De maneira geral, os ainda incipientes projetos de migração de empresas tradicionais para o novo modelo 2.0 se concentram, de maneira geral, na introdução de ferramentas “colaborativas”, substituindo a velha Intranet por ferramentas parecidas com o Facebook. Infelizmente, por mais que se esforcem, não estão funcionado. Vou tentar procurar algumas causas…
Versão 1.0 – 05 de julho de 2012
Rascunho – colabore na revisão.
Replicar: pode distribuir, basta apenas citar o autor, colocar um link para o blog e avisar que novas versões podem ser vistas no atual link.
De maneira geral, do que leio e escuto o resultado tem sido: “aqui ninguém colabora”, “está difícil a colaboração”, “precisamos de uma gestão de mudança forte”, “tem que ter algo que agregue valor”.
O problema da não participação se deve a uma característica humana muito conhecida por todos nós: você só se engaja em processos de forma voluntária se sentir que a sua contribuição faz alguma diferença. E, por outro lado, aquilo vai agregar algum valor para a sua vida.
Certo?
Gosto da frase que escutei de um garoto muito novo, da dita geração Y, diante de um projeto de blogs corporativos:
Esse é um projeto de comunicação ou de mudança de processos?
Nessa frase está contido todo o impasse dos projetos de implantação de redes sociais corporativas e da civilização atual diante da Revolução Cognitiva em curso.
A visão que temos hoje de comunicação está fortemente intoxicada.
Estamos saindo de um ambiente controlado e vertical – de uma comunicação como ferramenta de mão única.
Chamamos de comunicação algo que é construído por causa dos meios tecnológicos disponíveis que moldam a forma que ela é feita e, por sua vez, o nosso conceito da dita cuja!
Ou seja, quem faz a mensagem é o meio (que nos molda) e nós tentamos nos adaptar, dentro de alguns parâmetros, para ver que limites temos.
Porém, comunicar, no que deveria ser a origem da palavra, deve ser uma via de mão dupla, ou a mais de mão dupla possível.
Quando estamos sem tecnologias, presencialmente, podemos experimentar esse diálogo.
Mas socialmente somos condicionados pelos meios, pois precisamos nos comunicar a distância e é nessa necessidade que somos moldados.
Moldado na comunicação, moldados no trabalho.
E assim é esse trabalho vertical, que molda o modelo organizacional vigente.
Ou seja, trabalhamos, conforme nos comunicamos e vice-versa, Se quer mudar um, tem que mudar o outro, inapelavelmente!
E isso pode explicar um pouco a dificuldade que temos tido com as chamadas Intranets 2.0.
Estamos vivendo uma mudança cultural lá fora da maneira de se trabalhar (fazer coisas juntos) e de se comunicar, mas as empresas só querem comprar uma parte disso e acham que, como mágica, vão conseguir.
Não parece que está dando certo!
Hoje, na escola, no consultório médico, nas empresas, na sociedade, na política ainda temos o modelo de que alguns poucos definem a mensagem/forma de fazer as coisas e a maioria segue, sem a interferência ao longo do caminho.
Se existem problemas no processo, quem está dentro dele não (com nosso modelo trabalho/comunicacional de hoje) a chance de interferir, ou quando tem é tarde para mudanças que poderiam ser feitas bem antes.
Não temos uma cultura comunicacional e nem organizacional que nos ajude a realizar mudanças durante o processo, mas de formas pontuais antes e depois.
É assim que funciona e pronto!
Tem hora para mudar – e essa hora é quando quem definiu a “mensagem” vai reavaliar o processo.
As pontas. atualmente, não têm autonomia para fazer ajustes – e isso é a raiz da crise que estamos vivendo – um tempo longo entre o problema e a solução, que seria a tal inovação constante necessária para ajustes vindo das pontas.
Isso é, de maneira geral, a cultura organizacional (trabalho e comunicação) vigente.
Não há construção coletiva da mensagem, do processo de comunicação, ao longo do caminho, apenas no final, como uma televisão, em que alguém “de cima” – de forma lenta – toma as providências, depois de um certo tempo.
Não temos mais esse tempo!
O “material didático” que vai para a sala de aula é aquele e pronto.
Sabe por quê?
Comunicação é um elemento chave do trabalho, que o espelha e representa.
