Quem olha tudo muito de perto, acaba só vendo o nariz – Nepô – da coleção;
Estive em um debate semana passada, vi um filme do Festival do Rio (Conectados) e me veio o insight de como são as diferentes visões que temos sobre a Internet.
Diria que 95% das pessoas, ao fazer uma análise da rede, estão no achismo, juntando partes soltas, dados, cases e tentando articulá-los da melhor maneira possível.
Um conjunto bem menor tem tentado, além dos dados, trabalhar a análise da rede em uma perspectiva histórica.
Diria que há uma diferença abissal entre as duas abordagens, do achismo para a procura de padrões, do presente pelo presente e da tentativa de comparação com outros fenômenos do passado.
No primeiro caso, temos que aceitar os prognósticos de gurus a-científicos e a-históricos.
No segundo, começamos a navegar em áreas mais racionais e científicas, baseado em padrões.
No debate, enfim, as pessoas falavam de fatos, fatos e fatos, dando a sua versão para o mesmo, juntando as coisas, sem explicar as forças em conflito.
Fatos que iam se juntando, como uma cobertura de frutas em um Yogoberry.
Eram coloridos, mas não rimavam, não se fazia um nexo, não se via as forças atuando sobre o conjunto do ponto de vista sistêmico.
Somos cartesianos (dividimos em parte para analisar o todo).
Uma visão sistêmica vê as partes e o todo dentro de um mesmo corpo e tenta ver como as forças duelam lá dentro.
Uma das doenças correlatas da visão cartesiana é deixar a história de lado, pois agarra-se cada vez mais aos detalhes e não ao cenário geral.
A ciência a meu ver é tentar encontrar os padrões menos visíveis e torná-los cada vez mais visíveis, a partir de estudos e pesquisas, em uma procura constante, nunca um ponto final de chegada.
Lembrei, pensando nisso, de um gesto do Pierre Lévy na palesta da Petrobras.
Ele disse que as pessoas estão vendo o fenômeno muito de perto.
E colocou a mão na frente da cara, quase encostando no nariz.
Diria que para pensarmos um fenômeno dessa magnitude teremos como premissa:
1- identificar sua característica;
2- ver se na história há algo similar;
3- comparar para ver similaridade e diferenças;
4- e, por fim, podermos começar a fazer as diferenças.
Não é assim que temos feito, infelizmente.
Estamos tão envolvidos na pressa de ganhar dinheiro e esquecemos que para se ganhar dinheiro é preciso gerar valor e as grandes oportunidades nessa direção é quando fazemos algo completamente novo.
Para isso, é preciso olhar além e a história está aí para nos ajudar.
Mas quem quer parar para pensar na sociedade de conhecimento? 😉
E entramos geralmente nas palestras, cursos e consultoria no festival de achismos.
O caminho histórico é o único?
Hum, digamos que talvez não, mas diria que seria o que encurta mais o caminho e economiza mais ao se trabalhar com ações.
Concordas?
Um bom francês jamais diria ” – Eu acho…”, mas sim ” – Eu penso…”. Com relação aos debates e palestras ou mesmo opiniões que tenho visto sobre a Internet, não passam, sem dúvidas, de ” – Eu acho…”, mas de uma maneira refinadamente parafraseada por quem nunca aparece e aparecerá no cenário em questão. Concordo com sua afirmação: “Diria que 95% das pessoas, ao fazer uma análise da rede, estão no achismo, juntando partes soltas, dados, cases e tentando articulá-los da melhor maneira possível. Um conjunto bem menor tem tentado, além dos dados, trabalhar a análise da rede em uma perspectiva histórica”. Salvo, no entanto, uma dúvida com relação a perspectiva histórica. Será ela, a única via de entendimento deste fenômeno e, sendo a Internet um “evento sem precedentes”, grosso modo, como buscá-la em suas raízes mais remotas? Ou o caminho seria estabelecer um marco sem relação com outras mídias? (O que penso ser impossível). Dessa forma, continuo achando que a Internet trás um mundo novo e que sem a criatividade e a educação necessárias para dela usufruirmos e compreendê-la, não se produzirá nada de novo e o conhecimento, cuja raíz é a metafísica, segundo Descartes, seria mero acesso a informação. Gostaria de sanar as dúvidas, sem achar nada, mas pensar sobre isso. Muito bom texto!
Jeferson, leia Pierre Lévy, em particular, Cibercultura, que compara a mudança trazida pela rede a outras mudanças, como a fala e a escrita, sugiro tb dar uma olhada na bibliografia da minha tese de doutorado, ali tem muita gente que está comparando a rede com a chegada do papel impresso, veja lá: http://nepo.com.br/2011/04/29/enfim-a-tese/
abraços, valeu visita e comentário,
Nepô.
Concordo demais! O resgate histórico é um processo quase terapêutico, que acalma angústias nascidas com a internet 2.0.
Comparar as mídias, relacionar prensa à internet, analisar consequências na época e as que começamos a visualizar hoje, e ainda as que nem imaginamos… começa a dar sentido às coisas.
O resgate histórico tem meu voto.
Abs,
Karol.
É isso, sugestão para seu mestrado, Karol,
bjs
Nepô.
Com certeza Nepô! Quero seguir essa linha mesmo. Conto com vc! Bjs.
[…] Há que se recorrer à história para nos ajudar! […]
[…] Há que se recorrer a uma visão histórica para nos ajudar. (Ver mais detalhes aqui!) […]