O mundo de hoje é um mono-construtor de verdades verticais sólidas. Há o Olimpo, um sótão certificador que te obriga a passar por ele para poder ser um transmissor da verdade autenticado. Precisamos ir para um movimento inverso de uma um ambiente poli-construtor de verdades horizontais líquidas. E isso implica uma inovação radical do ser humano. Precisamos criar métodos para acelerar e qualificar esse processo!
Estamos, assim, saindo de uma ditadura cognitiva produtora de verdades de baixa qualidade e, por consequência, de tomadas de decisão de baixa qualidade também.
Um movimento, dentro do conceito do pêndulo cognitivo, de contração para expansão cognitiva.
As decisões tomadas hoje pelas organizações de plantão são de baixa eficácia e mais destrutivas do que construtivas, pois são voltadas para elas mesmas, em um fenômeno que chamei de narcisismo organizacional.
Como enfrentar isso, já que sem verdade certificada a sociedade não vive?
Isso nos leva a algumas ideias filosóficas relevante que voltam com força:
- No campo epistemológico – da verdade sempre em construção e sempre em interação, histórica, contextual e consensual, provisória;
- No campo ético-existencial – do humano sem natureza, sem uma essência, que se constrói a si mesmo, condenado à liberdade (no estilo existencialista de Sartre) de construir a si mesmo. Um ser muito mais ético do que moral! (Veja neste vídeo aqui a diferença das duas.)
As duas linhas de raciocínio nos levam à procura de mais autonomia do humano diante das autoridades, do questionamento das morais que eles fabricam, da procura pela independência da aceitação do grande outro, de superar o medo ser ser autor, mesmo que provisório de sua verdade, de superar a vergonha de ter a sua opinião, mesmo que provisória, sobre um determinado assunto.
Obviamente, que isso tem que ser algo eficaz (do ponto de vista prático) e construtivo (do ponto de vista ético). E isso nos leva à tese central do meu novo livro impresso da chegada a uma nova Governança da Espécie, que é construída, a partir da comunicação química das formigas, via rastros digitais, que permitirá que essas verdades individuais possam fazer sentido na interação de massa.
O que quero avançar aqui, entretanto, é como isso impacta em cada um.
Assim, para que essa nova forma de produção da verdade ocorra é preciso assumir que cada um tem um aplicativo dentro de si que “produz verdades provisórias”. E por isso é fundamental que se desenvolva a diferença entre percepção e realidade, como base para esse processo individual.
E, a partir daí, assumir que ela vai sofrer revisão, partir para uma nova versão, a cada interação. E que a sua percepção da verdade é como se fosse um software, que tem bugs e está em permanente estado de manutenção!
O que podemos dizer que PARA MIM, neste atual momento, do que consegui apreender a minha percepção daquela verdade é tal estágio, que deverá ser confrontada com a de outros.
A verdade será, assim, um coletivo de percepções que se encontram, mediadas por alguma mídia digital (que tenha algoritmos cada vez mais eficazes) para nos ajudar a tomar decisões coletivas.
Um cidadão sem uma percepção é um cidadão que não participará do jogo, pois será passivo. Teremos que reaprender a interagir de forma ativa.
E isso implica mudanças radicais em algumas áreas subjetivas:
- – a passagem de um ego que não dialoga para um que dialoga;
- – a mudança radical entre “eu tenho a verdade”, para “eu tenho uma percepção”;
- – eu consigo saber sozinho para “só avanço quando interajo”.
E isso nos leva para novos valores desse processo, pois preciso ter critérios para saber se a minha verdade melhorou. E aí a medição se dá em dois níveis:
- Do ponto de vista prático – a tomada de decisões que você fez ou fará está mais eficaz?
- Do ponto de vista ético – gera construção ou destruição para mim e para o coletivo?
(Complemento este texto com este áudio.)
É isso,
que dizes?
Versão 1.0 – 04/11/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação.
[…] modelo mais líquido, de verdades como um software, nos leva para um mundo sem gabarito, no qual não temos mais uma tampa da caixa para fazer o […]