Sou esta tensão entre o que consigo ser e o que o mundo não deixa – da safra de 2011;
Ok, galera, não, não morri e nem vou me suicidar, mas tenho para mim que morrer faz parte de estar vivo, certo?
Mas acho que vivemos na sociedade da ilusão da eternidade constante. É fato: a sociedade do consumo precisa transformar valores em mercadoria.
E um destes valores é o conceito da eternidade eterna.
Ando por aí e vejo pessoas preocupadas com coisas tão pequenas e mesquinhas como se fossem vampiras que nunca irão morrer, apesar de gostarem tanto de espelho.
Talvez por causa disso gosto de ouvir Cazuza enquanto pedalo:
Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
(…)
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm
E logo penso que não têm a noção exata de como somos insignificantes e passageiros.
E que, ao final de tudo, todos iremos para o mesmo lugar.
E te digo que o que há mais no cemitério são arrogâncias nos seus devidos lugares.
E assim pensei em deixar um resumo aqui do trabalho que tenho deste blog há alguns anos e reflexões sobre esse novo mundo que estamos entrando.
Como disse Sinatra ( e um amigo meu que morreu de repente gostava de citar) :
Viva como se cada dia fosse o último (um dia você acerta).
O primeiro ponto fundamental das minhas reflexões é de que construímos uma versão do mundo dentro de um ambiente interessado.
Ou seja, a realidade, como bem mostrou Matrix, é um conjunto de códigos que acreditamos tantos neles que se tornam verdades.
Obviamente, que há entre os códigos e a vida um duelo constante.
E vamos criando um mundo em que a vida que bate é interpretada no código que está pronto.
E as crises nada mais são que a frustração das ilusões (mar) que criamos sobre as coisas (rochedo).
E existem micro crises individuais.
E macro crises civilizacionais.
Estamos vivendo esta última.
É um senso comum genérico, um contrato social ideológico em que todos pensamos mais ou menos do mesmo jeito com algumas nuances.
O principal elemento da vida que entrou na nossa casa pela porta, sem pedir licença foi a rede digital, que chamamos genericamente de Internet.
Um conjunto de atores desarticulados e sem o propósito claro de suas intenções criaram a rede, assim como inventamos a fala e depois a escrita manuscrita e depois impressa.
Se existe algo que podemos dizer que é uma construção coletiva são as ferramentas de conhecimento, informação e relacionamento.
Vão sendo construídas de uma forma descontrolada, com pontos de controle, que são descontrolados mais adiante, normas da língua, da escrita, registros, normas de publicação, etc.
Pois bem, a rede digital, que inaugura uma revolução cognitiva é um fenômeno da vida que não estava devidamente registrado nos livros.
São raros os autores, talvez MacLuhan, que tiveram a dimensão de algo similar.
Ninguém, ninguém previu a chegada da Internet, apesar de termos tido a ruptura da prensa e da escrita no passado.
Achávamos que o ambiente da informação e da comunicação mudava, mas nem tanto.
Eis a pedra fundamental da nova civilização que bate à porta e não vemos.
As ciências não tinham e ainda não têm registro de fenômenos sociais dessa natureza e nem a devida avaliação das consequências para a vida da sociedade quando algo assim ocorre.
(Se a ciência ignorava, imagina os gurus de negócios!!!)
O mais interessante que nos achamos na sociedade da informação, da comunicação e do conhecimento e muito pouco sabemos sobre fenômenos tão relevantes.
Como somos arrogantes!
Ou seja, nossa maneira de pensar produzida e construída dentro de uma bolha controlada informacional, comunicacional está entrando em contato com um fato completamente novo.
Sobre esse fato de uma revolução cognitiva, nós contemporâneos a ele, temos duas atitudes:
- – sub-valorizar – “é algo corriqueiro”;
- – super-valorizar – “é algo que muda a natureza humana”.
Ao longo dos meus estudos, tenho visto que há um caminho estreito no meio destas duas visões entre o tecno-otimismo e a tecno-fobia de plantão.
Que é por onde a sabedoria vai escoar.
A rede digital, como a chegada da escrita impressa, rompe a bolha do contrato social estabelecido anteriormente, pois permite que as pessoas se informem, escolham seus filtros, possam se articular, a pensar novos projetos de todo tipo (de negócios, políticos, de lazer, etc).
Começamos a ver Matrix de fora.
É uma porteira que se abre para um novo mundo.
Ou seja, o que muda basicamente não é o mundo, mas como víamos o mundo!
E ampliamos nossos limites individuais e coletivos.
Tal fenômeno abre um novo canal para que haja ajustes profundo na sociedade, uma adequação, a meu ver, da formatação das redes humanas, pois precisamos de uma nova forma de gerir a sociedade de forma mais dinâmica, principalmente influenciada pelo aumento radical da população.
Saltamos de 1 bi em 1800 para 7 bi em 2010!!!
