A Web 2.0 deu ao usuário poder de mídia – Caio Túlio Costa – da coleção;
Resumo: analiso a crise egípicia dentro do contexto das macro-mudanças na ecologia informacional, fruto do crescimento da população. Afirmo que as ditaduras serão cada vez mais incompatíveis com um mundo em rede digital, pois mais gente no mundo leva todas as sociedades para a demanda da inovação, que consome liberdade.
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Egito: há um reajuste tectônico produtivo, devido ao aumento da população global. A rede é parte disso: http://bit.ly/fqsNzN
Egito: não há mais espaço para ditaduras num mundo que precisa alimentar 7 bilhões de habitantes: http://bit.ly/fqsNzN
Egito: o mundo 2.0 precisa inovar, ditaduras são contra-producentes: http://bit.ly/fqsNzN
Toda sociedade vive num equilíbrio tênue.
Um equilíbrio, na verdade, é um desequilíbrio trabalhado, desenvolvido, através de um processo dinâmico de ajustes e acomodações de todos os grupos heterogêneos, que convivem sobre o mesmo “teto”.
Podemos dizer que um ambiente social tem alguns elementos básicos e fundamentais para que uma sociedade “funcione”.
A economia, que envolve o ambiente de produção, que deve conseguir resolver os problemas básicos de seus habitantes (alimentação, transporte, moradia, saúde, educação, etc), seja público ou privado, ou uma inter-relação dos dois.
Esse ambiente produtivo, coração da sociedade, é tomado por um grupo, que passa a ter o direito de explorá-lo.
O poder, na verdade, é o poder de vender produtos e serviços para manter a sociedade viva.
E a sociedade aceita, pelo convencimento ou pela força que um Governo assuma, representando esse poder de produzir.
E para isso cria-se um ambiente político e um aparato repressor, com o qual a sociedade aceita/admite/se conforma às regras do jogo.
Na argamassa dessa construção está o ar, o sangue, o cromossomo desse equilíbrio que é a informação, que circula para manter a sociedade operacional.
Quem quer ou estar no poder precisa controlar a informação que rola.
Precisa definir, redefinir e ir ajustando o que é o “senso comum vigente” da dada sociedade, criando filtros eficazes para que a população se convença que está tudo bem, melhor não fica e tudo que está aí é isso mesmo.
O lado Matrix da vida é uma construção bem trabalhada dos filtros informacionais.
Convence-se, através dos meios de informação social, ao longo do tempo, que aquela sociedade é a ideal, a melhor para todos, mesmo com o que se vê, se escuta, se sente, etc.
É um conflito entre o que se diz e o que se vê.
Como no Brasil ou em todos os países do mundo.
Vais se convivendo com a realidade x a ilusão.
Essa é a base de qualquer sociedade, independente que ideologia esteja no poder – um desequilíbrio equilibrado por essas forças que regem sua dinâmica.
Não há sociedade sem poder, sem controle da informação, sem produção.
Estes elementos se arrumam de tal forma que qualquer mudança substantiva ou radical em um destes elementos vitais, pode alterar o castelo de cartas, exigindo um novo re-equilíbrio em novas bases.
Os mais comuns:
- Um novo líder com discurso e visão diferente, com capacidade de mobilização;
- Uma grave crise econômica.
- Um terremoto.
- A morte do rei (como é o caso do estado de saúde de Fidel em Cuba, por exemplo)
São elementos clássicos que desequilibram o que está aparentemente, momentaneamente, conjunturalmente, equilibrado.
O século XXI traz um novo tipo de ajustes global para todas as sociedades do planeta, a partir de uma causa (o aumento da população) que nos leva a uma consequência (uma nova plataforma de informação).
Esses dois fatores criam um novo e tão profundo desequilíbrio, que passamos a construir uma nova sociedade.
É um macro-ajustes civilizacional.
Estamos vivendo, assim, um macro-desequilíbrio global da ecologia da informação e não temos tido o cuidado de analisar isso com mais carinho.
Nossas mentes não estão preparadas para tal ruptura.
Vejamos.
Ao longo dos últimos séculos operamos no ambiente informacional de certa forma estável, da mídia impressa e depois radiofônica e televisiva, sobre uma plataforma de comunicação vertical e unidirecional, que estruturou toda a sociedade a sua imagem e semelhança.
O poder vigente se baseou nesse suporte informacional para dominar o poder e os meios de produção e vice-versa.
Primeiro, através da consolidação do poder, através do aprendizado do uso e do controle dos filtros dessas mídias, que rodavam sob essa a plataforma unidirecional.
Estamos vivendo uma mudança nessa base informacional, que gera um desequilíbrio nessa fórmula é o crescimento populacional.
Multiplicamos de 1 bilhão de habitantes em 1800 para 7 bilhões em 2010, ou seja, crescemos 7 vezes em 200 anos.
