quase religiosos, baseado em crenças, um tanto metafísicos e não resistem a uma problematização científica filosófica.

Valem e se disseminam, pois são percepções melhores do que aquelas que ignoram as atuais mudanças, mas não ajudam muito a ir muito adiante.

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Quando se afirma que vivemos a sociedade do conhecimento ou em rede, sim denota-se mudanças e isso faz parte do que podemos chamar de Zeitgeist, o espírito do tempo, em que se capta algo que muda, mas não podemos ficar apenas no achismo.

O achismo é o primeiro degrau da ciência e não o último!

Há mudanças VISÍVEIS em curso e alguns observam e querem interpretá-la e mitos querem ignorá-las.

De qualquer forma, todos acabam dando um sentido, procuram uma explicação razoável para o que está acontecendo, o quanto isso irá afetá-los, o quanto isso é uma ameaça, o quanto devo temê-la e o que devo fazer para dominá-la.

Porém, há visões diferentes sobre o diagnóstico da mudança o que nos levará, conforme cada caso, a diferentes prognósticos e, por fim, a prescrições do que deve ser feito.

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A base do questionamento é quem muda a história afinal?

E isso tem impactos na visão que temos do ser humano.

Somos uma tecno-espécie ou uma econimicus-espécie?

Note que Castells, por exemplo, defende a sociedade em rede, mas acredita que é um movimento das forças econômicas. Ou seja, é sociedade em rede por causa da economia. Tem a percepção da mudança, mas não deixa de acreditar na força da economia como o principal motor da história, onde surge o termo informacionalismo.

Já Lévy, filosoficamente, defende que são as tecnologias cognitivas o epicentro da mudança,, o que é um salto na maneira que pensamos o ser humano.

Lévy propõem uma mudança em como vemos o ser humano, Castells, não.

Castells, assim, é conservador filosoficamente, apesar de estar antenado com as mudanças, mas não vai tão fundo filosoficamente como sugere Lévy, embalado pela Escola de Toronto, que já vem dizendo isso há mais de meio século, baseado em mudanças em tecnologias cognitivas (mesmo que não chamassem assim) no passado.

(Falei mais sobre a visão de Castells x Lévy, aqui.)

Ou seja, temos no epicentro do diagnóstico do novo século uma discussão filosófica.

As atuais mudanças questionam a maneira que respondemos uma das perguntas centrais da filosofia:

Quem somos?

  • Quem acha que sim, adere a ideia de que somos uma tecno-espécie e estamos migrando da influência das tecnologias cognitivas impressas-eletrônicas para as digitais.
  • Quem mantém a ideia de que somos uma espécie econômica centrada tenderá a analisar todos estes fenômenos ignorando a chegada do digital como a grande força da mudança. 

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Parece-me promissor aliar o estudo das tecnologias cognitivas com a complexidade demográfica para que possamos ter tanto a história como um campo de estudo, como uma causa mais tangível para a necessidade/adesão à grandes mudanças.

Por fim, diria que é possível usar os conceitos de sociedade do conhecimento em rede ou do conhecimento, desde que a revisão filosófica seja feita, incluindo o digital como o grande fator de inflexão.

Ou seja:

  • – sociedade em rede digital para se contrapor à sociedade em rede impresso-eletrônica;
  • – sociedade do conhecimento digital para se contrapor a  à sociedade do conhecimento impresso-eletrônica.

O que acredito que é que há, pela ordem, as seguintes revisões a serem feitas:

  • Quem somos? Uma tecno-espécie.
  • O que está mudando? A chegada de um novo ambiente digital, que modifica a nossa governança;
  • Por quê? Somos agora 7 bilhões de pessoas.

Assim, prefiro chamar de Sociedade dos 7 bilhões de habitantes com um ambiente tecnológico-cognitivo Digital ou Sociedade da Governança Digital, que se contrapõe a Sociedade da Governança impresso-eletrônica. O que nos dá espaço para um debate mais profícuo, não como um fim de conversa, mas justamente para um início mais promissor e menos achista.

Que dizes?

Versão 1.0 – 21/10/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.  

 

One Response to “O mito da sociedade em rede e do conhecimento”

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