Um artigo científico demora 12 meses para ser publicado; a ciência, assim, é sempre do ano passado – Nepô – da safra de frases de 2011;
Bom, não vai ter jeito.
Vão ter que mudar a Ciência também.
Ciência se faz com documentos.
Antes, na época do Sócrates, era na voz, no papo, na oratória.
Agora, ainda é quase sempre no documento impresso.
Foram avançando com a Ciência, mas é tempo de lembrar sua origem: veio para ajudar a sociedade a pensar e, principalmente, resolver os problemas dos seres humanos e da vida à sua volta.
Fomos construindo ao longo do tempo condicionados por uma mídia do papel:
- – uma maneira de produzir os textos;
- – criando regras de pesquisa;
- – separando disciplinas;
- – e muitas, muitas normas, em nome de um rigor, que já em muitos casos não é mais eficiente para o seu propósito maior.
Toda essa lógica, como é produção de conhecimento, está condicionada ao ambiente informacional disponível.
A Ciência é, assim, influenciada por:
- Se é na voz, uma;
- Se é no livro, outra;
- Se é em rede digital, outra ainda.
E é isso que temos pela frente, a questão que não quer parar de Twittar:
Para onde vai a Ciência 1.0, de hoje, para a 2.0, de amanhã, em rede digital?
Posso tentar dizer que como macrotendências, seguindo a linha do que está acontecendo geral por aí:
- – terá que ser mais dinâmica;
- – menos especializada, mas transdisciplinar;
- – menos rígida, naquilo que se burocratizou, sem sentido;
- – menos individual e mais coletiva;
- – mais digital, muito mais líquida do que sólida;
- – mais intuitiva do que cerebral (um dos pontos principais desse post).
E não vamos perder nada com isso, ao contrário, vamos nos reequilibrar e tentar dar resposta a um planeta muito mais populoso e complexo para o qual o atual modelo não está mais conseguindo dar resposta no tempo hábil.
Vamos balançar o “cachorro” para tirar algumas “pulgas” que já estavam incomodando faz tempo.
Bom lembrar que:
Um texto acadêmico – nesse mundo de hoje – demora 12 meses para ser publicado!!!!
Isso é algo incompatível com o planeta fast-wiki, que demonstra algumas coisas relevantes para a nova Ciência, muito mais conservadora do que deveria – não quer ver.
Vamos a um case particular e pessoal, mas vale como exemplo.
Acabo de fazer a minha tese de doutorado.
Posso dizer que foram 200 páginas vividos por mim como um quase soco intelectual.
Que vai ficar aí na rede, praticamente sem leitor, devido a seu tamanho, tempo de preparação, amarração metodológica, tipo de texto (por mais que tenha tentado suavizar) que foi uma camisa de força mental para o meu tipo de cognição.
Não quero que a academia se adapte a minha pessoa, veja bem, mas a um tipo de perfil, que acho que eu e muita gente por aí tem também e não encontra eco.
Um grupo de pessoas mais intuitivas de algumas tendências gerais, que podem colaborar de outra forma que deveria ter espaço e não tem (ainda).
Esse tipo de perfil cognitivo intuitivo de tendências tem muito valor em épocas de mudança e num ambiente mais dinâmico.
Calma, vou explicar.
É fato que já existem instituições pelo mundo que já aceitam conjunto de artigos no lugar da tese, mas eu iria muito, muito, mais longe.
O futuro tudo permite! 🙂
A saber:
Eu deveria ter sido aprovado no doutorado pelo meu blog!!!
(Já deve ter também gente pensando nisso ou fazendo isso.)
Estou há três anos produzindo textos, provocações, colaborando para discutir novas ideias e conceitos com a sociedade, basicamente sobre os impactos da chegada da Internet.
Foram exatos 751 Posts e 4.622 comentários nesse período, paralelo à tese!!!
Poderia selecionar alguns deles para leitura e ser aprovado por uma banca, por que não?
Loucura?
Pois é, na minha academia 2.0, não acho não.
Note que existem cientistas que vêm consolidar e outros que vêm romper.
Os que vêm romper – e assumem essa função – não podem trabalhar com determinadas regras e formas, mas com outro tipo de ferramentas, métodos, que o modelo passado os impede de ajudar a viver o seu potencial como deveriam.