Essa nova população mais numerosa empurrou o problema de sustento para os setores produtivos, que precisaram inovar acima de tudo para fazer mais com o mesmo, a custos razoáveis e globais.
Ou reiventamos formas de produzir de forma massificada ou não vamos dar conta!
Por sua vez, para reinventar é preciso inovar e para inovar é preciso liberdade para criar, interagir, conhecer, aprender, reaprender.
E aí surge um impasse.
O poder vigente precisa controlar a informação, mas para inovar precisa descontrolar a informação.
Um paradoxo imposto pelo salto demográfico.
Não se consegue manter o poder com o controle informacional vigente e aí vem a Internet como uma plataforma (e não uma mídia) para estabelecer um novo patamar de troca informacional.
E é este o papel da nova ecologia informacional – vinda com a rede digital – uma base nova de troca de informação mais horizontal, portanto, mais dinâmica para permitir que o mundo continue a existir com mais gente.
Assim, há uma relação vital entre população – produção – inovação e informação.
O mundo está se adaptando ao novo número de habitantes em todas as frentes, vide ecologia e novas perspectivas do clima, e também na economia e na política, além da religião, costumes, hábitos, relações, etc.
Ditaduras – como a egípcia e similares – são cada vez mais anti-produtivas num mundo mais populoso, que necessita inovar.
Assim, a Internet surge e ganha a adesão que ganhou, (já são quase 2 bilhões de usuários, em menos de 20 anos de existência) em função de criar uma nova plataforma, uma nova ecologia informacional mais veloz, menos burocrática, mais compatível com a velocidade de inovação que 7 bilhões exigem.
Da mesma maneira que ocorreu com o surgimento da prensa, em 1450, quando houve outra explosão demográfica, as estruturas de poder rígidas e fechadas são abaladas por novas, pois o controle informacional era a base para a sua manutenção.
O feudalismo não era viável com a nova população européia.
Ou seja, como 7 bilhões de almas se correr o bicho 2.0 pega, se ficar, come;
Ditaduras são basicamente burocráticas, não só em países, mas em organizações e impedem a inovação, a produção melhor e mais descentralizada.
Essa falta de liberdade é incompatível com a nova velocidade circulante, pois as pessoas querem melhorar, ter mais qualidade de vida. E conseguem ter acesso a como as outras regiões vivem e inovam.
É um conjunto de saber e querer, que forma uma rede de mudanças global, assim, como ocorreu com a prensa e os novos modelos de poder que vieram daí, tal como os ideais franceses e americanos de liberdade.
No Egito, como ocorrerá em Cuba e na China, Irã e Coréia do Norte, haverá a necessidade de ajuste de velocidade com o planeta, tanto de produção, como de inovação, baseado no novo ritmo do mundo em rede digital.
A troca de mensagens, twitter, redes sociais, etc são apenas um pedaço do ambiente como um todo.
Tal reequilíbrio se dá, como ocorreu no Egito, a partir de um elemento comum, um cidadão que se revolta por não aceitar mais o estado policial.
A novidade é a rede digital que propaga, ao mesmo tempo, vem cercada de comentários e a possibilidade da rápida mobilização.
É a ponta do ajuste.
O poder não controla mais a informação, como fazia antes.
E isso desequilibra o que era aparentemente equilibrado.
O desequilíbrio se estabelece a procura de um novo equilíbrio, a ser construído.
O que o mundo assiste é um reajuste tectônico produtivo do planeta, com viés informacional, que – no caso no Egito e arredores – é um ajuste global ao novo tamanho da população, no qual ditaduras são incompatíveis, não por questões apenas políticas, mas por inviabilidade de atender à demanda da nova população.
Novas bases estão sendo firmadas, inclusive, nos estados ditos mais democráticos, no coração inclusive das alas mais conservadoras, as próprias organizações, que agora querem inovar por necessidade competitiva.
Esse é o DNA do novo mundo 2.0, nem melhor, nem pior que o anterior, mas mais equilibrado com o tamanho da população atual.
É uma desentermediação geral que nos leva ao equilíbrio 2.0, num mundo populoso e menos burocrático, obviamente, com novas formas de poder e também de controle da informação.
Constrói-se, aos poucos, outra ilusão de senso comum.
Assim caminha a humanidade.
Vivemos algo similar à passagem da monarquia para a república.
Um rearranjo global do poder.
A região que não se adaptar ao novo ritmo vai passar fome, bem como empresas que não aderirem, vão fechar, grupos, pessoas, etc….
Outros ajustes virão, sendo a rede, apenas o canal e não o fato em si.
Temos que ver o ambiente como um todo, tendo como fator de desequilíbrio macro o aumento da população e todo o resto consequência disso, incluindo a rede digital.
É isso.
Que dizes?
Acredito que estamos vivendo um momente histórico, onde o Egito saiu na frente e iremos estudar em um futuro breve , como fato de mudança.
