Quanto mais complexo for o mundo, mais as redes terão que ser flexíveis – Nepô – da safra 2011;
Versão 1.3 – 21/11/2011 – Ainda rascunho – colabore com a revisão!
(Texto faz parte do meu novo e-book – Gestão da Desintermediação – uma obra em progresso. )
O grande desafio que temos hoje é a a quantidade galopante de problemas versus nossa capacidade e tempo para gerenciá-los.
Continuamos a pensar na solução dos problemas com a mentalidade de uma cultura de controle analógica, quando temos novas oportunidades pela frente.
O Disque-denúncia do Rio é um exemplo típico, entre vários outros, usando ou não redes digitais, que espelham o mesmo desafio: muitos problemas e processos a serem gerenciados que exigem uma nova forma de solução, através da criação de novos canais de participação de quem vive mais diretamente o problema e é chamado a contribuir.
Desde 1995 no ar, o projeto já havia recebido, até a data deste post, 1, 5 milhão de denúncias da população do Rio de Janeiro, ver mais aqui.
Ou seja, por tendência, o ser humano quando se vê atarefado, tende a abrir mão de uma forma de controle antiga e passa para uma mais aberta por falta de opção, pedindo ajuda de mais gente para resolver o problema insolúvel.
Vivemos isso hoje na Internet, mas isso faz parte da cultura humana de resolver problemas cada vez mais complexos e sofisticados.
Nessa direção, podemos lembrar que numa biblioteca, até meados do século passado, era o bibliotecário que tinha a obrigação de saber onde estavam todos os livros.
Paul Otlet, no final do século passado, imaginou criar fichas catalográficas (3×5) como uma alternativa para que o usuário pudesse sozinho fazer a pesquisa para localizar o que procurava, aliviando, assim, a carga do bibliotecário e permitindo que mais gente pudesse saber onde estavam os livros, aumentando a eficiência das bibliotecas.
Assim, depois das fichas catalográficas a biblioteca comportava mais livros, sendo que o bibliotecário passou a exercer um novo tipo de controle informacional, abrindo mão de um certo poder em nome da eficiência, contando, com isso, com a participação mais ativa do usuário.
O movimento que vemos hoje com a chegada da Internet, assim, nada mais é do que um movimento, como detalhei aqui, da passagem global, de uma cultura de controle mais fechada e vertical (analógica), para outra mais aberta e horizontal (digital) pela falta de capacidade de continuarmos a resolver os problemas cada vez mais complexos (em qualidade e quantidade) do mesmo jeito.
Aumentamos em muito o volume de informações/processos em função do radical aumento da população, o que nos obriga a criar formas mais abertas de controlar processos.
Estudei na minha tese de doutorado teorias de Galileu e de um biólogo e matemático D’Arcy Wentworth Thompson que diziam que em qualquer sistema vivo quando se aumenta de forma substancial o número de processos a serem gerenciados o corpo que os administra tende a se adaptar e mudar de forma, pois se não fica obsoleto.
É preciso desenvolver, portanto, novas capacidades e, principalmente, inteligência para criar um dinamismo maior.
A física (e a ciência da informação também adotou) a expressão “entropia” que se caracteriza por esse impasse: algo que chegou a um ponto limite a uma crise sistêmica pelo aumento do volume de dados e processos a serem gerenciados e precisa de novas maneiras, metodologias e tecnologias para lidar com o mesmo problema.
Podemos dizer, então, que o principal impasse do novo século é a nossa capacidade cognitiva/afetiva de, primeiro, aceitação e depois adaptação à essa nova cultura de controle, pois se um elemento do sistema migra e descobre a fórmula nova todos os outros, por tendência, assim o farão por uma questão de concorrência.
Esse, entretanto, é um processo lento, pois as mudanças humanas mais difíceis são aquelas ligadas ao controle e, principalmente, os métodos de exercício de poder.
Podemos dizer que existe de um lado a necessidade das organizações, de quem tem o problema na mão de se abrir e do outro uma “latência cidadã” adormecida que gostaria de participar mais, mas não sabe como, ou quando tenta, é algo tão demorado, lento, caro que acaba por desistir.
São duas pontas que precisam se encontrar, que agora tem um local propício: a rede digital.
