O professor é incentivado a tornar-se um animador de inteligência coletiva de seus grupos de alunos em vez de um fornecedor direto de conhecimentos – Pierre Lévy – da coleção;
Não foram poucos os artigos que saíram recentemente sobre Inteligência Coletiva. Destaco este, excelente.
Está caindo a ficha que a diferença do ser humano mais do que a informação e o conhecimento de forma isolada e individual, se deve a sua capacidade de interagir e aprender em grupo.
Quanto mais Inteligência Coletiva geramos, mais capacidade temos de inovar e prosperar e vice versa.
Bate com o que percebo no meu dia-a-dia.
Ou seja, o que muda é a soma produtiva dos cérebros e não um sobre os demais.
Tão óbvio!
Desde que adotei o modelo 2.0 de dar aulas, mais tenho me enriquecido como pessoa.
Vamos refletir juntos.
Imagine um professor que chega em sala de aula com seu Power Point e apresenta um conceito qualquer e os alunos assistem e vão embora sem nada falar – para exemplificarmos um caso bem extremo, porém, infelizmente, não tão raro no Brasil.
O professor sai da sala de aula com o que trouxe, digamos “60 reais de conhecimento”.
Pode ser que falando sobre o tema – pode ser – tenha sacações umbigais, pois o monólogo também auxilia a pensar e – nessa hipótese – imagina-se que ele saia com “70 reais de conhecimento”.
Ganhou 10 reais de conhecimento em uma sala de aula.
E os alunos que não dormiram, suponhamos, que ganharam os tais 60 reais.
Suponhamos agora que o coordenador de inteligência coletiva entra em sala de aula e pergunta o que a turma pensa daquele conceito e colhe pontos de vista.
De cara, ele aprende como é o senso comum da turma sobre o tema, sobre o qual tem mais tempo de discussão.
Ou seja, ele aumenta o seu cérebro + todos os outros que estão em sala de aula, que compartilham o senso comum de todos.
É um ganho enorme, pois, de cara, o coordenador já sabe o que vai falar para dar um upgrade cognitivo na turma e o que não precisa mais dizer, pois isso todos já chegaram.
Ganho de tempo intelectual para todos + motivação.
Cada novo cérebro, um discurso diferente um novo ponto de vista, quanto mais diversidade exitir ali, mais a turma vai crescendo.
E quanto mais tivermos pensadores incomuns na turma, mais ainda vai se ganhando pontos.
Só naquele momento, digamos que ele ganha uns 160 reais de conhecimento, pois passa a saber como os alunos pensam e como ele pode dar um upgrade naquela visão.
Não perde tempo falando no que é consenso, mas só naquilo que aparece como questão.
Santa economia intelectual!
Começa o debate e ele é obrigado a ir revendo o seu discurso no processo, a partir dos pontos de vistas distintos, o que vai alargando a sua base de alternativas, o que daria talvez mais uns 60 reais de conhecimento.
Por fim, pode acontecer, que algum aluno venha com uma questão nova, (perguntas novas são tão boas!), o que já vale mais uns 60…
E ainda alguém que mostre uma contradição na lógica do incentivador, o que vale 120,00, pois o participante já deixa de ser participante que “aprende” e ensina algo também.
- Assim, ao final da sala de troca, o professor tradicional saiu com 70,00.
- O incentivador de Inteligência Coletiva entra com 60 + 160 + 60 + 60 + 120 = 460 reais de conhecimento !!!!
Some a motivação de dar uma aula sempre diferente, podemos ainda acrescentar mais valor.
O mesmo se diz da turma, que entra também com a sua visão e sai enriquecido com todos os cérebros presente e não só o do professor, ganhando ainda a visão dos colegas, pois se aprende bastante com as dúvidas e questões dos demais.
Por isso, o Power Point é um assasino de Inteligência Coletiva.
O que nos leva a repensar conteúdos fechados, saltando dos códigos fechados da Idade Mídia para os códigos abertos da Idade Digital, que falarei em post ainda esta semana.
Por isso, um computador em sala de (j)aula de participantes calados é uma desperdício intelectual.
E por isso, temos que rever o jeito de dar (j) aula com incentivadores de inteligência coletiva no lugar de professores.
Concordas?
Este método é muito enriquecedor e não é monótono como os métodos convencionais, mas creio que não se aplica a todos os tipos de matérias. Além disso, é sempre bom ter também um material de referência para consultar depois e, assim, reter melhor o conhecimento. Abraços.
Suraya,
me cite uma matéria em que um processo de co-criação entre os participantes não seria adequado?