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Ótimo post Nepô… a frase sobre o equilíbrio como um desequilíbrio trabalhado, foi genial! Eu diria que essa frase rende outro post, rs.
Nessa frase, eu também li que nós também, como indivíduos, somos repletos de desequilíbrios moldados pelas caixas, alguns um tanto mais confortáveis dentro do molde e outros um tanto instáveis nessa condição. Afinal, não seria o fato de vários indivíduos se incomodando e saindo do equilíbrio, o estopim para o desequilíbrio coletivo? rs… Abração.
Sarah,
essa ideia de desequilíbrio construído é parte de uma mudança grande na minha maneira de pensar, pois vendo o mundo desse jeito, vemos que tudo é um ciclo e o que é possível é melhorar taxas, reduzir o sofrimento, mas nada garante que amanhã as taxas não aumentem mais, ou diminuam.
Viver é administrar taxas.
Até conversando com uma amiga em comum, ela disse:
“Não há saída para o ser humano”.
Na verdade, o ser humano é uma taxa em equilíbrio, com fatores externos aumentando ou reduzindo esta taxa.
Pode-se dizer que existem fatores externos individuais e coletivos.
Uma pessoa, seja ela quem for, acho eu, é fruto do amor/desamor herdado, que causa problemas afetivos.
(Somos afetos com casca.)
Administrar esse afeto/desafeto recebido pela família + sociedade é individual.
E o grupo todo, um país, também tem seus equilíbrios construídos.
No caso do Egito, temos, como vemos aqui no Brasil também, poderes constituídos que se estabelecem e não tem (ou muito pouca) regulação social.
Com o tempo, quem está no topo desse poder, transforma o que deveria ser fim vira meio e vice-versa.
O estado passa a ser Eu-stado.
E quem está no poder defende os seus interesses de forma cada vez mais distante da maioria, isso é típico de ambientes de poder que se perpetuam sem oxigenação, vide nossas universidades, congresso, etc, obviamente cada um de forma diferente.
O que há de novo – e isso é realmente novo – é o fato de que no desequilíbrio construído o fator nova ecologia informacional tem mudado e permitido uma oxigenação social.
O poder se estabelece pela força ou convencimento.
O convenvimento é feito, através de canais de comunicação, que trafegam informação/desinformação.
Quando esses canais são rompidos e oxigena-se os pontos de vista, o que estava em equilíbrio construído, ou quase desequilíbrio, de anos de autoritarismo se rompe.
Ou seja, já havia a gasolina, a nova ecologia informacional foi apenas o fósforo.
O problema que a população também não tem maturidade para viver essa nova ecologia, o que implicará em um amadurecimento geral para se viver em outro ambiente, no qual se tem mais direitos, mas se incorpora também mais deveres.
E um povo mais infantilizado acha que só tem direitos (apesar de não tê-los)…do mesmo jeito, de forma invertida, do que o ditador que cai.
(idem no Brasil)
É um paradoxo entre maturidade com deveres e imaturidade com direitos.
Um país mais maduro precisa que todos se sintam um pouco sendo governo e acompanhando seus passos.
E isso é a grande dificuldade que temos pela frente, pois a inércia e os problemas afetivos individuais herdados em anos de autoritarismo não se resolvem de uma hora para outra, por mais tecnologia do diálogo que tenhamos.
É isso,
que dizes?
beijos
Nepô.
Estou apoquentado com a espontaneidade dessas mobilizações, sabe? Fico me perguntando até que ponto os adversários políticos de cada ditador não estão se aproveitando da madeira seca e do sol para soprar e atiçar o fogo entende?
No final de tudo o povo acaba apenas nas mãos de um novo poder que sabe disfarçar melhor a ditadura.
Talvez eu esteja me esforçando demais para não ser um tecnotimista 🙂
Roney, você disse:
Bom, voltando ao tema dos equilíbrios, os países árabes estão estabelecendo um novo poder, a princípio, mais aberto e democrático do que o anterior.
Não há sociedade sem poder e não há poder que não deva ser fiscalizado. Para isso, as sociedades devem amadurecer, seus membros devem assumir mais deveres e direitos, deixando uma certa infantilização.
A oposição está por trás disso? Claro que está, é uma força válida, uma força desequilibradora, que tem agora o poder de um novo canal de informação/comunicação.
Vai se estabelecer nova ditadura? Acho pouco provável, mas serão governos ainda quase absolutos, pois para que haja mudança mais radical é preciso um amadurecimento das forças da sociedade que não consigo ver nem lá, nem aqui no Brasil, nosso Egito disfarçado.
A rede estabelece novos canais, mas não consegue o amadurecimento das pessoas, que vem com o tempo e o exercício de tirar e colocar pessoas no poder, via democracia.
Espera-se que os canais fiquem abertos, pois esse processo, sem dúvida, se acelera…
É isso, que dizes?
Grato por visita e comentário,
Nepô.