Democracia 1.0: diga muito, mas não mude nada – Nepô – da safra 2011;
Começa a aparecer por aí a campanha, inclusive de gente boa e consciente, de que o voto distrital é a saída para a democracia brasileira.
E outros, mais perversos, sugerem voto em lista, o que, em ambos os casos, ao invés de ampliar a representação vai piorar o quadro, pois vamos, até com boas intenções, fechar ainda mais o que nunca foi totalmente aberto.
Tenho acompanhado a série de artigos de Alberto Carlos de Almeida no Valor, estudioso da política, que afirmar que o “voto distrital é uma camisa de força que traz vários prejuízos para o sistema de representação” .
Que tem sido utilizado em outros países, que nos leva necessariamente ao bi-partidarismo e que a proporção nas cadeiras do parlamento irá prejudicar fortemente pensamentos diferentes e minoritários.
É isso que queremos?
Ver mais sobre os riscos do voto distrital aqui.
Não podemos nos cegar.
O sistema de representação em todo o mundo terá uma forte mudança, que começa a mostrar a sua nova cara nesta década, a partir da possibilidade de desintermediação de poderes que a Internet permite, pois agora é possível:
- – debates em rede, do cidadão participando, desde casa, do trabalho, quando puder;
- – voto em rede, qualquer hora e qualquer dia;
- – robôs que podem nos ajudar nas métricas mais eficazes de representação.
Ao pensar esse futuro democrático não podemos olhar apenas o retrovisor, mas também e, principalmente, o pára-brisa!
A Islândia optou, por exemplo, por refazer a sua constituição com forte apoio das redes sociais, veja o exemplo.
É um primeiro passo, mas não é tudo.
Se vamos defender mudanças que seja para algo melhor, novo e mais representativo e não imitar aquilo que as pessoas já estão descartando!
Não fará mais sentido no futuro que determinadas decisões não possam ser tomadas de casa/locais públicos pelos cidadãos.
Plebiscitos, debates específicos podem ser corriqueiros e contar com cada vez mais adesão dos eleitores, seja para questões micro-regionais ou macro-questões.
Ao invés de 20 deputados podemos ter 200 mil eleitores debatendo um determinado tema.
De fato, não temos ainda clareza do potencial que será aliar robôs + redes sociais + voto eletrônico.
Mas este é o desafio da década, talvez das próximas décadas.
Ou seja, podemos testar e tentar.
O Brasil pode – e é papel de quem está na frente desse movimento 2.0 sugerir – que algumas cidades voluntárias no país comecem a fazer experiências/protótipos de cidades com representação digital em rede
Para que testemos uma nova forma de representação que possa ir se espalhando por mais e mais cidades, aos estados e por todo o país na próxima década.
Se queremos mudança não vamos repetir o que não deu certo.
E algo em que o cenário e as opções dos eleitores era outra completamente distinta da atual.
Vamos criar algo novo já que vamos mudar!
Vamos na carona dos jovens espanhóis sobre a democracia 2.0:
“Não sabemos o que é, mas, com certeza não é nada isso que está aí”.
Que dizes?
Não digo nada, ainda.
Mas envio uma frase da minha lavra:
O TEMPO URGE, RUGE e CONSPIRA.
Roberto Coelho
Gostei da frase.
Oi Carlos, tudo bom?
Concordo plenamente com este post, todas estas propostas que estão sendo discutidas caminham ainda mais para um sistema com falta de transparência e sem ouvir os reais problemas dos povos.
As ferramentas estão aí, a custo baixo. A mudança depende de nos e não dos que detém o status quo atual.
Cada comunidade local possui liderança realmente interessadas na mudança real, mas que hoje não tem acesso as vias de transformação. Porque preciso me filiar a um partido para fazer melhorias aos meu povo? Isto nao é uma falha da democracia atual?
Neste sentido, passei algumas noites em claro no ano passado construindo o http://www.ivote.com.br que foi pro ar nas eleições de 2010 e ontem publiquei novamente pensando nas eleições do ano que vem. Te pergunto, porque não começar as eleições desde agora, online?
Eu digo que os caminhos só se tornam caminhos, depois que são caminhados.
Abs!