Clay Shirky, no livro “Cultura da Participação” criou a expressão “Excedente Cognitivo“, um ótimo conceito que nos ajuda a visualizar esse processo.
Shirky analisa que todos os movimentos que ocorrem na rede (Linux, Wikipédia e tantos outros) são frutos da dedicação de pessoas, que deixaram suas rotinas (principalmente o tempo livre dedicado à televisão) para que pudessem criar novas atividades, relevantes para a sociedade, juntos.
O autor defende que a rede é um canal muito mais barato para a criação coletiva e isso quando bem aproveitado é capaz de mudar rapidamente processos, que antes pareciam impossíveis de serem alterados em todos os campos, econômicos, políticos e sociais.
No mundo temos exemplos de tentativas de soluções coletivas para problemas complexos, tais como o sequenciamento de genoma, a cura da Aids, vacinas contra o câncer, desenvolvimento de uma enciclopédia livre, de um sistema operacional aberto, entre tantas outros.
Tais projetos são feitos em redes coletivas, que variam, conforme o engajamento de seus membros.
Podemos listar três estágios:
Redes de baixa adesão -Tais como amigos e seguidos/seguidores no Facebook ou Twitter, que apenas trocam informações sem criar maiores vínculos. Essas redes são apenas uma semente, um elo, em formação, que pode, o não, a partir de um determinado evento se transformar em algo mais poderoso, como uma passeata que começa e acaba, ou a criação de um movimento contínuo que visa mudar algo, tal como o Ocuppied New York, por exemplo;
Redes de média adesão – São desdobramentos de uma rede de baixa adesão que começam a criar um corpo, mas que não tem um projeto prático e objetivo de atuação e intervenção na realidade, porém já se aprofundam relações e cria-se laços mais estáveis, com reuniões mais frequentes, sejam presenciais ou a distância;
Redes de alta adesão – São aquelas que passaram pelos estágios anteriores e criaram um projeto específico de intervenção e atuam regularmente neles.
Agentes de mudança devem procurar diagnosticar o estágio da rede e tentar incentivar metodologias e tecnologias que levem à organização/sociedade à criação de redes de alta adesão em projetos concretos de trabalho, criando comunidades que promovam modificações da realidade que estava em “A” e depois da atuação do coletivo em rede passou para “B”.
As redes de baixa e média adesão são a semente para a criação da muda e depois da floresta.
No projeto, “Rio 2.0“, por exemplo, que estou fazendo com outros voluntários, estamos criando dois módulos.
Banco de problemas – com vistas a abrir uma rede de baixa/média adesão, que é uma troca de como o cidadão resolve problemas dos mais diversos, apenas uma troca de experiências entre as pessoas nessa direção, mas que chama pessoas para o projeto, porém não cria comunidades mais permanentes, a princípio.
E outra de média para alta adesão que é o amigo digital do bairro – uma pessoa ou um grupo de pessoas escolhe um micro-local dentro do bairro, de um banco de praça, a uma linha de ônibus ou uma escola para que passe a fiscalizar, cuidar, ajudar a melhorar, criando ações das mais variadas nessa direção, desde ações de apoio direto, dando aula ou levantando fundos para pintar a escola, por exemplo.
Seriam micro-associações-digitais do bairro, reduzindo o tamanho do problema para estas micro-iniciativas, que iriam compondo um grande quadro das várias intervenções, no qual a latência cidadã de cada um iria ganhando mais espaço, aproveitando melhor, de forma mais barata o excedente cognitivo.
O que é motivador é que cada um como pouco esforço consegue ver mais resultados e acaba se engajando mais.
Que dizes?
Olá, Nepô!
Acredito que investindo em educação/conscientização, estas ações propostas darão frutos em seu devido tempo de colheita!
Um exemplo destas ações é o site (meurio.org.br).
A rede engajaria muitas pessoas que não se vêem representadas pelos políticos e que possuem uma “ociosidade cidadã”.
Gostei e apoio !
Abraços,
Nilton Junior – MBKM – RJ
Leio esse texto hoje, três meses depois da primeira vez, e a visão é outra. Mais claro e de alta adesão. Parei na metade do texto para entrar no site da Fnac e comprar o livro do Clay Shirky. Agora volto para meus escritos. Logo te mando uma primeira versão de projeto.
Bjs!