O conteúdo novo exige nova forma, pois senão não é pleno!
O seu papel é outro e MUITO necessário para a Ciência.
(Se nós temos perfis diferentes e deveríamos ter diferentes formas de ajudar a Ciência a partir deles, pois cada um cumpre uma função distinta.)
Claramente, nestes casos de perfil rompedor/intuitivo/provocador, deveria se apresentar nessa linha, comprovar que suas ideias são provocadoras e relevantes, dentro de um determinado prisma, acolhido, não rejeitado pela academia.
Nestes casos, pelo reconhecimento da relevância das provocações, a forma seria outra, um blog, por exemplo.
Mas pode variar conforme a área.
Pode ser produção constante de vídeos, de áudios, etc…
Geralmente, tal perfil tem provocações, que, geralmente, são muito mais amplas do que uma hipótese só, podem ser variadas.
E ajudam a criar cenários e incutir determinadas questões mais gerais para outras pessoas.
São indutores de percepções, de insights e de novas hipóteses, que formam o DNA de qualquer pesquisa acadêmica.
No meu blog, por exemplo, não posso, não quero, me fechar em disciplinas estanques.
Isso é simplesmente uma prisão cerebral que vai de encontro a meu jeito de pensar e a expressar o que tenho visto por aí.
A separação de disciplinas mais turva, do que ajuda.
E aí?
Não posso seguir uma linha, método, escola, pensador, já que venho romper, esse é meu claro propósito: ajudar a mudar.
Quer um exemplo?
A comunicação separou-se da informação quando criamos a escrita há 5 mil ou 4 mil anos.
Se eu estivesse estudando naquela época (que não tinha o conceito de ciência, mas tudo vale como exemplo) seria um especialista em info-comunicação.
Nunca de informação. Ou de comunicação.
Sem separação alguma.
A divisão foi feita depois disso, principalmente quando o papel impresso se disseminou, a partir de 1450.
Hoje, quando estão, de novo, se encontrando na rede digital, não tenho base teórica para desenvolver uma tese sobre comunicação + informação.
Estamos começando a repensar isso.
E se isso fosse fato em qual escola poderia se desenvolver?
Numa tese formal, perderia tanto tempo fazendo essa junção dificilmente aceita por uma banca, pois teria furos teóricos gigantescos, do ponto de vista das regras atuais.
É algo que vai levar um certo tempo para haver a junção de novo.
É um trabalho coletivo de muita gente, mas que tem que começar com uma faísca, uma intuição que possa direcionar alguns trabalhos em uma nova direção.
Tais faíscas acabam por não acontecer, ou acontecem mais lentamente, pois o tipo de perfil que as provoca tem mais dificuldade de encaixar tais temas em teses.
Como arriscar a temas inovadores é complicado numa banca, opta-se por trabalhos mais conservadores.
E todo um conjunto de linha de pesquisa continua a caminhar em paradigmas completamente equivocados.
Principalmente em momentos de ruptura.
Mas se a hipótese é relevante e tem gente mais capacitada que eu para fazer algo assim, mais metodológico, o blog serviria de ponto de encontro e debate, sendo útil para todos.
Um levantador de intuição.
Quanta e quantas teses estarão sendo feitas numa direção equivocada, diante do novo fenômeno?
Quanto tempo está se perdendo separando algo que vai ter que se juntar?
É preciso acolher mais os intuitivos e dar voz para poder criar novos rumos?
Reconhecer esse tipo de cognição e forma de expressá-lo como um perfil válido e FUNDAMENTAL para ajudar a Ciência a economizar caminhos.
E discutir suas ideias para que elas se aprofundem cada vez mais!
Hoje, essas pessoas estão afastadas da academia, nem vão lá, não podem ser citadas, não são consideradas como insights válidos.
Triste e ineficaz.
Ou seja, um blog é um espaço privilegiado para lançar provocações, recriar discussões que a academia não tem condições de dar hoje sustentação, mas deveria, pois é dessas intuições que muitos novos pesquisadores poderão se inspirar para fazer pesquisas em outra direção.
Seriam pré-hipóteses.
É um novo tipo de escrita mais livre e necessária, sem amarras.
A ciência na sua sabedoria deve acolher, de forma criteriosa esse tipo de colaboração.