Ainda há alguns dias eu discutia com alguns colegas a falibilidade dessa representatividade atual que nós temos, quando podemos ter ferramentas que nos representem diretamente. Esse é um dos meus pontos.
Um outro é que não adianta ser representativo se a massa eleitoral é mal informada. Em minhas breves pesquisas, descobri que o nome dessa crítica é “Irrational voters”:
“Essa crítica à democracia é de que os eleitores são mal informados a respeito de muitos assuntos de ordem política, especialmente relacionado à economia, e têm um pensamento enviesado sobre poucos dos assuntos dos quais eles detêm algum conhecimento. Por exemplo, membros de um sindicato são mais passionais e melhor informados sobre políticas trabalhistas. Eles vão se organizar e fazer lobby no governo para que este adote políticas que beneficiem sindicatos, mas pouco provavelmente vão beneficiar o resto da população”
Livremente traduzido de: http://en.wikipedia.org/wiki/Criticism_of_democracy
É claro, ter uma população bem informada a respeito de política é a ponta de um iceberg muito maior.
Segundo matéria de 2002 da veja (eu não gosto muito da veja: http://veja.abril.com.br/310702/p_038.html ), era “revelado” que “a eleição (…) será decidida por quem ganha pouco, não paga imposto e vê muita televisão”.
Eu realmente espero, contudo, que a rede traga uma consciência política maior para esse eleitor.
Cavovsky, você tocam em pontos relevantes.
Toda sociedade, na verdade, quando procura um melhor sistema de representação, em que
é possível renovar constantemente nosso modus vivendi o operandi vai esbarrar no impasse
dos interesses de alguns em detrimento da maioria.
Pode analisar que vais ver isso em qualquer método que formos escolher e, no fundo, acabamos
com o menos ruim ou o que é possível hoje na co-relação de forças sociais, entre os mais acomodados,
que deixam e os que se aproveitam disso e usam (e abusam) das falhas do sistema (que sempre
precisa ser aprimorado contra estes).
O nosso novo impasse é que o mundo agora tem 7 bilhões de pessoas, o Brasil 200 milhões e
precisamos aprimorar, mas de uma forma a não voltar para trás e ir adiante.
Mesmo que sejamos uma minoria e que seja algo que só possamos conseguir mais adiante é importante
procurarmos conceitualmente fechar posição na procura de um equilíbrio melhor entre as diferentes regiões (que hoje é falho),
diferentes camadas da população, etc.usando a rede digital para nos ajudar.
O jogo está em aberto, tenho uma certeza apenas, nunca será o paraíso, pois no dia que todos acharmos
que estamos no paraíso, ou caiu uma bomba de neutrons e matou geral ou estamos numa ditadura com uma
capacidade incrível de lavagem cerebral,
concordas?
grato pela visita e comentário,
Nepô.
Nepô,
Fico a pensar sobre o descompasso “revolução digital x educação”.
Sem um mínimo de educação adequada, acredito que continuaremos a reproduzir o mesmo modelo mental na internet (temos uma ferrari, mas estamos contentes em andar pela direita à 30km/h) ou (nem todos tomaram consciência de que podem acelerar um pouco mais).
Mais do que um novo caminho, uma nova consciência.
Nilton,
Sim, o interessante que o novo caminho só ocorre com a nova consciência e vice-versa, estamos engatinhando….
valeu visita,
Nepô.
Como disse o Castells, a Democracia Partidária, dará lugar para a Democracia das Pessoas, na Sociedade em rede, os sonhos não cabem mais nas velhas estruturas, os Partidos tem o monopólio do exercício da cidadania, precisamos quebrar esse Monopólio, não acredito em voto distrital, lista fechada, distrital misto, sou a favor de incluir na reforma política, as candidaturas avulsas, não é um absurdo para exercer minha cidadania eu precisar do aval cartorial de partido? Isso combina com a Sociedade em Rede? As múltiplas identidades da sociedade pós-moderna, não cabem mais num reducionismo das idéias do século passado. Chegou a hora da Democracia das pessoas, sem atravessadores, sem intermediários, tenho certeza que com um concorrente desses os próprios partidos se tornariam muito mais abertos, como eles tem o monopólio não precisam se abrir, não precisam de democracia, não é coincidência que os Presidentes de Partido são os mesmos a décadas.