Essa teoria é sustentada por diversos autores, como Galileu, que diz que quando um determinado corpo cresce em tamanho precisa mudar de forma.
Ou por Shirky que defende que aumento das pessoas no ambiente não cresce apenas em número, mas cada vez mais em complexidade.
Ou seja, não é possível nos organizarmos com a mesma rede hierárquica do passado com essa complexidade toda.
O fato que deve ser analisado com a Internet, não é dela simplesmente existir, pois os rádio-amadores já eram algo que apontavam uma latência para conversa a distância por pessoas comuns.
Um chat, via rádio.
Mas, principalmente, pela adesão da população a esse novo canal.
É preciso assim alinhar = latência com tecnologia cognitiva barata, acessível e capilarizada.
Abraçamos tudo isso por uma latência voraz, por sentir que um mundo como o nosso precisava de um novo tipo de rede humana de troca.
A fala, a escrita, a comunicação, a relação a informação é algo tão profundo e arraigado que trabalha na ordem do intuitivo e emocional.
Sentimos e agimos nessa direção.
Se informar e se comunicar é o ato que mais fazemos depois de respirar.
A maioria das pessoas, por estarem dentro de Matrix até a raiz do cabelo, os imortais, robôs de um mundo cotidiano, presos a coisas, a imediatice fugaz, obviamente, não olharão para esse fenômeno com o devido distanciamento histórico.
Demoraremos muito tempo para chegarmos a dimensão do que vivemos.
E mais algum para termos uma sociedade que vai aderir a essa nova forma de rede.
É triste mas a academia que deveria ajudar a essa compreensão está perdida dentro de uma rede fechada, pouco inovadora, resultado de anos de controle, hierarquia e tudo de decadente que há nesse processo. Fazem parte da mesma teia obsoleta e vão sofrer um grande choque de realidade.
Obviamente, que os exemplos desse novo mundo mais participativo estão aí.
Novas formas de empresas, cidades, governos, escolas….
Tudo muito incipiente e quando ocorrem estão cercados pelo antigo ambiente que acabam desvirtuando o modelo, mas que já servem como primeiros sinais de fumaça de um novo tempo que avança.
Prevejo que viveremos, como foi depois da chegada da prensa, quatro fases distintas, que podem se mesclar, conforme a velocidade:
- a tecnológica (a atual);
- a filosófica (que questionará os códigos mais arraigados);
- a da revolução social (quando o novo ambiente se consolidará em propostas concretas/leis de regulação social);
- E, por fim, a consolidação (que estabelecerá uma nova sociedade e uma nova classe dominante), prontos para novas revoluções cognitivas e novas crises.
Já me conscientizei que o futuro não é temporal, mas um local.
Locais onde coisas novas acontecem.
O problema é que quando vemos as coisas novas acontecerem não olhamos aquilo como o futuro, mas como uma anomalia do presente.
Por fim, diria que a base de tudo que estudei está na seguinte fórmula:
Mais gente –> exige mais produção –> que exige mais inovação –> que exige um canal novo de informação –> que exige uma nova gestão democrática.
Isso é, a meu ver, um teorema humano, que pode ser testado em um churrasco, em uma festa, em uma empresa que se expande, no mundo todo.
Se esses fatores não estiverem alinhados teremos crises constantes de produção, o que leva as pessoas a quererem outra forma de governo.
Caminhamos, assim, para um mundo compatível com 7 bilhões de pessoas que o modelo social/econômico atual não é mais compatível: é obsoleto.
Faremos um ambiente mais eficiente e, para isso, teremos muito sangue mais adiante, pois os que estão hoje montados no cavalo não vão querer desmontar de jeito nenhum.
Para a sociedade resolver um conjunto de problemas, precisará abrir muitas bocas que estão profundamente presas nos ossos da civilização passada.
Porém, mesmo com uma sociedade mais aberta e democrática do que conhecemos hoje nada nos garante que seremos mais humanos.
Uma taxa de mais humanidade depende claro de condições sociais e econômicas.
Mas a tecnologia não influencia diretamente nessa taxa, pois a cada dia, a cada semana, a cada mês estaremos sendo mais ou menos humanos, dependendo de fatores individuais e coletivos.
Não podemos deixar que as pessoas fiquem sem o seu sustento, pois o que há de mais animal em nós será despertado.
Ou seja, a humanidade é algo em que o fator espiritual no ser humano, não religioso, as causas nobres precisam pender mais para cima do que para baixo.
Isso é uma gangorra.
Por isso, acredito que um profissional de que área for deve adotar a missão de gerar menos sofrimento para as pessoas.
Redução de taxa de sofrimento é tudo que cada um pode colaborar e passar seu tempo, já que nada nunca terá muito sentido diante da finitude.
Invente algo, então, mais nobre!
Uns dias mais para cima, outros mais para baixo.
E assim iremos.
Neste post você fechou com maestria os principais conceitos que vêm desenvolvendo faz tempo, sei. Muito bom.