Se a comunicação é vertical, sem mudanças ao longo do caminho, o trabalho é vertical, sem mudanças ao longo do caminho – são dois lados da mesma moeda cultural, que forma hoje a cultura organizacional em falência.
Tal cultura é lenta, pouca inovadora, pouco motivadora, incompatível com um mundo hiper-populoso, hiper-conectado com uma nova geração que chega, ao longo do processo – uma geração muito mais do que Y, uma geração Wiki – se veio a mim, quero mudar!
Assim, se estamos falando em criar ambientes de comunicação mais horizontais e participativos, temos que implantar, par e passo, ambientes de trabalho mais horizontais e participativos.
De tal forma, que uma sugestão relevante que ocorra, ao longo do processo, seja incorporada ao processo como um todo, como fazendo parte. Para isso, o modelo organizacional é outro.
Por isso, tenho tido dificuldade de considerar possível fazer essa mudança de forma incremental no modelo antigo, dentro da cultura antiga, sem criar um espaço novo para inovar na forma de trabalho e na comunicação.
Tenho sugerido um caminho mais direto, através de zonas de inovação isolada. Sim, muito mais difíceis de serem aprovadas, pois a Revolução Cognitiva não é AINDA vista como um elemento para mudança radical na estratégia, porém é o que a lógica aponta.
(Como o ser humano é pouco lógico, ainda mais em grandes mudanças, continuemos.)
Muda-se a forma de conceber os processos de trabalho, em função das novas possibilidades de comunicação. E não a comunicação isoladamente!
Assim, quando o projeto de comunicação colaborativa 2.0 é só um “projeto de comunicação”, para “melhorar a colaboração”, obviamente, que tende ao fracasso, pois estamos jogando a moeda para o alto com apenas cara, mas não aparece nunca a coroa!!
Ou seja, queremos mudar um lado da moeda da comunicação, por pressão do mundo externo, mas não queremos (ou podemos) mudar a forma de trabalho.
E aí passamos a ter o conflito entre os dois verbos, que são sinônimos.
Co-laborar – que é o ato de “co” laborar (laboro-trabalho) juntos, com o trabalho que passaria a ser mais participativo, não havendo dois verbos apenas uma taxa de mais ou menos interferência nos processos.
Vivemos, assim, na nossa eu-quipe hoje eu-laborando, mas queremos que todo mundo participe em um ambiente de trabalho fechado – que não prevê mudanças a partir dessa participação. Eis o impasse!
Projetos 2.0 devem procurar, assim, estabelecer uma nova cultura de trabalho, no qual os processos de comunicação e de fazer as coisas mudam junto e não em separado!!!
A mudança para a nova cultura mais participativa implica em uma nova maneira de trabalhar, através de novas plataformas digitais. Se a maneira de trabalhar muda, a comunicação segue naturalmente e vice-versa, como uma dupla de Cosme e Damião!
Digo mais.
O trabalho hoje em dia – na maior parte das organizações – é diante de uma tela de computador salvando arquivos em uma base de dados qualquer.
Certo?
Somos muito menos trabalhadores do conhecimento e muito mais salvadores de arquivos! 😉
O que diferencia cada profissional é que tipo de arquivo é salvo e onde.
Projetos 2.0 devem nos levar, assim, a salvar de uma nova maneira o resultado do nosso trabalho, permitindo que esse resultado seja aberto, coletivo e que possa sofrer a interferência cada vez maior dos outros ao longo do processo, o que leva a comunicação a seguir o mesmo caminho.
Ou seja:
É muito mais o SAP que tem que permitir a colaboração do que a Intranet!
Sugere-se, assim, o uso de rastros para criar karmas digitais nas pessoas, processos e documentos, aos quais cada clique vira uma informação nova.
É disso que se trata quando falamos em uma nova organização!
Ou seja, não estamos falando em uma introdução pouco eficaz da comunicação mais horizontal em um trabalho ainda vertical, mas de uma nova forma de se fazer o trabalho, mudando a cultura do trabalho e, por sua vez, impondo naturalmente uma nova forma de comunicação – que a sustenta.
Um trabalho mais participativo, inovador e mais compatível com o futuro, que vem por aí de forma inapelável.
Por aí, que dizes?
[…] Usa-se, assim, todos os anti-corpos possíveis para que o projeto não dê certo, começando pela recusa de uma falsa colaboração (uma confusão entre trabalho e trabalho-extra, que detalhe aqui.) […]