Podemos dizer que há reflexão filosófica importante sobre o Sapiens no novo milênio, fundamental para poder entender nosso destino.
Se inicia pela distinção entre dois conceitos filosóficos relevantes para esse caso: essência e substância. Comecemos com essa premissa:
A espécie humana é a essência do que podemos ser. E cada ser humano é a substância daquilo que conseguimos ser.
A essência é a potência e os limites da espécies, até aqui: começamos aqui e daqui não passamos.
E a substância a capacidade individual de cada um de viver dentro destes imagináveis limites abstratos, a serem comprovados no concreto.
Os limites são dados por projeções filosóficas de até onde podemos ir e aonde não.
As mudanças que estão ocorrendo no novo milênio questionam nossa percepção do que, de fato, é a nossa essência – o que inaugura crise filosófica essencial.
A questão-mãe da filosofia precisa ser refeita:
Quem realmente somos? Qual é a nossa essência para que as pessoas possam pensar e agir dentro das respectivas substâncias?
Para ser bem mais pragmático.
A essência filosófica que um diretor de cooperativa de táxi tinha sobre a espécie (contida no senso comum) não permitiria que aparecesse um Uber.
O diretor da cooperativa de táxi achava que a espécie era muito menos mutante do que realmente é!
Assim, como ainda acham os políticos em Brasília.
Não se esperava que mudanças de mídia pudessem provocar determinadas alterações tão disruptivas no ambiente político ou nos negócios.
Isso é contra-senso daquilo que imaginávamos que era a nossa essência.
A ideia da essência do Sapiens – digamos a base de toda a cadeia de pensamento que se desdobra em questões filosóficas, teóricas, metodológicas, nos negócios, organizações, cosmovisões, crenças individuais – entra em processo de questionamento e dúvidas.
Definimos, no senso comum, a essência do Sapiens, antes da chegada do Digital, como: espécie cultural e que, em algum momento, se utiliza de tecnologias como sub-produto da cultura.
Sim, nossa essência já era consideradas pelos nossos antepassados como mutante, se comparada com outros animais, a partir da mudanças culturais.
Porém, a mutação humana promovida apenas pela cultura tem se mostrado falsa e nos leva a não compreender o novo milênio!
É preciso dizer que nossa essência é, sim, mutante, mas não é apenas pela cultura que podemos esperar surpresas. De tempos em temos, promovemos ajustes incrementais e/ou disruptivos em tecnologias, principalmente as mídias, que são o suporte aonde o ambiente cultural opera.
A diferença é que ações culturais são geralmente provocadas por pessoas e grupos de forma intencional. Há um movimento deliberado de levar de “a” para “b”, na maior parte dos casos.
Na massificação de tecnologias, principalmente das mídias, temos um caso de não intencionalidade, ou se quiserem um macro-movimento tecno-cultural não intencional.
As mídias, estamos aprendendo, não estão embaixo da cultura, dominadas por elas, mas são ferramentas necessárias para que possamos praticar a cultura.
Não existe, portanto, possibilidade de separar a palavra tecno-midiática-cultural do Sapiens.
Só conseguimos ser uma espécie cultural, pois somos uma espécie midiática, que utiliza tecnologias para produzir cultura.
A cultura e a mídia são duas partes do mesmo coração da espécie, dependentes uma da outra.
Não se pode analisar um coração apenas por uma parte, pois para existir e funcionar, precisa de ambas.
Ao defender que somos tecno-midiáticos-mutantes, defino que nossa essência é sujeita a alterações no tempo também por causa das mídias, que não são itens secundários, mas essenciais de quem somos.
O ser humano vive, assim, dentro de ambiente tecno-midiático-cultural, não apenas cultural. Isso faz parte integrante da nossa essência e não da substância.
A novidade do debate filosófico é admitir que, além das mudanças culturais, já admitidas, há na nossa essência mudanças esperadas nas tecnologias de maneira geral e das mídias em particular.
Na nossa essência somos espécie tecno-midiática-cultural, pois nossa capacidade de mudar nos permite crescer demograficamente e, quanto mais crescemos, mais tecno-midiáticos precisamos ser e inovar.
Se não incorporarmos os fatores tecnologias, mídias e demografia na base da nossa essência nunca conseguiremos definir bem a substância de quem somos e o que está ocorrendo.
Precisamos promover macro-ajustes filosófico. Sem ele, o novo milênio – afetado por tecnologias, novas mídias e novo patamar demográfico – jamais será compreendido.
É isso, que dizes?