Esse espaço permite que questões sejam lançadas na sociedade e que possam inquietar pessoas que podem, a partir disso, começar a pesquisar de forma diferente não eliminando outras formas, válidas para outras necessidades.
- Um blog, assim, seria aprovado como um passo para ser doutor, pela relevância das inquietações que provoca e as intuições que levanta;
- Os artigos, de quem optar por isso, pelas consolidações preliminares nessas novas intuições;
- E as teses, de quem queira, para comprovar essas consolidações dos artigos numa pesquisa mais aprofundada.
Tudo opcional, conforme cada perfil, área, necessidade, etc….não é regra, camisa de força, mas passando por bancas, com critérios bem estabelecidos para cada caso.
A ciência se expande e não encolhe!
Assim, ajustaríamos a academia a diferentes perfis de pessoas e necessidades da sociedade, economizando tempo para se chegar ao propósito final: ajudar a sociedade a lidar com seus problemas, não esqueçamos desse objetivo!
Todos economizam e talentos são potencializados naquilo que são mais fortes.
Faz sentido para você?
Para mim está, por enquanto, fazendo – e muito.
Você pode dizer:
Nunca vão aceitar um troço desses!!!!
Pode ser, mas temos um grande aliado nessa luta:
o tempo e a necessidade humana.
Que dizes?
Nepô, acredito que não só a academia precisa evoluir, mas todo um bloco da sociedade que teima em ficar parado frente as mudanças.
Você colocou no texto:
propósito final: ajudar a sociedade a lidar com seus problemas, não esqueçamos desse objetivo!
Mas acho que hoje, em geral, a academia ainda está voltada para atender ao ego e não a sociedade.
Abraços
Roberto,
Pois é os egos nas torres de marfim, mas vamos há cada vez mais gente insatisfeita com isso, aposto nessa direção, valeu visita.
Jura que demoram tanto tempo para se publicar um artigo?? Não sabia… Eu acho que blogs são ferramentas úteis para disseminação de ideias, pensamentos, e acho que sim, eles poderiam ser utilizados na defesa de uma tese. Afinal, é uma plataforma assim como papel, e diferente das “X” cópias que você imprime para a banca ler, a internet possibilita que X elevada a décima potência (exemplo) tenha a opção de ler!
Uma coisa bacana que o blog permite é acompanhar a construção de ideias, evolução de pensamentos e de história de uma pessoa. Por isso, eu acho que na verdade o rascunho é o texto final. Por mais que aquela idéia publicada há anos não tenha mais identificações com o seu pensamento de hoje, ela faz parte de você. Porque para chegar aonde está hoje, vc passou por diversas fases, momentos, situações, e assim com não podemos esquecer da história da sociedade, para tentar analisar e entender o futuro, não podemos esquecer nosso passado para seguir adiante.
beijos, Júlia
Julia, o blog, então, seria uma das expressões do pensamento líquido, concordas? Valeu comentário, vou twittar, parte dele, ainda hj, bjs. N.
retwittei 😉
Nepô, ler esse artigo me fez lembrar das minhas inquietações sobre fazer ou não mestrado. Quando tive essa dúvida, optei por uma Pós-graduação, na qual foi seu aluno. Era mais prática, me poria em contato com o mercado e me atendeu bem. O mestrado não foi descartado, apenas adiado. Mas me incomoda demais essa rigidez acadêmica em diversos aspectos, que vão da forma das teses aos temas escolhidos, uma vez que em muitos casos, devem ser amarrados com a linha de pesquisa do orientador. Será que em um mundo com tantos temas nos rondando ao mesmo tempo, ainda faz sentido fechar anos de estudo a um tema e a uma forma de pesquisa? Por mais que entenda o valor de metodologias, duvido muito disso.
Mas por outro lado, mudar isso tem a ver com mudar o sistema de ensino, a percepção do pPel do professor, seja ele atuante em uma escola, graduação, mestrado ou doutorado. No fim das contas, são todos professores, que ainda estão muito longe de mudar a dinâmica das salas de aula.
Rafael, acho o mestrado uma boa, mas vai fazendo a reeengenharia, começa por um bom orientador e depois escolhe o curso….abraços, Nepô.
[…] Acredito que um doutorado pode ser feito com artigos e até com um blog, como já defendi por aqui. […]