O que me ocorrer são para estruturas fechadas, que implicariam em passagens de procedimentos operacionais, do tipo, ensinar a mexer num programa de computador, ou procedimentos estabelecidos sobre determinado procedimento.
Nestes casos, caberia perguntar se é preciso os alunos estarem juntos…não poderiam estar a distância?
Mas quando penso em conceitos abertos, não me ocorre nada que não coubesse.
Note que as disciplinas hoje nas escolas são fechadas, por causa do currículo que vem de cima, algo como a matemática é um livro, fórmulas, mas não uma Ciência em aberto, avançando….o mesmo geografia, histórica, etc…
O que sugeres?
Fiquei curioso…queria pensar em exceções para sair de um radicalismo que possa estar entrando,
Grato pela visita
Nepô.
Este método seria educação. Entretanto, como você disse, temos um currículo que vem de cima para baixo e todo o “ensino” pautado em uma estrutura totalmente fechada. É por isso que não dá para falar em “educação” ou “ensino”. Temos doutrinas. E não poderia ser diferente em uma sociedade pautada num modelo em que se deposita a liberdade de governo nas mãos de grupos que supostamente “sabem o que é melhor para todos”. É uma estrutura cristã, política, corporativa e – em última instância – social. O que são os professores de ensino fundamental (infantil, médio e muitas vezes universitário), eclesiásticos, governantes, gestores, etc? Por uma questão de ser politicamente corretos, falamos em “educação” e “aprendizagem”.
Seria muito “feio” mostrar como as pessoas depositam suas inteligências (e liberdades) em “power points”. E eu não falo que existam “Grandes Inquisidores” (o do Dostoieviski mesmo) pipocando por aí. O pessoal do power point é fruto dessa estrutura e só a repete inconscientemente.
Esse é um assunto que dá muito pano pra manga. Gostaria de bater esse papo com você!
Carlos, pensei mesmo nas disciplinas “fechadas” (exatas) como matemática, programação, entre outras. Nessas matérias, um quadro negro ou um powerpoint ajudam muito a passar o conteúdo. O encontro presencial facilita o esclarecimento de dúvidas em relação ao ensino à distância.
Em relação às disciplinas abertas, tais como história, geografia, literatura, filosofia, sem dúvidas, esse modelo 2.0 é muito mais produtivo para alunos e professores. E fica melhor ainda quando os alunos lêem textos de referência antes das aulas, para que possam agregrar com mais informações. Tive aulas assim na pós-graduação e adorava.
Abraços, Suraya.
Jack (madre superiora) sim, estamos em uma sociedade do código fechado e os professores apenas o transmitem. Mudar isso passa por hackear o código, vou falar disso no post de amanhã.
Suraya, mesmo no caso dos códigos e em matemática, será que a ciência exata não está também em movimento? E no diálogo não se aprenderia novas formas de ensinar o que está, digamos, consolidado?
Valeram as visitas,
Nepô.
Uma frase que cai bem:
Professores preferem dar palestras em suas classes, o que priva os alunos de experiências essenciais para o aprendizado da administração, da liderança e do empreendedorismo do século XXI – Lee Shulman;
Hahaha… Me descobriu! Poxa Vida! =)
Fico no aguardo do novo post. Fiquei curiosa, justamente por duvidar que muitos estejam dispostos a fazer todo o esforço que este “hacking” demanda. Isso porque (parece que) vivemos numa especie de momento fordista, em que ninguém tem muito tempo para reflexões, só para trabalho e um pouco de repetições aleatorias de certos aforismos (é a filosofia só para causar impacto e “pagar de gatinho”). É aquela história: estamos numa era em que as pessoas consomem Nietzche como quem toma uma Coca Cola. E tudo em 140 caracteres.
Jackie, adorei:
estamos numa era em que as pessoas consomem Nietzche como quem toma uma Coca Cola. E tudo em 140
twittei isso, valeu a revisita…
Hackers neles!
😉
Ao mesmo tempo que Powerpoint é um grande aliado meu, tenho medo dele nas mãos dos outros. Felizmente, por pouco não peguei a época da graduação com Powerpoint, mas peguei a pós. Larguei de uma por achar que aquelas aulas não precisavam de professor, bastava o Powerpoint e se eu quero ver Powerpoint, vou ao SlideShare.
Ótimo artigo pra refletir, guardei o do WSJ pra ler depois.
Abraço.
[…] são fundamentais, baseie seus argumentos nisso. Obrigado ao professor Carlos Nepomuceno pelo interessante post (em que descobri o […]
Sylvio,
Concordo!
acho que o ppt tem sua utilidade, mas não como é usado hoje…
abraços,
Nepô.
[…] (Falei mais sobre isso aqui.) […]