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(Lacanianos de plantão, o conceito de grande outro aqui não é o de Lacan!)

Quanto mais temos a concentração dos canais, mais essa necessidade de reconhecimento estará ligado a um centro e menos às pontas, criando uma neurose coletiva de querer um reconhecimento de cima que não virá, pois a contração torna o grande outro cada vez mais narcisista, criando uma macro relação sado-maosquista.

Podemos dizer que desde pequenos queremos que alguém nos aplauda pelos nosso atos, desde subir uma escada, dar um mergulho na piscina a uma boa nota na escola.

Queremos ser amados e temos medo de não sermos.

Tenho medo, logo existo.

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Somos animais sociais extremamente carentes e dependentes do grupo, da sociedade.

Em uma taxa de equilíbrio melhor na sociedade, temos o mérito como algo relevante, pois quem tem algo a colaborar na sociedade será reconhecido por esta e vice-versa.

Para quem tenhamos uma sociedade meritocrática, entretanto, temos um problema de distribuição de canais e complexidade demográfica.

Se tivermos poucos canais e muita gente, começamos a ter uma concentração dos centros emissores da verdade e de tomada de decisões, que passam a ser os “carimbadores do mérito“, o que nos leva a um desequilíbrio do reconhecimento.

Será reconhecido, em um mundo de baixa meritocracia, aqueles que se renderam à verdade e aceitarem à tomada de decisão dos centros carimbadores do mérito.

E temos aí um movimento de baixa diversidade, da sociedade abrindo mão da singularidade de cada um e da diversidade social, gerando crises de tomada de decisão, pois cada vez mais as decisões serão tomadas por cada vez menos pessoas, criando uma espécie de poder absoluto.

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Individualmente, isso nos leva a procurar ser aceitos por esse grande outro para continuarmos sendo amados (e sobrevivermos) por causa disso.

Há, assim, a internalização de um grande outro (conceito importado e adaptado de Lacan) que está ali como uma fantasma na platéia que esperamos que nos aplauda ao longo da nossa vida.

E isso nos influencia o pensamento e ação, pois queremos ser aceitos por ele.

“Ter sucesso” passa a ser ser reconhecido pelo grande outro, ser aplaudido por ele.

O problema é que mais e mais o grande outro reconhecerá apenas aqueles que o espelham, criando uma neurose coletiva de rejeição de singularidade pela aceitação, criando um movimento massivo de objetivação dos sujeitos.

A neurose individual de não conseguir ser singular na sociedade será cada vez mais coletiva.

E isso vai variar de cada pessoa, mas sempre vai esbarrar nas baixas taxas sociais de singularidade, violentando a singularidade geral.

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Sim, queremos ter aceitação, mas precisamos ser aceitos por algo que seja singular e não nos violentarmos, evitando ser uma biruta de aeroporto, pelo vento alheio, no qual muda-se à procura do aplauso do grande outro.

Há muito de dominação nesse não reconhecimento singular, pois podemos notar que muito do que evitamos de procurar ser diferente é em função da dúvida desse aplauso. É preferível ser aceito pelo que querem que eu seja do que ser aceito pela minha singularidade existencial.

E, por causa, disso eu me adapto para ser aceito pelo outro, mesmo que não seja aceito por mim mesmo.

(Note que quando falo de singularidade não estou falando de uma pedra em que você definiu como singular, mas é algo líquido em que você trabalha o tempo todo para identificar seus talentos. Singularidade, assim,  não é algo fechado, mas é algo que é uma eterna procura e, como sugere Clóvis de Barros e Filho passa pela procura filosófica da felicidade/eudaimonia)

Tais dramas humanos e universais, estamos descobrindo agora, variam conforme o pêndulo cognitivo.

  • Na contração cognitiva – teremos a centralização do grande outro, aumentando a taxa de dependência, reduzindo a diversidade e o estímulo das singularidades, pois há um centro cada vez mais forte e a aceitação vem desse lugar que só aceita aquele que se render a esta singularidade central, cada vez mais narcísica. O que nos leva a crise da baixa diversidade.
  • Na expansão – teremos a descentralização do grande outro, reduzindo a taxa de dependência, aumentando a diversidade e o estímulo das singularidades. O que nos tira da crise da baixa diversidade.

Hoje, estamos vivendo o fim do grande ciclo de contração cognitiva.

E é justamente por isso que vivemos em um mundo cada vez menos diversificado e mais massificado, pois estamos saindo da ditadura cognitiva do grande irmão, do grande outro, que só te aplaude se você se encaixar naquilo que ele determinou.

O movimento que visa acelerar a expansão cognitiva com qualidade deve promover o resgate da singularidade.

É isso,

Que dizes?

Versão 1.2 – 21/10/2013 – Colabore revisando, criticando e sugerindo novos caminhos para a minha pesquisa. Pode usar o texto à vontade, desde que aponte para a sua origem, pois é um texto líquido, sujeito às alterações, a partir da interação. 

 

7 Responses to “O grande outro e a contração cognitiva”

  1. Teresa Mafra disse:

    E é nesse ponto que eu retorno às nossas primeiras conversas no grupo de estudos, nas quais eu sempre falava da importância da singularidade de cada um para analisarmos o todo, a sociedade, porque esta é feita de vários indivíduos que, se por um lado apresentam-se na sua subjetividade, por outro querem espelhar-se, identificar-se com os demais das várias “tribos”.
    Em “O Mal-Estar na Civilização Freud, para explicar as causas do mal-estar do indivíduo, analisa a evolução da cultura, religião e dos fenômenos sociais e firmando com outras palavras o que Nietzsche já havia dito, fala dos instintos primitivos e do “choque” que o valor moral imposto pela cultura causa ao indivíduo afastando-o cada vez mais de si mesmo e de como a falta de reflexão sobre a influência cultural faz o homem agir como rebanho.
    Autenticidade, Identificação, frustração, são temas que caberiam por aqui.
    O que diriam esses grandes filósofos/teóricos da atual revolução cognitiva??
    Aplausos pra você, Carlos Nepomuceno!

  2. […] Normalmente, tendemos a querer ser e falar para aqueles 1% e ser aceitos por eles, como falei aqui do grande outro. […]

  3. […] ensino, quem escolhe o problema é o grande outro, que tem lá seus problemas e precisa que alguém se capacite a operar alguns botões quando […]

  4. […] Ditadura cognitiva e o ego infantilizado | Nepôsts – Rascunhos Compartilhados em O grande outro e a contração cognitiva […]

  5. […] seja, ele vai ser chamado de arrogante pelo GRANDE OUTRO, mas não pelo pequeno […]

  6. […] do humano diante das autoridades, das morais que eles fabricam, da independência da aceitação do grande outro, de superar o medo ser ser autor, de ter vergonha de ter a sua opinião, mesmo que provisória, […]

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