Um mundo desfiltrado é um sonho anarquista, bonito, mas inviável!
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Temos aquela velha fantasia da informação neutra.
Porém, a “realidade” ao ser registrada será feita por alguém, utilizando um determinado código.
Assim, o que há, ao se registrar determinado fenômeno, traduzi-lo para um determinado código, necessariamente haverá uma taxa de manipulação.
Publicar é necessariamente manipular, filtrar a “realidade” e nunca a “realidade” em si.
Assim, o ser humano é incapaz de apresentar a realidade, mas apenas se aproximar mais ou menos dela, através de critérios específicos, que podem – por diversas razões – se aproximar ou se distanciar mais de algo sempre mutante que chamamos de “realidade” (sempre entre aspas).
Os filtros, apesar da manipulação inerente, são fundamentais para a espécie humana, pois a “realidade”, as coisas que acontecem são sempre acima da nossa capacidade de percepção.
Precisamos dos filtros (de gente que possa os ajudar) a apreender pedaços da “realidade” nos situarmos para que possamos tomar decisões.
Gatekeeper é preciso, ponto!
Podemos dizer mais: sem filtros não existirá espécie humana.
Um mundo desfiltrado é um sonho anarquista, bonito, mas inviável!
Toda sociedade humana criará, assim, indústrias de filtros da “realidade”, que têm como missão “manipular” os fatos para nos aproximar – o máximo possível da mesma.
Quanto mais uma indústria de filtro conseguir nos aproximar da realidade, mais chamará a atenção e mais valor vai gerar para seus usuários.
(A ideia, assim, de que um jornal é gerador de conteúdo é simplesmente olhá-lo de forma superficial, pois ele gera um filtro para que possamos olhar uma nesga do que ocorreu naquele momento.)
Em uma Revolução Cognitiva, que estamos passando com a chegada do computador em rede, há uma forte mudança na indústria dos filtros.
As mudanças passam, no primeiro nível mais superficial, por um equilíbrio entre o excesso e a escassez da informação.
- Quanto mais houver informação disponível, mais precisamos de filtros que nos ajudem a criar um sentido, como uma caixa de quebra cabeça que nos facilite juntar as peças e ver melhor;
- Quanto menos houver informação disponível, mais precisamos de peças para que possamos forçar um quadro geral.
Além disso, uma Revolução Cognitiva, gera uma mudança um pouco mais oculta, mas extremamente relevante para o futuro da mídia de massa.
- Um ambiente de escassez de informação é uma ambiente mais controlado por quem filtra e vice-versa.
- Um ambiente de abundância das fontes (e portanto mais gente filtrando) é um ambiente menos controlado por quem filtra.
Podemos dizer, assim, que estamos saindo de um ambiente de escassez e maior controle para outro com abundância e uma maior taxa de descontrole.
Como há a necessidade de filtragem, o valor gerado por quem filtra está na sua capacidade de:
- se adaptar ao novo tempo;
- passar a oferecer menos peças do quebra-cabeça (dados) e mais sentido (análise).
Como a passagem é rápida e muito brusca a indústria de filtros (mídia impressa, de áudio e vídeo) ainda tem tentado gerar valor no modelo anterior e migrando demoradamente para o novo.
Fala-se em gerar conteúdo, mas o que se quer – e sempre que se quis – é a formação de sentido.
- O mundo antes mais estável e previsível nos demandava uma indústria de filtros conteudística, nos dando pílulas de dados, para compor o quadro geral.
- O mundo agora mais instável e imprevisível nos demanda uma nova indústria de filtros analítica, cenarista, nos ajudando a juntar as pílulas de dados, que pegamos em todos os cantos, para compor o quadro geral.
Por fim, há uma mudança cultural na humanidade de um ambiente regido pelas mídias impressas e eletrônicas para a digital.
Não é uma passagem impossível de uma borboleta em um beija-flor apenas batendo as asas.
Minha experiência tem me levado à ideia de criação de zonas de inovação e a criação de startups que possamo começar do zero em um novo paradigma!
Ou seja, não acredito ser possível migrar as velhas instituições em novas.
Pode até ser viável, mas o custo é tão grande e com tantas crises, que é mais rápido e barato sair do zero.
Na nova mídia digital, começando nativa, exemplos não faltam por aí, há novas possibilidades, tais como:
– co-criação dos filtros e conteúdo;
– o uso muito mais mais amplo de rastros que podem nos ajudar a separar o joio (ruído) do trigo (significado).
Tudo isso leva à industria dos filtros para uma mudança no conteúdo e na forma.
Diria que é preciso:
- – resgatar o conceito de se perceber como uma indústria de filtro (que sempre foi) para deixar de ser ver como de conteúdo;
- – aumentar a taxa de análise reduzindo a de oferta de dados sem significado;
- – se adaptar a uma nova cultura do ambiente cognitivo digital, que é outra lógica bem diferente;
- criar experimentos completamente novos, através de projetos pilotos, que terão a missão de construir novos modelos e “matar” os antigos, antes que alguém de fora o faça.
É isso,
Que dizes?
Interessante esse ponto de Vista, Nepo. Gostei!
*Aproveitando, ví um de seus Twitts:
cnepomuceno Com o fim da era industrial, é hora de reinventar tudo – Valor – hoje – melhores de 2012 -> bit.ly/NZKVFM – Bom Dia
O Texto é exatamente sobre o que você trata aqui no blog. Muito interessante!
Bruno, isso o Tapscott está na mesma linha, ou eu estou na mesma linha que ele, como preferir 😉 Não se fazem gurus perto de casa, como diz o Kotler.;)
Seu blog eh incrível! Muito bom ver conteúdo assim na web!